Não há melhor negócio no mundo do que a saúde. Não há maior prova de
humanismo do que o exercício honrado da medicina. São duas visões
conflitantes da mesma idéia, a que une a vontade de viver e o medo
permanente da morte.
O negócio da saúde envolve a indústria do ensino, a atividade médica, as
pesquisas biológicas e bioquímicas, o desenvolvimento técnico e
científico, a produção e a venda dos medicamentos, os hospitais e as
empresas de seguro médico, as chamadas operadoras.
Desde o governo militar a proliferação de universidades privadas no
Brasil tem sido grande negócio político-empresarial. Muitas das licenças
para o seu funcionamento foram concedidas aos políticos ou a parceiros
de políticos. Essas licenças são renovadas, ainda que a qualidade do
ensino seja cada vez mais deplorável. Sem laboratórios, sem lições
práticas de anatomia e patologia, sem professores capacitados, surgiu o
sistema em que médicos incompetentes ensinam alunos despreparados a se
tornarem também médicos incompetentes e novos mestres de médicos ainda
mais incompetentes.
Contrastando com esse quadro desolador temos alguns dos melhores
hospitais do mundo, estatais e privados, que servem de referência
internacional. Mas esses, embora muitos deles reservem leitos
para o atendimento universal, pelo SUS, são de difícil acesso aos
pobres.
A classe média se vale dos planos de saúde, que se têm revelado dos
maiores e mais lucrativos negócios do Brasil, cobiçados pelos consórcios
internacionais. A Amil, conforme se noticiou, está sendo adquirida por
capitais norte-americanos. Essas instituições foram, em seu início,
cooperativas de médicos e se transformaram em empresas mercantis comuns.
No passado tínhamos menos recursos técnicos, mas os médicos, de modo
geral, possuíam melhor formação. A maioria dos médicos brasileiros,
felizmente, é constituída de homens e mulheres dedicados, com alta
qualificação e profundo sentimento humanista. Muitos deles conseguiram
superar as falhas do ensino, empenhando-se no aprimoramento constante.
As operadoras dos planos de saúde poderiam deixar de existir, se os
recursos que arrecadam – grande parte deles destinados só a remunerar
seus controladores - fossem administrados diretamente pelo Estado.
Talvez o governo pudesse enfrentar a ganância dos donos dos planos de
saúde de forma corajosa e radical, e não só suspendendo a ampliação do
número de segurados, como decidiu agora a ANVISA. É preciso todo o rigor
contra os que violam a lei e, na alteração unilateral dos contratos,
lesam os segurados – sobretudo os mais idosos – depois de os terem
escalpelado ao longo dos anos.
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