Pouco antes do segundo turno do segundo turno das eleições
presidenciais de 2006, o sujeito viu a manchete do jornal na banca e não
se conformou.
"Esse aí, só matando!", disse ao dono da banca, apontando o resultado
da última pesquisa Datafolha que apontava a reeleição de Lula.
Passados seis anos desta cena nos Jardins, tradicional reduto tucano
na capital paulista, o ódio de uma parcela da sociedade - cada vez
menor, é verdade - contra Lula e tudo o que ele representa só fez
aumentar.
Nem se trata mais de questão ideológica ou de simples preconceito de
classe. Ao perder o poder em 2002, e não conseguir mais resgatá-lo nas
sucessivas eleições seguintes, os antigos donos da opinião pública e dos
destinos do país parecem já não acreditar mais na redenção pelas urnas.
Montados nos canhões do Instituto Millenium, os artilheiros do
esquadrão Globo-Veja-Estadão miraram no julgamento do chamado mensalão,
na esperança de "acabar com esta raça", como queria, já em 2005, o
grande estadista nativo Jorge Bornhausen, que sumiu de cena, mas deixou
alguns seguidores fanáticos para consumar a vingança.
A batalha final se daria no domingo passado, como consequência da
"blitzkrieg" desfechada nos últimos três meses, que levou à condenação
pelo STF de José Dirceu e José Genóino, duas lideranças históricas do
PT.
Faltou combinar com os eleitores e o resultado acabou sendo o oposto
do planejado: o PT de Lula e seus aliados saíram das urnas como os
grandes vencedores em mais de 80% dos municípios brasileiros. E as
oposições continuaram definhando.
Ato contínuo, os derrotados de domingo passado esqueceram-se de
Dirceu e Genoíno, e mudaram o alvo diretamente para Lula, o inimigo
principal a ser abatido, como queriam aquele personagem da banca de
jornal e o antigo líder dos demo-tucanos.
Não passa um dia sem que qualquer declaração de qualquer cidadão
contra Lula vá para a capa de jornal ou de revista, na tentativa de
desconstruir o legado deixado por seu governo, ao final aprovado
por mais de 80% da população - o mesmo contingente de eleitores que
votou agora nos candidatos dos partidos por ele apoiados.
Enganei-me ao prever que teríamos alguns dias de trégua neste
feriadão. Esta é uma guerra sem fim. Quanto mais perdem, mais furiosos
ficam, inconformados com a realidade que não se dobra mais aos seus
canhões midiáticos movidos a intolerância e manipulação dos fatos.
O país em que eles mandavam não existe mais.
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