Janio de Freitas
Aécio prevê o refluxo de Marina, mas no seu entorno já transparece a sensação de que ela enfrentará Dilma
Aécio prevê o refluxo de Marina, mas no seu entorno já transparece a sensação de que ela enfrentará Dilma
Olhar para o lado e já encontrar Marina Silva junto ao seu ombro, como
registrado na fotografia estatística do Datafolha, não surpreendeu Aécio
Neves por dois motivos. Passadas apenas 48 horas da morte de Eduardo
Campos, Aécio Neves mostrava-se convicto de que Marina Silva iria de
imediato para uns 20% de apoio eleitoral, com opiniões saídas da quota
de indecisos, nulos e em branco. Marina alcançou 21%, ultrapassando em
um ponto a estabilidade de Aécio. O que talvez tenha sido, aí sim, uma
surpresa para ele. E para ela.
Mas a convicção tranquilizadora de Aécio ia mais longe. A seu ver, desde
então, o impulso emocional do apoio a Marina Silva não tem vida longa:
ao entrar setembro, estará em declínio, a caminho da verdade eleitoral.
Uma contradição ficou clara, porém. O candidato prevê o refluxo de
Marina, o que lhe devolveria o segundo lugar na disputa, mas à sua volta
era diferente. O vice da chapa e o coordenador da campanha, Aloysio
Nunes Ferreira e Agripino Maia, entre outros, já transpareciam a
sensação negativa de que a disputa com Dilma Rousseff caberá a Marina, e
não a Aécio Neves: não escondiam a estratégia já fixada de não se
confrontar com Marina, para não dificultar o eventual apoio do PSDB e do
DEM à candidata do PSB no segundo turno.
Ora, em termos eleitorais, Marina é a adversária a ser batida por Aécio,
porque será o obstáculo capaz de impedi-lo de chegar ao possível turno
final. Em termos meramente políticos, PSDB e DEM querem, acima de tudo, a
derrota do PT, mas esse lucro implica um risco perverso. Ambos em longo
processo de desgaste, embora de intensidades muito diferentes, com a
vitória simultânea do PSB e da Rede terão mais dois adversários fortes,
com muitas posições extremadas na oposição aos (neo)liberais. E com
ambos o PT, apesar de batido, poderá conviver na composição de uma
frente nova. E poderosa.
Há, contudo, um elemento de fato favorável a Aécio Neves no crescimento
de Marina. O manancial dos indecisos, nulos e brancos, está mais do que
provado, não lhe é receptivo. Não se impressiona com sua campanha
baseada na tática de "desconstruir" Dilma Rousseff. Por mais que Aécio
tente disfarçá-los, a moçada sente o cheiro de temperos conservadores.
Se não pretende conformar-se com o terceiro e inútil lugar, Aécio Neves
terá de melhorar e clarear o seu programa para captar o necessário com
que se manter na disputa. Tornar-se um pouco mais próximo, por exemplo,
das ideias políticas e administrativas sustentadas pelo candidato
Tancredo Neves em 84/85, ao qual está em indisfarçável oposição.
À margem da substituição de Eduardo Campos e seus efeitos diretos na
disputa eleitoral, o Datafolha capta neste momento da sucessão um
elemento a ser ainda pensado e pesado. Os seis pontos ganhos pelo
governo Dilma no conceito ótimo/bom, confirmados por cinco de elevação
até em São Paulo, tendem a produzir uma tradução eleitoral. Ainda mais
se considerado que a medição foi posterior à morte de Eduardo Campos. E
se assim foi, com toda a carga de noticiário e comentarismo
obcecadamente oposicionistas, é presumível que os balanços do governo,
no horário eleitoral, tornem a tarefa de Marina e de Aécio mais difícil
do que a morte de Eduardo Campos fez supor a tantos.
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