Antes de pousar, avisem o menino |
Talvez a produção do JN decida pousar em Montezuma, no extremo
norte do estado de Minas, fronteira com a Bahia. Há quem estranhe que a
emissora mais poderosa do Hemisfério Sul não tenha feito isso ainda,
diante das denúncias de que um dos candidatos ao Planalto teria
beneficiado a própria família com dinheiro público.
O Jornal Nacional está preocupadíssimo com a corrupção, como se viu na entrevista de William Bonner com a presidente Dilma Rousseff.
Assim sendo, é mais que justo que despache o jatinho até Montezuma.
A simpática cidade, de cerca de 8 mil habitantes, tinha uma pista de
terra mandada construir pelo ex-governador mineiro Newton Cardoso. No
final de 2007, quando Aécio Neves era governador de Minas Gerais, o
aeródromo foi incluído no ProAero, o Programa Aeroportuário de Minas
Gerais.
Segundo o Diário Oficial de Minas Gerais,
o objetivo do programa tocado pela Secretaria de Estado e Obras
Públicas (SETOP) era que Minas tivesse, em 2011, “69 aeroportos
funcionando 24 horas por dia”.
Antecipando-se à Globo, apesar de seus parcos recursos, o Viomundo constatou que, no que se refere a Montezuma, o programa fracassou.
Não se você considerar justificável construir aeroportos para manter a saúde pública.
Hoje Montezuma, cidade de 8 mil habitantes, dispõe de uma pista
asfaltada de cerca de 1.300 metros. É mais ou menos o mesmo tamanho da
pista de Guarujá, no litoral paulista, cidade de 300 mil habitantes onde
aconteceu o trágico acidente envolvendo o candidato Eduardo Campos.
Porém, o aeródromo de Montezuma está abandonado. |
Em março de 2008, o Departamento de Estradas de Rodagem mineiro adiantou-se e escolheu uma empreiteira para pavimentar a pista de terra de Montezuma. Contratou a Pavisan, por 268.460,65 reais. Segundo um ex-executivo da empresa, que lá trabalhava à época, a obra foi um mau negócio. O valor seria irrisório e não cobriria os custos. Ele não vê razão econômica para o estado investir no local, pois perto de Montezuma há cidades maiores que poderiam ter sido contempladas com um aeroporto. Qual seria a justificativa? A proximidade com as terras da família de Aécio? Facilitar o contato aéreo entre pai e filho? E se o negócio era ruim, por que a empreiteira topou? A Pavisan fechou vários contratos com o governo mineiro durante a administração de Aécio. O dono da construtora, Jamil Habib Cury, ocupou cargo público na gestão do tucano. Foi diretor do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais. Estava no posto quando a Pavisan foi escolhida para a pavimentação em Montezuma. Consta ainda na lista de doadores das duas campanhas vitoriosas de Aécio ao comando do estado, em 2002 e 2006. Na última, doou 51 mil reais.
A placa acima é de uma Unidade Básica de Saúde que está sendo reformada, bem diante do aeroporto abandonado de Montezuma.
Quer dizer que o governo de Aécio Neves torrou, em dinheiro de 2011,
reajustado pela inflação de William Bonner, duas unidades básicas de
saúde da Patrícia Poeta para asfaltar um aeroporto-fantasma?
Teria sido pelo fato de que a família do candidato tucano ao Planalto é
proprietária, no município, de quase mil hectares de terras, na Perfil
Agropecuária e Florestal?
Quando as obras foram feitas em Montezuma, com Aécio governador de
Minas, o pai dele era o dono das terras, obtidas através de usucapião.
O pai de Aécio foi deputado estadual entre 1955 e 1963 e deputado
federal entre 1963 e 1987. Ou seja, estava em posição de poder ou tinha o
filho em posição de poder quando tocava demandas judiciais para ficar
com a propriedade.
Era dono das terras e tinha o filho em posição de poder quando a
reforma do aeroporto aconteceu, mais ou menos a 30 quilômetros de sua
propriedade.
Mera coincidência?
O então governador e hoje candidato sabia que, potencialmente, ao promover a reforma poderia valorizar sua futura propriedade?
Em nossa passagem por Montezuma, entrevistamos duas pessoas que viram o
agora senador desembarcando no aeroporto reformado. Aécio pousou lá.
Em outra ocasião, foi o cantor Amado Batista, na véspera de fazer um
show numa cidade do sul da Bahia.
Uma moradora da cidade disse que o aeroporto foi um dos principais
investimentos estaduais já feitos em Montezuma. Segundo ela, antes da
obra os montesumenses eram obrigados a caminhar em rodovias da região,
correndo risco de atropelamento.
Agora, dispõem de um aeroporto para se exercitar. As caminhadas acontecem de manhã, bem cedinho, ou no final da tarde.
É isso mesmo: a obra do ProAero foi convertida em uma imensa pista para que a população local mantenha a forma física.
Perguntei a um dos usuários sobre o risco de um avião pousar
inadvertidamente. Ele respondeu mais ou menos com as seguintes palavras:
“Dá para ouvir o barulho. Qualquer coisa a gente se joga no mato”.
O aeroporto nunca foi homologado pela ANAC, a Agência Nacional de Aviação Civil.
Ainda assim, segundo os montesumenses que ouvimos, em tempos “de política” pousam ali aviões trazendo candidatos.
Este ano, quem sabe, será a vez do jatinho do Jornal Nacional.
PS1 do Viomundo: Já imaginaram se o Lula tivesse mandado
reformar um aeroporto perto das terras — inexistentes — do filho dele,
que para metade dos brasileiros é dono da Friboi (falso!) e tem como
sede de fazenda a Escola Superior de Agicultura (ESALQ) de Piracicaba
(falso!)? Quantas equipes a Globo despacharia para cobrir o escândalo?
PS2 do Viomundo: Na semana que vem, publicaremos a reportagem completa sobre nossa visita à cidade, bem como um mini-doc sobre o Choque de Gestão em Montezuma.
Luiz Carlos Azenha
No Viomundo
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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