O velório e o enterro de Eduardo Campos foram transformados em ato
político mesmo com os caciques do PSB dizendo o contrário. Os filhos do
morto usaram uma camiseta amarela com os dizeres “nós não vamos desistir
do Brasil”, frase do candidato no Jornal Nacional, da Rede Globo,
que servirá de mote para a campanha de Marina Silva. Não é possível
parar o mundo para um verdadeiro recolhimento em meio às paixões de uma
disputa eleitoral. Resta saber ser houve oportunismo de parte de quem,
sem o choque da família, possa ter aproveitado a situação para faturar
eleitoralmente.
E cinismo.
Nas redes sociais, os adversários de Marina, demonstrando certa
preocupação com a possibilidade de ela ir ao segundo turno – em lugar de
quem? – ou até vir a ganhar as eleições, acusaram-na de oportunismo e
até de ter sorrido debruçada no caixão.
Numa foto, Marina aparece com ar de Mona Lisa. É um sorriso aquilo? Um
esgar? Um tique? Se sorriu, por que o fez? Atrás dela, um homem ri. O
que terão dito para Marina sorrir se, de fato, ela sorriu? A ideia é que
ela comemorava a morte de Campos que lhe permitirá disputar a cadeira
presidencial. É difícil acreditar que alguém se debruce sobre um caixão
para fazer pose com sorrisos para a câmera. No mínimo, o bom senso diria
que poderia pegar mal. Há algo mais nisso tudo. O quê?
O sorriso de Marina permanecerá como o da Mona Lisa. Um enigma. Se não for só uma boa montagem.
Eu acredito em tudo em tempos de internet, até em montagens instantâneas.
Marina passou a ser atacada por suas vinculações com a Natura e com a Itaú.
Qual candidato e qual partido com chances de eleição pode se gabar de não ter vínculos com empreiteiras e bancos?
O Banco Rural, por exemplo, não faz parte da vida dos dois partidos que mais se engalfinham pelo poder?
A questão é: Marina representa o novo? O novo absoluto? Algum grau de
novidade? O novo total não existe no momento. Marina vem sendo acusando
de fundamentalismo religioso, de homofobia, de conservadorismo em termos
de questões de sexualidade e comportamento. Até que ponto tudo isso é
verdade absoluta ou parte de uma desconstrução sintomática determinada
pelo medo? PT e PSDB, em se tratando de certos temas, pouco fizeram. O
Uruguai é a prova disso.
O que poderia ser o novo? Marina, segundo seus oponentes, não o seria
por ter vindo do PT, por ter sido ministra, por isto e aquilo. O novo,
nesse caso, só poderia ser quem nunca fez política? O novo seria Sílvio
Santos ou Luciano Huck? Ou mesmo um velho do jogo com um jeito mais ou
menos novo ou algum ponto, por menor que seja, fora da curva?
Especulações, apostas, artimanhas, estratégias, discursos…
Uma análise de quem não se move
pela escolha de candidato, mas pelo desejo de perceber os contornos do
jogo, mostra, individualmente falando, três bons candidatos na disputa
real pela presidência da República. Cada qual com seu projeto.
Um liberal privatista, um intervencionista clássico e um intervencionista com novas tonalidades.
A entrada de Marina no jogo representa uma certeza: a polarização dançou.
O resto é provocação, sofisma e exaltação.
Já deu para ver que, nas redes sociais, a baixaria vai predominar.
A sofisticação dos militantes internautas segue um lema: do pescoço para cima tudo é canela.
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário