domingo, 30 de novembro de 2014

Kotscho: Dilma matou discurso da oposição

Brasil 247 - 29 de Novembro de 2014 às 07:42

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"A presidente fez o que devia: acima de rótulos ou de siglas, nomeou três profissionais de competência reconhecida, com o objetivo central de restabelecer um clima de confiança, tanto entre investidores, aqui dentro e lá fora, como na sociedade dividida pela campanha eleitoral", diz o jornalista Ricardo Kotscho; "O fato é que Dilma deixou sem discurso esta turma do contra e setores do PT e da base aliada inconformados com a ousadia da presidente em dar um cavalo de pau na economia para colocar o navio novamente no rumo certo", avalia; ele, no entanto, critica a escolha de Kátia Abreu para a Agricultura

247 - O jornalista Ricardo Kotscho, avalia que a nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, capitaneada por Joaquim Levy, cumpriu uma missão também na política: matou o discurso da oposiçã 

Leia, abaixo, o artigo publicado no Balaio do Kotscho: Dilma fez o que devia e deixa oposições sem discurso
 
Por Ricardo Kotscho


O que eles queriam, afinal?

Que Dilma deixasse tudo como está e nomeasse um companheiro revolucionário ou um burocrata anódino para comandar a economia no seu segundo governo?

As primeiras críticas feitas pelas oposições ao seu governo, à direita e à esquerda, antes mesmo do anúncio oficial, mostram que a presidente Dilma Rousseff estava certíssima ao montar sua nova equipe econômica com Joaquim Levy, na Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e mantendo Alexandre Tombini no Banco Central.

Já que é impossível agradar a todos ao mesmo tempo, ainda mais num momento tão convulsionado da vida nacional, a presidente fez o que devia: acima de rótulos ou de siglas, nomeou três profissionais de competência reconhecida, com o objetivo central de restabelecer um clima de confiança, tanto entre investidores, aqui dentro e lá fora, como na sociedade dividida pela campanha eleitoral.

A primeira entrevista coletiva do novo trio econômico, que ainda não tem data para tomar posse, me passou uma sensação de tranquilidade, de saber o que estão falando e o que pretendem fazer para que o país volte a crescer sem atropelos, sem soluções mágicas, sem pacotes, sem sustos.

Quem pode ser contra o que disse Joaquim Levy, o chefe da nova equipe, que trabalhou na gestão econômica de Fernando Henrique Cardoso e foi Secretário do Tesouro no primeiro governo Lula, destacando-se tanto nas funções públicas como na iniciativa privada? Veja suas primeiras declarações:
"Temos a convicção de que a redução das incertezas em relação às ações do setor público sempre é ingrediente importante para a tomada de risco pelas empresas, trabalhadores e famílias brasileiras, especialmente as decisões de aumento de investimento (...) Essa confiança é a mola para cada um de nós nos aprimorarmos e o país crescer".

"A gente vai ver no dia a dia como a autonomia no cargo ocorre. Mas evidentemente quando uma equipe é escolhida é porque há confiança. Não tenho indicação nenhuma em contrário. O equilíbrio da economia é feito para garantir o avanço na área social que nós alcançamos".

"O Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a transparência de suas ações e manifesta o fortalecimento da comunicação de seus objetivos e prioridades e a comunicação de dados tempestivos, abrangentes e detalhados que possam ser avaliados por toda a sociedade, incluindo os agentes econômicos".

"Nossa prioridade tem que ser o aumento da taxa de poupança. Aumentando sua poupança, especificamente o primário, o governo contribuirá para que os outros agentes de mercado e as famílias sigam o mesmo".

É importante registrar que, antes de conceder esta entrevista, Joaquim Levy e seus dois colegas de equipe almoçaram com a presidente Dilma Rousseff e com ela acertaram os ponteiros. Quem já joga num confronto entre os novos ministros e deles com a presidente da República, como os "analistas independentes" do apocalipse, que sempre aparecem nestas horas para dar fundamento "científico" aos colunistas do pensamento único do Instituto Millenium, podem ir tirando o cavalinho da chuva.

Quem define política de governo e dá as ordens é quem senta na cadeira de presidente no terceiro andar do Palácio do Planalto, não os eventuais ocupantes de ministérios, aliás, por ela escolhidos. Se Dilma nomeou estes três é porque confia neles e não tem esta besteira de que daqui a dois anos, feito o ajuste fiscal com um "saco de maldades", vai trocar a equipe e voltar a ser tudo como era antes. Isso é papo de quem continua jogando no quanto pior melhor e não aceita o resultado das urnas, achando que nada neste governo pode dar certo, para ver se fatura algum na especulação financeira.

O fato é que Dilma deixou sem discurso esta turma do contra e setores do PT e da base aliada inconformados com a ousadia da presidente em dar um cavalo de pau na economia para colocar o navio novamente no rumo certo. Por falar nisso, o economista Joaquim Levy também é engenheiro naval e sua primeira missão, certamente, será consertar os rombos no casco.

Mais do que das palavras e intenções, gostei da cara boa dos três, gente comum capaz de sorrir mesmo em horas graves, falando coisas que a gente entende, sem querer mascarar as dificuldades, mas também sem nos tirar o ânimo para enfrenta-las. Por isso, fiquei mais otimista ao olhar para 2015, na contramão dos profetas do fim do mundo.

Kátia Abreu, não

Se Dilma Rousseff provou que estava certa na indicação de Levy, Barbosa e Trombini, o mesmo não se pode dizer da anunciada nomeação de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura. Tem coisa que pode e tem coisa que não pode. Kátia Abreu não pode, pelo conjunto da obra pregressa. Seria o mesmo, por exemplo, que nomear Paulo Maluf para o Ministério das Cidades ou lhe entregar as chaves do Banco do Brasil.

Parceira de Ronaldo Caiado e seus coronéis na famigerada União Democrática Ruralista (UDR) dos tempos da ditadura militar, que de democrática nada tinha, Kátia Abreu sempre esteve lutando do lado exatamente oposto aos que, no PT e fora dele, defendem como razão de viver a reforma agrária, a proteção do meio ambiente, a agricultura familiar, a demarcação das terras indígenas e dos quilombolas.

A política também é feita de símbolos _ e Kátia Abreu, hoje presidente da Confederação Nacional da Agricultura, simboliza o que há de mais reacionário, intolerante e autoritário neste importante setor da vida nacional. Não é possível que Dilma não encontre outro representante do agronegócio para ocupar este ministério. Alguém com o perfil de Roberto Rodrigues, por exemplo, um líder realmente democrático e capaz em seu ofício, que fez campanha para José Serra, em 2002, foi ministro da Agricultura de Lula, a partir de 2003, e agora apoiou Aécio Neves. Não tem problema. Como dizia o velho amigo José Alencar, vice de Lula, um sábio sem diploma, o importante não é a cor do gato, mas que ele seja capaz de caçar o rato.

Governo tem que procurar escolher os mais competentes e mais representativos em cada área, sem se preocupar com críticas de adversários nem muxoxos de aliados. Pode até descobrir depois que errou, mas não pode já começar errando. Ainda está em tempo de Dilma pensar melhor neste assunto.

Vida que segue.
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Impunidade beneficia Rede Globo


Ah, os documentos "sumiram" de dentro da Receita Federal quando estavam prontos para serem entregues no MPF.

E então a Globo ganhou tempo, muito tempo e, pasmem, a reconstituição do processo contou com a ajuda da própria Globo e aí ...

É tarefa dos internautas divulgar ao máximo o brilhante trabalho investigativo do Diário do Centro do Mundo.

CLIQUE AQUI e acesse a íntegra das duas reportagens do caso Globo.

Desde o dia 13 de agosto de 2014 a íntegra destes documentos "sumidos" estão disponíveis na internet.

Por que o MPF nada fez desde então para punir a Rede Globo?

Clique aqui e acesse a íntegra destes documentos.

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600 pessoas na Paulista: o “movimento” pelo impeachmente está morto, mas falta avisar os coveiros




Durou pouco mais de um mês o “movimento” pedindo o impeachment com base em teorias estapafúrdias e alimentado por paranoicos.

A última marcha reuniu, segundo a PM, 600 gatos pingados na Avenida Paulista. No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte a coisa micou um pouco mais. No resto do Brasil, não aconteceu nada.

Em São Paulo, o primeiro protesto já dava sinais claro de insuficiência cardíaca. O deputado eleito Eduardo Bolsonaro, filho de Jair, apareceu com uma pistola na cintura no alto de um carro de som. Formou uma parceria com o deputado não eleito Paulo Batista. Juntos foram ao velho Danilo Gentili vender seu peixe.

Batista teve seus 3 minutos de semicelebridade do B com vídeos da campanha eleitoral, como um em que sobrevoava uma cidade disparando um “raio privatizador” de seus olhos.

Uma semana depois da manifestação de 15 de novembro, ele já estava sendo acusado de ser — sim, você leu direito — comunista por um certo Marcello Reis, criador da conta Revoltados Online no Facebook.

Desta vez, manifestantes que pediam “intervenção militar” foram expulsos da marcha, com a ajuda da polícia militar. Lobão apontou o dedo e humilhou o pessoal, acusando aqueles homens e mulheres de bem de ser — isso mesmo — de extrema direita. O empresário Ricardo Roque, que levava um megafone, foi afastado pela PM no Masp. Estava vendendo camisetas e bonés.

Como sempre, cenas dantescas. Um ambulante foi chamado de “vagabundo” e “drogado”. Duas pessoa foram presas.

O “movimento” deu seu estertor hoje, vítima de sua própria inconsistência, entre outras doenças. Partiu um dia depois do ator mexicano Roberto Bolaños. Como diria o Chaves, teria sido melhor ir ver o filme do Pelé.

Kiko Nogueira
No DCM

Os ensinamentos da campanha a Dilma


Ao terminar a campanha eleitoral, vários assessores de Dilma Rousseff garantiram que ela havia aprendido bastante com a campanha. Entendeu melhor a complexidade do país e, mais do que isso, o papel da Presidência - de articuladora política, de regente da orquestra, e não de gerente.

De fato, aprendeu bastante. Mas, em termos práticos, o que muda?

Dilma entendeu a importância de se escolher um Ministério de peso.

Depois, a importância de sair da gestão do dia a dia e atuar mais politicamente - isto é, relacionando-se com os meios político, econômico e social.

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Esses assessores apenas não garantiam se a Presidente mudaria tanto seu estilo, a ponto de abrir a discussão das políticas públicas à sociedade civil e deixar de lado as decisões autocráticas.

Mas - lembravam - tendo uma equipe de peso dando forma, conteúdo e cronograma às suas propostas, haveria sensível diminuição da ansiedade de Dilma e, por conseqüência, do seu voluntarismo.

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Os primeiros movimentos do segundo governo são encorajadores.

Foi precisa a forma como indicou os Ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Ambos assumem com o compromisso de um ajuste fiscal gradativo. Ou seja, Dilma reconheceu a necessidade de um ajuste mas, fiel ao que defendeu na campanha, fugiu das soluções extremadas. Colocar um ortodoxo para gerenciar um ajuste fiscal não-radical é a melhor combinação custo-benefício.

Os demais movimentos seguem uma lógica político-administrativa. Deverá indicar a polêmica líder ruralista Katia Abreu para a Agricultura e Armando Monteiro para o Desenvolvimento. E terá que dar a contrapartida aos movimentos sociais.

Ontem, recebeu no Palácio frei Betto e Leonardo Boff, a quem garantiu que trabalhará pessoalmente na recomposição de laços com os movimentos sociais. Mais tarde, em uma solenidade com movimentos sociais, reforçou o compromisso com a inclusão, a melhoria de renda e o não sacrifício  dos trabalhadores.

* * *

Indo nessa direção, o futuro Ministério refletirá a diversidade de forças sociais e econômicas do país, trazendo uma enorme lufada de ar fresco ao seu governo.

Resta saber como tratará as seguintes questões:

Os modelos de participação social.

Há uma enorme variedade de fóruns de participação que perderam expressão nos últimos anos: o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), os fóruns de produtividade da ABDI (Agência Brasileira para o Desenvolvimento Industrial), os conselhos e conferências sociais.

Não se sabe como pretenderá agir já que, por incompatibilidade de gênios, perdeu o melhor condutor dessas políticas, Gilberto Carvalho.

2. As políticas integradas de infraestrutura.

Os investimentos em infraestrutura tem potencial para relançar a próxima etapa de crescimento do país. Mas demandam uma preparação cuidadosa, para identificar os principais obstáculos, resolvê-los, montar estratégias para atração de capital privado nacional e internacional, para fortalecer as médias empreiteiras e até para montar um +Engenheiros, aproveitando a enorme capacidade ociosa na Europa.

Esse trabalho estava sendo conduzido por Bernardo Figueiredo, na EPL (Empresa de Planejamento e Logística). Saiu por incompatibilidade de gênios. É importante dar continuidade.

3. As estrategias jurídicas-políticas

É evidente a fragilidade institucional no governo junto ao Judiciário, Polícia Federal e Ministério. Em um ambiente de turbulência institucional, Ministro da Justiça é figura mais relevante que o próprio Ministro da Fazenda.

A Presidente terá dois desafios: nomear um Ministro da Justiça com peso, como foi Márcio Thomas Bastos, capaz de recuperar o profissionalismo da Polícia Federal, dialogar com os tribunais. E, também, indicar Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) com luz própria e suficiente respeitabilidade e caráter para resistir às pressões dos grupos de mídia.

Luiz Nassif
No GGN


O Código do Consumidor como defesa contra a mídia corporativa



Já faz tempo os ideólogos do mercado se lançaram à batalha de reduzir o cidadão à categoria limitada aos objetivos do ente econômico que representam.

Parte de uma guerra semiótica mais ampla, em que até mesmo a história foi declarada como acabada, a propaganda mercadológica empurrou metódica e intensamente a palavra "consumidor" goela abaixo da cidadania indefesa a esse tipo de ataque.

Nesse sentido, para dar um único exemplo, no arcabouço de uma visão privatista do ambiente econômico seria de somenos relevância a opinião de um cidadão de valores nacionalistas, do que o índice de satisfação do consumidor de serviços essenciais, independendo se o fornecedor seja do país ou estrangeiro e para onde migram e são reinvestidas partes dos lucros dessa atividade.

Isto é, o exercício do consumo, nessa ideia de mundo, é mais importante do que o da democracia.

Considerando-se que essas alegações detenham boa correlação com a realidade vivida no Brasil há cerca de duas décadas — para ser mais preciso, desde os anos 90 do século passado — para fins de argumentação, imaginemos, então, um modelo de cidadão, transformado consumidor de informação veiculada pelas vários ramos que compõem a mídia corporativa.

Essa mesma mídia, aliás, adotou essa categorização com tamanha ênfase, a ponto de que alguns de seus conglomerados, depois de martelarem por meio de seus veículos ao longo dos anos para impingir a noção de que eram fornecedores de "produtos" de informação e entretenimento, agora, estão "diversificando atividades" para o florescente mercado de bebidas (nesse caso, literalmente produtos) - na modalidade de clubes de fidelidade 'on line'.

Nosso cidadão-consumidor aficcionado de rádio, leitor de jornais e revistas, espectador de telejornais e, como convém a alguém destes tempos modernos, consulente de grandes portais da internet, de alguns anos para cá — doze ou treze, talvez? — se viu diante de um quadro de deterioração, alteração, avarias, falsificações, corrupção e fraudes dos tais "produtos" da mídia, amplamente provados e comprovados pela crítica especializada que, felizmente, ainda conseguiu refúgio no terreno quase neutro da rede mundial de computadores.

Sendo assim, nosso cidadão-consumidor está diante de um dilema: ou "consome produtos" que, facilmente, poderiam ser enquadrados no Artigo 18; parágrafo 6º; inciso II do Código do Consumidor, ou fica sem esses serviços importantíssimos de formação e satisfação - sim, satisfação... sim, porque ouvir rádio e ver TV já foi fonte de conforto pessoal e de prazer!

Como todo dilema, esta situação aparentemente sem saída pode ensejar novas formas de encarar o problema e soluções criativas para projetar um futuro melhor para o tema.

Nesse caso emerge, das profundezas deste desencantamento, uma possibilidade teórica, mas de grande potencial de contundência no debate público sobre o assunto: exercer, simultaneamente, a cidadania e os direitos do consumidor, e propor ao Ministério Público Federal uma denúncia visando a abertura de uma Ação Civil Pública contra as seis ou sete famílias que dominam a mídia empresarial do país pela péssima qualidade dos serviços e "produtos" que têm oferecido nesses últimos anos.

Cesar Monatti
No GGN


O envelhecimento da Veja na metáfora musical de seu diretor


, DCM

"A queda pode ser corajosa, pode ser digna, pode ser épica.
Ou pode ser cômica e patética.

A queda da Veja vai pelo segundo caminho.


Um episódio é particularmente revelador do anedotário que cercará a transformação de uma grande revista, na Era do Papel, para uma revistinha nos tempos digitais.

Considere.

O presidente da Abril, Fabio Barbosa, procurou o diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara, para tratar de um assunto que o preocupara: o envelhecimento dos leitores da revista.

Este é um drama para qualquer publicação. Nos anos 1980, o Estadão perdeu uma liderança centenária para a Folha exatamente pelo envelhecimento de seus leitores.

Leitor jovem, como qualquer tipo de consumidor jovem, é tudo que os editores querem: isso costuma garantir fidelidade por muito tempo. E é um excepcional fator de atração de anunciantes, também eles em busca de jovens, com seu imenso apetite por consumir, consumir e ainda consumir.

Para jornais e revistas, há um drama adicional: leitores velhos não demoram muito a morrer. É triste, mas é a vida como ela é.

Posto diante do problema do envelhecimento dos leitores, Eurípides se saiu com a seguinte resposta: “Somos que nem o Charles Aznavour. Sempre vamos ter o nosso público.”

Não ficou claro se Fabio Barbosa comprou a resposta. Mas uma frase dessas, numa corporação, jamais morre numa única conversa. Não se sabe bem como, ela passou a ser contada como piada entre os executivos da Abril.
Não é a única.

Gargalhadas explodem quando é rememorada a primeira reunião de Alexandre Caldini, comandante da divisão de revistas da Abril, com os novos subordinados. “Nosso negócio é revista”, disse ele. “Quem não acredita em revista pode levantar e ir embora.” Só faltou, para a perfeição, o fecho justo: “O último apaga a luz, por favor.”

De volta a Aznavour.

Não é algo que possa ser usado como arma de vendas pela equipe de propaganda, naturalmente. Quem anuncia quer um público interessado em consumir mais que bengalas e medicamentos diversos.

O público que lota as exibições de Taylor Swift é mais auspicioso, aos olhos do chamado mercado, do que os veteranos que prestigiam Charles Aznavour.
Fora da comédia, como a Veja se rejuvenesceria para ganhar público jovem?
É a chamada missão impossível.

O conteúdo teria que ser outro, capaz de captar o espírito do tempo. E a mídia, em si, também: o papel morreu.

Dito tudo isso, é divertido imaginar os funerais da Veja com a trilha sonora de Charles Aznavour.

Dance in the old fashioned way."

Abril começa a matar suas revistas impressas


Do DCM

"A Abril decidiu desativar a edição impressa da revista Info. Ela se tornou inviável na Era Digital. Apenas o site será mantido. Numa nota divulgada para a imprensa, o fim da Info foi anunciado num tom quase triunfal.

Abaixo, o comunicado:

A partir de fevereiro de 2015, a revista INFO, um dos maiores títulos de tecnologia e cultura digital do país, passará a ser distribuída exclusivamente nas plataformas digitais (tablets, smartphones e site). “Estamos apostando em um movimento pioneiro, muito coerente com a proposta da revista. Além disso, abrem-se ótimas oportunidades para nossos anunciantes”, afirma Rogério Gabriel Comprido, diretor-superintendente da UN Notícias e Negócios. “A inovação faz parte do DNA da INFO e de seus leitores, e ser uma publicação 100% digital é absolutamente adequado para esse título”, afirma André Lahóz, diretor editorial de Negócios."
 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

“Prefiro o possível e o impossível que Dilma fará do que a política de desemprego cruel que Fraga faria”

“Não vejo nada favorável. O cenário está muito difícil para o Brasil e Dilma vai ter que caminhar no fio da navalha para não se cortar muito. Espero que ela consiga”, avalia o economista.
 
em IHU On-Line

“Os petistas não devem se surpreender” com a possível nomeação de Joaquim Levy para ocupar o Ministério da Fazenda, porque ele “foi escolhido por Lula e é o número dois do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci”, diz Carlos Lessa à IHU On-Line, ao comentar a reeleição de Dilma e as mudanças na política econômica.

Na avaliação do economista, Levy equivale a Armínio Fraga, com uma diferença: “Ele não será igual ao Fraga — ele pensa como Fraga, mas não irá jogar os salários para baixo, porqueDilma não vai concordar com isso”, justamente porque o que diferencia o governo de Dilma de um possível governo Aécio é a manutenção do valor do salário mínimo.

“A diferença que iria acontecer é que, se Aécio fosse eleito, teríamos uma política de massacre do salário mínimo real, enquanto Dilma vai tentar o possível e o impossível para isso não acontecer. Prefiro o possível e o impossível que ela venha a fazer do que a política de desemprego cruel que Fraga iria fazer. Mas, na cabeça da Dilma, também é necessário reduzir os investimentos públicos, elevar a taxa de juros e fazer uma política muito ortodoxa”, pontua.


Lessa salienta que, embora a política da nova presidência não esteja totalmente articulada, “as peças centrais já vieram: mantém-se o presidente do Banco Central, que já sinalizou a elevação dos juros, chama-se  Levy, que era conhecido como ‘homem da tesoura’ no ministério da Fazenda de Palocci e, obviamente, irá cortar gastos. Cortará com mais facilidade os investimentos públicos do que o consumo público. E acontece que o escândalo da Petrobras está produzindo um fenômeno de queda em dominó. Então, é bastante natural que haja um corte nos investimentos públicos”.

Na entrevista concedida por telefone, o economista também comenta os casos de corrupção envolvendo a Petrobras e enfatiza que já tinha uma “aguda sensação” de que havia corrupção na empresa desde a época da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. “Pasadena (EUA) foi um negócio de péssima
qualidade. A compra de outra refinaria no Japão também foi uma estupidez, não vi justificativa para Pasadena e não vi justificativa para comprarem refinarias fora do país, quando o refil no Brasil estava atrasado.

Tinham de ter feito refinarias no Brasil ao invés de comprar Pasadena. Isso para mim é no mínimo uma corrupção ideológica. Mas quando os números vieram, não tive a menor dúvida de que havia roubalheira.”

Outro indício da corrupção, pontua, pode ser evidenciado desde a iniciativa da venezuelana PDVSA de não ficar associada à Petrobras diante dos lucros da refinaria Abreu e Lima. “A refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, teve tanta multiplicação de lucro que a venezuelana PDVSA pulou fora e não quis ficar associada com a Petrobras. Não acho que a administração venezuelana seja um modelo de bom comportamento, mas até eles devem ter ficado assustados com o que viria a acontecer depois”.

Carlos Lessa é formado em Ciências Econômicas pela antiga Universidade do Brasil e doutor em Ciências Humanas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). Em 2002, foi reitor daUniversidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e presidente do BNDES.

Confira a entrevista

IHU On-Line – Qual é o significado econômico e político da reeleição de Dilma?

Carlos Lessa – Essa eleição foi estranha porque as propostas não ficaram absolutamente claras; permaneceram escondidas. Eu vivi boa parte dos meus anos úteis sob um regime autoritário e aprendi a ler nas entrelinhas. Também trabalhei muito com o doutor Ulysses Guimarães e ele me ensinava assim: presta atenção no que não é dito; esquece muito do que é dito. E desde então sou acostumado a fazer isso. Assim, assisti aos debates presidenciais preocupado mais com o que os candidatos não falavam do que com o que falavam e descobri denominadores comuns do que eles não falaram. Nenhum deles falou de crise internacional, de cenário geopolítico mundial, nenhum advertiu que o Brasil estaria caminhando para um cenário desfavorável. Nenhum dos dois disse nada sobre privatização — é interessante, porque esse foi o tema central da eleição Serra x Dilma. Ela não acusou Aécio de ser privatizante e Aécio tampouco a acusou de ser estatizante. Ambos omitiram o tema porque são a favor da privatização. Dilma não podia
jogar isso contraAécio porque ele jogaria contra ela o fato de ter privatizado tanto ou mais que os tucanos. O outro tema retirado de campo — apesar dos escândalos envolvendo a Petrobras — foi a economia do petróleo. É impressionante como não foi dito nada sobre essas questões nos debates.
Para Aécio certamente era necessário expandir a venda de petróleo para o exterior e, para Dilma, essa é a mesma saída imaginada. Inclusive, 48 horas depois das eleições, a presidente da PetrobrasGraça Foster, disse que esperava a cooperação estrangeira para reduzir o esforço financeiro da Petrobras em fazer refinarias e ampliar, por conseguinte, o oxigênio da Petrobras para explorar o pré-sal. O que ela estava fazendo? Abrindo mão do mercado interno brasileiro para o mercado internacional vir para cá e fazer os derivados de petróleo aqui.

Então, “de pato a ganso, há pouco avanço”. Não acho que a proposta implícita do Aécio fosse completamente diferente da proposta implícita da Dilma. Entretanto, ao menos Dilma tem um compromisso fundamental do qual ela não abriria mão: não fazer uma política ativa de redução do poder de compra do salário mínimo; enquanto a primeira coisa que Aécio faria seria isso, usando o Armínio Fraga . Conheço bem Armínio e a primeira coisa que ele faria seria empurrar o juro para cima, paralisar os investimentos públicos e tentar comprimir o salário mínimo porque a tese que eles têm na cabeça hoje é a de que a inflação existente é uma inflação de serviços. Isso é uma maldade.

Vou explicar essa questão: se eu tenho uma renda familiar pequena e ela melhora, a primeira coisa que faço é comer um pouco melhor, mas a segunda coisa que faço é procurar alguns serviços que são necessários, como, por exemplo, ir ao cabeleireiro, comprar produtos, etc. Então, cabeleireiros e manicures prosperam se a renda familiar prospera na base da sociedade. Quando a renda melhora, também se gasta mais com diversão, ou seja, um pedaço importante das rendas das famílias se desdobra em encomendas para prestadores de serviços da sociedade, que são beneficiados pela alta dos salários. O salário mínimo real no Brasil tem um valor de indexador de todos os contratos e serviços dos autônomos. Até o pipoqueiro da esquina calcula o preço da pipoca com base em quantos salários mínimos ele quer receber no final do mês. Isso é interpretado por economistas como Armínio Fraga como inflação de serviços, a qual, para ele, só tem um jeito de combater: abrindo o desemprego.

A diferença que aconteceria é que, se Aécio fosse eleito, teríamos uma política de massacre do salário mínimo real, enquanto Dilma vai tentar o possível e o impossível para isso não acontecer. Prefiro o possível e o impossível que ela venha a fazer do que a política de desemprego cruel que Fraga iria fazer. Mas, na cabeça da Dilma, também é necessário reduzir os investimentos públicos, elevar a taxa de juros e fazer uma política muito ortodoxa.

IHU On-Line – Então, do ponto de vista dos salários, foi melhor a reeleição da presidente?

Carlos Lessa – Para mim foi, tanto que eu votei nela. Votei por essa razão que expliquei, não porque eu espere dela uma administração brilhante. De todo modo, acho que ela não vai aprofundar a recessão, embora seja impossível evitá-la, pois a indústria automobilística e eletroeletrônica não tem mais condições de continuar crescendo, já que as famílias se endividaram. Se elevar o juro, o oxigênio das famílias diminuirá mais ainda. Como a política vai ser de elevar as taxas de juros, a indústria automobilística pode se preparar para períodos mais difíceis. Inclusive, este ano já foi de crescimento menor que o anterior.

IHU On-Line – Como vê a possível nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda?Muitos petistas estão recusando o nome dele e inclusive já publicaram um documento de rejeição.

Carlos Lessa – Os petistas não devem se surpreender, porque o Joaquim Levy foi escolhido por Lula e é o número dois do ex-ministro da Fazenda Antonio PalocciLevy é criação política do PT. A impressão que tenho é de que há uma especulação enorme associada a essa bolsa emocional, porque o Joaquim Levy não resolverá nada. Ele não será igual ao Fraga — ele pensa como o Fraga, mas não irá jogar os salários para baixo, porque Dilma não vai concordar com isso. Ele gostaria de ser o Fraga, com a carta branca que o Aécio daria ao Fraga. Aliás, foi escandaloso Aécio prenomear o Ministro da Fazenda. Na campanha eleitoral, Aécio disse que acabaria com o fator previdenciário, mas, menos de 24 horas depois, Fraga disse que mudanças só seriam acionadas depois de ajustes. O que estou querendo dizer é o seguinte: volto à minha primeira frase, “de pato a ganso, pouco avanço”.

Na verdade, vamos enfrentar um trajeto muito difícil porque o cenário é desfavorável: a China perdeu dinamismo, especialmente aquele que interessava aos países da periferia, onde o Brasil está. A tendência chinesa será achatar o preço das commodities e empurrar para baixo os preços das manufaturas. A estratégia do governo Lula de vender commodities a preços altíssimos não vai mais funcionar. Então, no cenário internacional, a Europa não sabe ainda para onde vai, porque depende do combustível que vem da Rússia e da boa vontade norte-americana. Então, está aí uma queda de braço expressiva. E se os americanos empurrarem os juros para cima — e a tendência deles é essa —, a estratégia da periferia fica mais difícil. Por isso, Dilma vai elevar os juros.

IHU On-Line – Nesse cenário será ainda mais difícil recuperar o crescimento?

Carlos Lessa – Muito difícil. Qualquer empresário minimamente “antenado” percebe isso e vai recuar. A tendência é que o investimento privado fique mais cauteloso.

IHU On-Line – A política econômica de Dilma já está definida? Tende a haver alguma mudança?

Carlos Lessa – A política da nova presidência não está totalmente articulada, mas as peças centrais já vieram: mantém-se o presidente do Banco Central, que já sinalizou a elevação dos juros, chama-se Levy, que era conhecido como “homem da tesoura” no ministério da Fazenda de Palocci e, obviamente, irá cortar gastos. Cortará com mais facilidade os investimentos públicos do que o consumo público. E acontece que o escândalo da Petrobras está produzindo um fenômeno de queda em dominó. Então, é bastante natural que haja um corte nos investimentos públicos.

IHU On-Line – Os cortes de gastos serão apenas de investimentos públicos, ou de políticas sociais? Recentemente economistas assinaram um manifesto  contra políticas de ajuste fiscal que tivessem impacto nas políticas sociais. O senhor assinou o manifesto e como vê essa proposta neste momento?

Carlos Lessa – Conheço
esses economistas, mas não assinaria esse manifesto porque me coloquei, desde 2004, numa posição crítica em relação ao que estava sendo feito. Esses economistas que assinaram o manifesto, corretamente pediram para não cortar, mas na ocasião do pico da prosperidade que o Brasil viveu não foram capazes de ajudar a construir salvaguardas e agora estão chorando a falta delas. Junto meu choro com o deles, mas certamente o governo vai cortar e é por isso que Levy foi escolhido para o Ministério da Fazenda. Hoje os jornais anunciam que ele conseguiu carta branca da presidente; duvido que tenha conseguido carta branca total, mas deve ter conseguido muita carta branca.

IHU On-Line – Como vê a escolha do Levy diante do massacre do PT à candidatura de Marina?

Carlos Lessa – Esse é um problema para os falecidos se entenderem. A Marina passou a ser a ser a sacerdotisa da mudança, mas foi apresentada como não política, sendo que a trajetória dela é política: foi deputada, senadora duas vezes, ministra de Estado; é altamente política. E mais: altamente comprometida com a política que foi feita dos anos 2000. Ela foi companheira. É realmente difícil perceber que há uma mudança em relação à Dilma. Elas são muito parecidas. Aliás, Marina disse: “Vou governar com os melhores”, como se tivesse alguém que dissesse que iria governar com os piores. Que mudanças ela iria fazer? Mudanças de comportamento, ou seja, chamar os melhores do PT e os melhores dos tucanos. Não foi isso que ela falou?

IHU On-Line – Sim, foi isso que ela disse, mas, em contrapartida, o PT disse que faria uma política distinta da dela e a criticou por se aliar aos “banqueiros e ao sistema financeiro” e agora surge o nome de Levy, como já surgiu o de Trabuco, dois banqueiros.

Carlos Lessa – Essas são as lealdades “parentais”, quer dizer, a cultura política brasileira converteu, infelizmente, o mandato em patrimônio familiar e o voto em mercadoria. Trata-se de um processo de votação com a presença maculada de dinheiro comprando votos, e há um processo de preservação de mandato por direito hereditário, porque o fato de filhos e sobrinhos serem eleitos é impressionante. E isso é uma indicação clara do grau de corrupção que está por aí.

IHU On-Line – Quais serão as principais dificuldades do próximo ano e a que essas dificuldades estão atreladas considerando que há uma sucessão de governos petistas nos últimos 12 anos?

Carlos Lessa – A primeira grande dificuldade é a situação externa, porque o cenário externo está cada vez pior para o Brasil. A irresponsabilidade de colocar ações da Petrobras na Bolsa de Nova Iorque está chegando numa situação que me angustia muito. Eu quero resolver a crise moral, institucional e econômica da Petrobras. Quero que essa empresa volte a ser o sonho de modernidade do país, quero que o Brasil assuma seu papel na geopolítica internacional a partir da exploração de petróleo do Atlântico Sul. Porém, sei que isso não é objeto de desejo dos irmãos do Norte.

Mas o que os americanos conseguiram com o escândalo da Petrobras? Que fosse transferido para o Ministério da Justiça americano e para a Comissão de valores imobiliários de Wall Street o papel de monitorar a política brasileira. O poder de negociação que agora tem o grande irmão do norte em relação ao governo brasileiro é total. Nunca imaginei que haveria uma transferência da decisão sobre o futuro do Brasil para a Bolsa de Nova Iorque e o Departamento norte-americano. Não vejo nada favorável. O cenário está muito difícil para o Brasil, e Dilma vai ter que caminhar no fio da navalha para não se cortar muito. Espero que ela consiga.

IHU On-Line – O senhor é um defensor da Petrobras. Como está recebendo as notícias de corrupção na estatal, que envolve desde a direção da Petrobras, parlamentares e empresários?

Carlos Lessa – Que havia corrupção na Petrobras eu tinha aguda sensação, porque Pasadena (EUA) foi um negócio de péssima qualidade. A compra de outra refinaria no Japão também foi uma estupidez, não vi justificativa para Pasadena e não vi justificativa para comprarem refinarias fora do país, quando o refil no Brasil estava atrasado. Tinham de ter feito refinarias no Brasil ao invés de comprar Pasadena. Isso para mim é, no mínimo, uma corrupção ideológica. Mas, quando os números vieram, não tive a menor dúvida de que havia roubalheira.

Por outro lado, a refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, teve tanta multiplicação de lucro que a venezuelana PDVSA  pulou fora e não quis ficar associada com a Petrobras. Não acho que a administração venezuelana seja um modelo de bom comportamento, mas até eles devem ter ficado assustados com o que viria a acontecer depois. Nas entrelinhas, as ações da Petrobras me davam muita tristeza. Ouvi um presidente da empresa dizer que a coisa mais importante para eles é honrar os acionistas, ou seja, não o povo brasileiro, mas Wall Street, onde está quase 40% do capital da Petrobras.

IHU On-Line – A crise da Petrobras pode gerar uma instabilidade política? Logo após a eleição, alguns grupos pediram o impeachment da presidente.

Carlos Lessa – Toda situação política tem os que exacerbam e essas manifestações são quase patológicas, mas o fato é que há a possibilidade de impeachment  se houver muito escândalo. Mas se o escândalo se restringir a senadores e pessoas ligadas a instituições e empresas, como se faz um impeachment? Não sei.

Não posso fazer o tipo de reflexão no sentido de saber se a presidente tinha ou não conhecimento sobre a corrupção da Petrobras. Acho que ela, como ex-ministra de Minas e Energia, tem muita responsabilidade com a crise de suprimentos de energia elétrica no país. Ela foi ministra e tomou as decisões de aumentar as termoelétricas, que são poluentes. Essa foi uma das razões pelas quais entrei em conflito com o governo Lula e por isso fui demitido. Portanto, tem muito da assinatura de Dilma nos erros da política energética brasileira, mas não acho que ela tenha conivência com corrupção. Mas ela tem pouco jogo de cintura, e aí dá para desconfiar."

Dilma começa, pelo PT, seu ajuste na política

Teresa Cruvinal - 28/11/2014




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Tereza CruvinelA presidente Dilma começa, pelo PT, a fazer agora seu ajuste na política. Depois das críticas de setores do partido e de sua militância à escolha dos ministros da área econômica, ela participa hoje, em Fortaleza, da primeira parte da reunião do Diretório Nacional do PT. As dúvidas sobre sua foram dirimidas com a inclusão do evento em sua agenda oficial de hoje. No encontro, ela deve defender as escolhas de Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, assegurando que o ajuste fiscal será gradual e que a meta de superávit primário anunciada nesta quinta-feira – 1,2% do PIB para 2015 e de 3% para os anos seguintes – não trará recessão, terá foco no crescimento econômico e preservará as políticas sociais.

Este é o segundo ponto de tensão na relação entre ela e o partido. Até agora não houve conversa alguma sobre os demais ministérios. Dilma já convidou Katia Abreu, do PMDB, para Agricultura, sem ouvir o próprio partido dela. Reconheceu a gafe e prometeu mais quatro ministérios ao PMDB, afora a manutenção de Moreira Franco na SAC. Seriam eles Henrique Alves, Eliseu Padilha, Eduardo Braga e Eunício Oliveira. E como Dilma ainda tem que acomodar o PP, o PROS, o PROS e o PC do B, o PT receia perder espaços. O Gabinete Civil e a Secretaria-Geral da Presidência têm titulares petistas mas estas são pastas tidas como da cota pessoal da presidente, por integrarem a estrutura da própria Presidência. As outras são Educação, Saúde, Desenvolvimento Social, Reforma Agrária, Justiça, Direitos Humanos, Relações Institucionais, Comunicações e Igualdade Racial.

Outro ponto importante na relação entre Dilma e o PT é a reforma política, que o partido transformou em bandeira a partir das manifestações de 2013 e do segundo grande escândalo de corrupção, o da Petrobrás, relacionado, como o do mensalão, ao
financiamento da política. O PT defende um plebiscito sobre a reforma política, o voto em lista e o fim do financiamento privado de campanhas.

Dilma, na campanha, defendeu a proposta mas depois não voltou ao assunto. No mundo da política todo mundo sabe. Reforma política é assunto que se enfrenta no início do governo, ou então não se fala mais nisso, porque não vai sair. Ele também deve entrar na pauta da reunião de Fortaleza.
Tereza Cruvinel atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação - EBC - e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247.