Oposição partidária e ventríloquos
midiáticos em pé de guerra contra maior líder político do País; aposta é
ida ao 'tapetão' da Justiça para conter força política crescente do
ex-operário; feitiço, no entanto, pode recair contra os feiticeiros; de
sua toca no Instituto Lula, em São Paulo, o perseguido avisa que, se
for acuado, irá romper o cerco tornando-se candidato a presidente da República outra vez; "o STF não vai escrever o último capítulo da minha biografia"; alguém duvida?
Lula está na alça de mira dos sem-voto. Suplantada, paulatinamente,
como se viu no resultado final das eleições municipais, pelo
crescimento sustentado do PT – uma agremiação que a cada eleição, desde
1982, obtém mais votos em relação ao pleito anterior -, a oposição já
percebeu que será impossível, pelo caminho das urnas, abater o
ex-presidente. O que não significa que irá deixar de lado o pauta
permanente de acabar politicamente com ele.
As tentativas de tirar Lula do jogo recrudescem e estão concentradas, a
partir de agora, no chamado "tapetão" – os diferentes ambientes
judiciais para representações, investigações e julgamentos fraqueados a
todos pela Justiça brasileira. Para a próxima terça-feira, o deputado
Roberto Freire (PPS-SP) já anuncia a entrada de pedido formal à
Procuradoria-Geral da República para que Roberto Gurgel e seus
promotores iniciem um investigação específica contra o ex-presidente.
Esse ardil, no entanto, está produzindo um paradoxo. Pensado para
acuar Lula como uma raposa perseguida por cães e jagunços, ele já vai
despertando um efeito reverso. Precisamente o que está levando Lula a
ensaiar uma saída em grande estilo de sua toca, posicionando-se para
bons entendores como candidato à Presidência da República em 2014.
- O último capítulo da minha biografia não será escrito pelo Supremo
Tribunal Federal, teria dito o ex-presidente a interlocutores recentes,
que já espalham a frase para suas correntes de amigos.
Como se sabe, Lula, entre o domingo 28 da surra político-eleitoral
aplicado por Fernando Haddad e o PT em José Serra e o PSDB, e esta
sexta-feira 2, ainda não fez nenhum pronunciamento público sobre os
pleitos municipais. Mas protegido pelos vidros pretos do Instituto Lula,
no bairro do Ipiranga, em São Paulo, entre assessores, amigos e
visitantes o ex-presidente manifesta uma avaliação extremamente positiva
sobre o desempenho de seu partido.
- Gostei de tudo, principalmente do nosso resultado em Taubaté,
divertiu-se Lula em reunião informal no Instituto Lula, na segunda-feira
29.
- Mas lá nos perdemos, presidente, lembrou um dos auxiliares, ciente de
que o petista Isaac do Carmo fora derrotado pelo tucano José Ortiz por
37,08% dos votos válidos contra 62,92%.
- Pois é, mas implantamos o PT, que ali não tinha nada, praticamente
nem existia. Agora o partido está lá. Campinas, então, foi espetacular,
avançou o presidente, feliz outra vez, referindo-se neste ponto à
derrota de seu candidato Marcio Pochmann para o eleito Jonas Donizette,
do PSB, por 42,31% contra 57,69%.
Na quarta-feira 2, Pochmann e Donizete foram recebidos por Lula, em
meio a uma chuva de cumprimentos. O que o ex-presidente não dirá, então,
quando abrir a boca publicamente, e em definitivo com o câncer de
garganta superado, sobre sua maior vitória com Haddad?
É esse Lula de cordão umbilical ligado ao povo, dono de quase 80% de
índice de popularidade medido pelas pesquisas e com total liberdade para
combinar com a presidente Dilma uma estratégia partidárias para 2014
que a oposição sabe que precisa derrotar. Por questão de sobrevivência.
Impulsionado por Lula, na atual marcha batida o PT vai ser tornar um
partido hegemônico. Ente prefeitos e vices, o PT passou a estar no Poder
Executivo de nada menos que 1.000 cidades brasileiras. No maior
município do País, registre-se, o partido fez, além do novo prefeito,
mais 13 vereadores, isto é, a maior bancada da Casa.
No tapetão, a oposição tem sua base de denúncias num rematado delator
e, agora, condenado pelo STF por crimes listados na Ação Penal 470. O
publicitário Marcos Valério não é fonte das mais confiáveis, dado esse
histórico, mas já estampou duas capas da revista Veja nas últimas seis
semanas. O Santo Padre Bento 16, o presidente Barack Obama, a
hipnotizante Juliana Paes e quem mais se queira, ninguém conseguiu esse
feito. Falta de assunto ou aposta em que é Valério, e somente ele, que
pode trazer algum alento ao anti-lulismo, o que importa, no caso, e a
cadeia de reverberação de fatos que está acionada a partir dessa matriz.
O jornal O Estado de S. Paulo igualmente aposta em Valério como fator
de desestabilização de Lula. E, como não poderia faltar, o colunista
imortal Merval Pereira, de O Globo, dá seu pitaco, nesta sexta 2, sob o
título O Labirínto de Lula. São a oposição e seus ventríloquos, porém,
que parecem estar andando em círculos, procurando dar as mãos para
separar Lula de seu maior ativo, o reconhecimento do povo.
No 247
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