Do Blog do Miro - 21/4/2012
Por Altamiro Borges
O chamado “deus-mercado” está preocupado com o resultado das eleições
presidenciais na França neste domingo (22). Das cinco pesquisas
divulgadas nesta semana, quatro apontam uma vitória apertada do
social-democrata François Hollande (PS). Ele deverá disputar o segundo
turno, marcado para 6 de maio, com o direitista Nicolas Sarkozy. Já o
candidato das forças de esquerda, Jean Luc Mélenchon, surpreendeu na
reta final da campanha e desponta em terceiro lugar – tornando-se o fiel
da balança no pleito.
Diante desta perspectiva
eleitoral, a elite rentista da França passou a adotar o discurso do
medo. Nicolas Sarkozy, o candidato dos banqueiros, atiçou a polêmica nos
últimos dias ao alardear que sua derrota agravará a crise econômica do
país, causando a “fúria dos mercados financeiros”. Na mesma toada, a
revista britânica The Economist, a bíblia dos agiotas internacionais,
publicou uma reportagem alarmista sobre os riscos da vitória de forças
políticas “contrárias ao mercado”.
Sarkozy desindustrializou e demitiu
Apesar do terrorismo do “deus-mercado”, os eleitores franceses parecem
já não confiar tanto no demagógico Sarkozy. Afinal, ele foi responsável
por conduzir o país ao desfiladeiro. Em 2012, o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) deverá ser de apenas 0,3% e a própria Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) já afirma que o
país está em recessão. Como consequência da desaceleração econômica, o
desemprego volta a crescer – devendo atingir 10,4% até o final deste
ano.
Segundo artigo no jornal Valor, a França passa por acelerado processo de
desindustrialização. “Entre 2009 e 2011, nada menos de 880 fábricas
foram fechadas e 494 começaram a funcionar. Ou seja, o país tem 385
fábricas a menos do que no começo de 2009... A França é agora o país da
zona do euro com a menor parte de valor agregado da indústria no PIB -
9,3% em 2010, comparado a 12,1% na Espanha e 18,7% na Alemanha. Entre
1980 e 2007, a indústria francesa perdeu 36% de seus efetivos, ou 71 mil
por ano... Somente nos cinco anos da Presidência de Nicolas Sarkozy, a
indústria destruiu 355 mil empregos”.
Um impulso à esquerda nas eleições
A campanha do social-democrata François Hollande centra-se exatamente
neste ponto. “A desindustrialização da França não é mais uma ameaça, é
um fato consumado”', escreveu recentemente. Ela não propõe medidas
radicais para enfrentar os graves problemas econômicos do país, mas
prega mudanças de rumo na política aplicada pelo direitista Sarkozy, que
sempre privilegiou os interesses do capital financeiro. Defende aumento
da tributação sobre os ricaços e mais investimentos públicos.
Já o candidato Jean Luc Mélenchon, ex-senador que rompeu com o PS e
hoje é deputado europeu pelo Partido de Esquerda, não vacila em defender
uma ruptura com o modelo existente no país. Seu slogan “tomem o poder”
entusiasmou setores da sociedade cansados com a espoliação da ditadura
financeira. Sua candidatura serve, inclusive, para pressionar o
vacilante PS. “Quando não há ninguém mais à esquerda deles, eles vão em
direção da direita”, comenta o cineasta Gérard Miller, apoiador de
Mélenchon.
Esta dinâmica da campanha talvez explique porque o “deus mercado” está tão preocupado com as eleições deste domingo.
Di
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