sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Genoíno e uma história a defender

 


Do Blog do Rovai - 4/1/2012



Em 1985, estudava na Metodista de SBC. Era um guri de 17 anos que acabava de subir a serra cheio de brilho nos olhos. Não era petista, peemedebista, comunista. Só queria ser jornalista, porque sonhava em mudar o mundo. Mas ao mesmo tempo não era um radical tradicional. Achava muito boa a eleição de Tancredo pelo Colégio Eleitoral.

Genoino não pensava como eu. E eu mal sabia quem era o Genoino.

Mas junto com um amigo fiquei encarregado de esperá-lo para uma palestra na porta de entrada do estacionamento da faculdade. Ele iria lá para um debate sobre conjuntura política. Cá entre nós, ver um deputado de esquerda falar de conjuntura política em 1985 era algo muito interessante.

Eu mal sabia o que era conjuntura política. Era um garoto de praia que gostava de política. Então, imaginava que aquilo tinha muito a ver comigo.

Aliás, eu usava calças de cores vibrantes (estilo new wave) e sandálias de couro compradas na barraca do pai do Pixoxó, lá na Feira de Artesanato de Praia Grande, onde a renda de uma barraquinha mantida em sociedade com dona Clô ajudou a me levar a uma faculdade.

Mas o que tudo isso tem a ver com o Genoino? Recordo-me daquele homem de cara vincada, com típicos traços de nordestino, de sertanejo, se anunciando na portaria da Metodista para o guarda que fazia a segurança da entrada.

E lembro-me daquele garoto de 17 anos chegando ao guarda para dizer que aquele senhor era um deputado federal e estava autorizado a entrar pela direção da faculdade para dar uma palestra.

O guarda olhou de cima em baixo para aquele homem simples, de camisa e calça jeans, que dirigia um passat vermelho, ano 78, meia boca. E olhou para o outro  lado, onde estava o moleque que dizia ter a “autorização”. Olhou, olhou e deu o veredicto. “Eu não autorizo entrar sem o diretor vir aqui. Nunca vi deputado dirigindo um  Passat desses.”

Genoino mostrou a carteira de deputado. E nada… Eu argumentei que poderia trazer a autorização por escrito. E nada. Na época não havia celular. Genoino me pediu, então, pra subir no carro. E acelerou o carro subindo a rampa da Metodista, deixando o guarda meio perdido sem saber o que fazer.

Quando ele estacionou e os estudantes viram de quem se tratava, em minutos já estava cercado por dezenas de professores e alunos. E também pelo diretor que pediu pro segurança que havia nos seguido voltar para o seu posto.

Aquele encontro marcou minha vida estudantil. Me aproximei do grupo que fazia política na corrente chamada Caminhando e encontrei o deputado petista algumas outras vezes.
Genoino sempre me impressionou pelas opiniões fortes, a coragem pra enfrentar polêmicas e a altivez.

Infelizmente, este Genoino parecia ter submergido com o furacão de 2005 e a crise do Mensalão. Na verdade, parecia já ter sido engolido em 2002, quando foi candidato ao governo de São Paulo e caiu na armadilha de fazer uma campanha bastante conservadora para tentar derrotar Alckmin.

Hoje o vi na televisão tomando posse para o seu sétimo mandato,  após uma condenação pelo STF que pode levá-lo a cumprir seis anos e onze meses de prisão, mesmo que em regime semi-aberto.
 
Ele podia estar destruído, mas me pareceu altaneiro. Deu uma coletiva, falando de forma firme e clara frases como: “Tenho a consciência serena e tranquila dos inocentes” e “espero que a verdade apareça mais cedo ou mais tarde”.

Resgatando a velha forma, parece que Genoino decidiu não desistir e entregar os pontos. É importante que uma pessoa com a história dele e que foi decisivo para pessoas de diferentes gerações, não se conforme em passar para a história como um bandido.

Bandidos desfilam por aí sem se preocupar com a história. Genoino tem uma história a defender. E o país precisa que ele assim o faça.

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