sábado, 16 de agosto de 2014

A escolha de Marina e o vale tudo para garantir um 2º turno


Com o anúncio pela cúpula nacional do PSB, de que se reunirá na próxima 4ª feira para decidir sobre o candidato que substituirá o ex-governador Eduardo Campos na disputa pelo Planalto, cresce a pressão, principalmente por parte da mídia para que a candidata a vice, Marina Silva, seja a substituta.

A morte de Campos operou uma radical mudança no quadro da campanha e a imprensa, de repente, nos últimos dois dias, se tornou marineira “desde criancinha”. Por quê? Porque ela não vê alternativa que não acalmar a candidatura de Marina para garantir o 2º turno e impedir que a presidenta Dilma Rousseff ganhe a eleição no 1º.

Assim, salta à vista que o candidato tucano Aécio Neves, abandonado, tende a ser o principal prejudicado pela nova conjuntura. A candidatura de Marina, imposta pela tragédia que tirou a vida de Eduardo Campos, passou a ser exigida pelo mercado desesperado pela restauração liberal que antes buscava, ou encarnava, no presidenciável do PSDB. Até a tragédia de dois dias atrás, Aécio era o delfim do tucanato Fernandista (da era FHC), que ele resgatara em toda linha na figura de seu futuro ministro da Fazenda, Armínio Fraga.

A questão, agora, é saber como reagirá até 4ª feira — e naquele dia — o PSB. Ou pelo menos como irá se comportar seus setores históricos perante a esse aparente inevitável beijo da morte para um partido socialista e de esquerda que um dia fez parte do projeto que levou Lula a presidência. Num partido de esquerda em sua história (e não apenas no nome), apesar de todas concessões e alianças dos últimos anos.

Tragédia de Campos, muda tudo para Aécio

Com a tragédia que vitimou Eduardo Campos, muda tudo daqui para frente para Aécio, para Marina e para o PSB. Não muda tanto para o PT e para sua candidata à reeleição, a presidenta Dilma. Pelo menos nesse primeiro momento, ainda que esta seja uma situação a ser conferida daqui a duas semanas de campanha já com propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Muda tanto que, de repente, nos últimos dois dias, a mídia conservadora, a exemplo do mercado, engajou-se na candidatura Marina, mesmo sabendo que ela, num primeiro momento, é um perigo maior para Aécio e para o PSB, já que seu projeto e ideário é retomar seu próprio partido, a REDE Sustentabilidade.

Enfim, raciocinam, a realidade mudou, mas o importante é todos estarem e ficarem juntos no objetivo comum de derrotar o PT e impedir a reeleição da presidenta Dilma. Mais grave será a decisão a ser tomada no 2º turno — se houver — porque ele inevitavelmente dividirá a aliança e o próprio PSB, de forma inexorável.

Ao PSB não será fácil, nem simples, manter a campanha e a aliança sem a liderança e a presença de Eduardo Campos que, como conhecíamos, era líder, dirigente, militante e excelente gestor — características e méritos raros no Brasil.

Único consenso é apoio da mídia à candidata Marina

Assim, no quadro com que caminhamos para o fim de semana e, até a 4ª feira, o único consenso é o apoio unânime da mídia a candidatura Marina. Consenso, principalmente, no despudor e desfaçatez em pressionar esse ou aquele dirigente socialista, taxando-os de apoiadores do PT e de Lula, numa tentativa desesperada de consagrar imediatamente Marina como candidata ao Planalto.

Decidida a escolha de Marina, os problemas para eles, e o desafio para a candidata estarão apenas começando. A candidatura Eduardo, como dissemos na última quinta feira , não tinha se consolidado como um projeto político para além da 3ª via e estava bastante desgastada pelas alianças pragmáticas que fez à direita e à esquerda, com conservadores de todas as gradações, coronéis e caciques políticos, petistas, peemedebistas e tucanos.

Faltava a Eduardo e à sua 3ª via um programa e um projeto político alternativos aos do PT e do PSDB. Faltava-lhe, também, tempo para se tornar conhecido nacionalmente. Daí sua alegria por participar por 15 minutos de entrevista no Jornal Nacional (3ª pp., véspera da tragédia), no que se constituía em sua primeira chance real de se expor, ser conhecido e reconhecido pelo grande eleitorado que vê o telejornal de maior audiência no país.

Deixando de lado as análises e avaliações contaminadas pelo antipetismo, ou pior, pela PTfobia que só pensam e visam tirar o PT do governo, outra questão que se coloca a todos nós, e à Marina em particular, é a avaliação se há uma maioria real no país disposta a uma 3ª via. E o que ela, encabeçada por Marina, propõe.

Eduardo aproximou-se do fanatismo neoliberal de Aécio

Nunca é demais lembrar que num erro primário, raro em Eduardo, do início da campanha. Lá atrás, ele se aproximou de Aécio e do PSDB, de seu ideário e fanatismo neoliberal. Marina é que forçou um afastamento, impedindo o pior — que a candidatura dele e o PSB virassem um simulacro do tucanato. Apesar dela não ter conseguido impedir seu companheiro de se associar a Aécio nos dogmas econômicos caros ao mercado e ao PSDB.

A questão ainda é se nosso povo quer uma 3ª via ou se tem consciência que o PT e o PSDB representam projetos políticos e sociais antagônicos e interesses de classe contrários e, no mínimo, conflitantes. Nesse sentido a candidatura de Marina piora ainda mais a situação de Aécio e não a de Dilma.

Outro problema, mas não um entrave menor: o quadro partidário está definido e as alianças regionais idem, gostemos ou não. Por outro lado, o PSB não tem um nome de projeção e liderança nacional para a disputa e muito menos pode correr mais riscos do que já corre nos Estados onde, com exceção de Pernambuco, tem poucas chances de vencer.

O desafio de Marina

A questão agora é saber como o eleitorado reagirá à candidatura de Marina e o que ela proporá ao país que não se contraponha a realidade da disputa já em curso e das alianças que Eduardo e o PSB construíram para o bem — ou para o mal segundo a ótica de Marina.

O desafio de Marina é suprir, pelo menos no imaginário popular, a carência de Eduardo e trazer um projeto político alternativo ao que governa o país há 12 anos. Para ela, não há outra alternativa, é trazer — e trazer. Sob o risco de se tornar uma linha auxiliar para o tucanato em sua tentativa de regredir o país a era Fernandista alinhando o poder político e o Estado brasileiro de novo aos interesses do grande capital começando pelo rural e financeiro.

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