Reinaldo Azevedo
Pronto! Marina enterrou Eduardo
Campos. Líder da Rede já jogou no lixo os primeiros compromissos e deu
um pé no traseiro do PSB. Quem está surpreso? Ou: de novo, a vespa e a
joaninha inocente
A vespa se aproxima da Joaninha inocente; o objetivo é injetar um ovo em seu abdômen sem que a coitadinha perceba. Nem dói… |
Depois de algum tempo, a Joaninha passa a carregar a estrovenga, como um zumbi, uma morta-viva. Assim que a nova vespa nascer, a hospedeira morre… para valer |
O PSB oficializou nesta quarta-feira a candidatura de Marina Silva à
Presidência da República, tendo o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS)
como vice. Para não variar, tudo está sendo feito de acordo com as
exigências de… Marina. O partido que a recebeu já foi transformado em
mero hospedeiro. Ela não está nem aí para a legenda que a abrigou. Pois é… Eu sempre disse que seria assim. Vamos ver?
1: Marina disse há quatro dias que acataria os acordos regionais feitos
por Eduardo Campos. Isso não vale mais: ela só vai subir em palanques em
que todos os partidos pertençam à coligação nacional. Isso exclui São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio.
2: O comando do PSB afirmou que Marina assinaria uma carta de
compromisso mantendo os fundamentos do programa que Campos queria para o
país. Marina já deixou claro que não assina nada.
3: O PSB tinha o comando da campanha de Eduardo Campos, que estava a
cargo de Carlos Siqueira. Marina resolveu dividir a função com o
deputado federal marineiro Walter Feldman (SP). Na prática, todo mundo
sabe, Siqueira foi destituído.
Vale dizer: Marina está, como sempre, fazendo tudo o que quer, do modo
que quer, na hora em que quer. Para alguma melancolia deste escriba,
acabo de ouvir na TV uma jornalista a dizer que isso só prova a…
“coerência” de Marina. É mesmo, é? Entre a burrice e a desinformação,
acuso as duas.
Feldman, agora seu braço-direito, é um portento da “nova política” que
Marina diz abraçar. Foi secretário do governador Mário Covas e dos
prefeitos José Serra e Gilberto Kassab. Só não se tornou secretário de
Saúde do então prefeito Paulo Maluf porque Covas não deixou. Saiu do
PSDB atirando contra o governador Alckmin e voltou tempos depois,
fazendo uma espécie de mea-culpa. Durou pouco a fidelidade. Ainda como
deputado tucano, juntou-se aos marineiros e passou a comandar a
resistência a qualquer acordo com o PSDB em São Paulo. Não se trata de
uma sequência para depreciá-lo. Trata-se apenas de fatos.
É claro que Feldman vai atuar contra a candidatura de Alckmin à
reeleição. Até aí, tudo bem, né? Faça o que quiser. Ocorre que o
candidato a vice na chapa do governador é o deputado Márcio França, do
PSB, partido ao qual, formalmente ao menos, Marina e seu coordenador
pertencem. Aliás, depois de Campos, França era a liderança de maior
expressão nacional da legenda, que tem uma grande chance de ocupar um
posto político importantíssimo no Estado mais rico do país e com o maior
eleitorado.
Se Marina já deixou claro que não vai respeitar os acordos firmados por
Campos, ainda que esteja ocupando o seu lugar, por que ela respeitaria o
programa do PSB caso se eleja presidente da República? A minha tarefa é
fazer a pergunta. A dela é cuidar da resposta.
Olhem aqui. No dia 19 de dezembro de 2013, escrevi um post em que
comparava Marina a certa vespa que usa outros insetos, especialmente a
joaninha — ainda viva — para depositar seu ovo. A estrovenga é injetada
diretamente no abdômen da vítima, que carrega, então, a larva até que
uma nova vespa venha à luz. Quando esta nasce, o hospedeiro morre. O
nome disso é “parasitoidismo”, que é diferente do parasitismo, que não
mata o hospedeiro. Há oito meses, portanto, com Campos ainda vivo,
afirmei que era precisamente isso o que Marina faria com o PSB. Como eu
sabia? A partir de determinado momento, ela tentou ser um parasitoide do
PT, com agenda própria. Foi repelida. Buscou fazer o mesmo com o PV.
Foi repelida outra vez — e sua grande votação não levou a um aumento da
bancada da legenda. Era o partido do “Eu-Sozinha”. Terminada a eleição,
tentou tomar a direção dos Verdes. Não conseguiu e saiu para fundar a
Rede. Agora, no caso do PSB, não sei, não, parece que o ovo foi parar no
abdômen da legenda.
Ganhe Marina a eleição ou não, tão logo ela migre para a sua Rede, o PSB
será menor do que era antes da sua entrada. Na nova legenda, aí sim,
ela será, como sempre quis, em sua infinita humildade, Igreja e Estado
ao mesmo tempo; rainha e autoridade teológica. E sempre cercada de
fanáticos religiosos, com diploma universitário.
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