MARCOS COIMBRA - no Estado de Minas
No cenário que vivemos desde o início do ano, é difícil entender os motivos que levam o governador de São Paulo a insistir na cautela. Dentro do PSDB, ninguém mais discute quem vai ser o candidato. No conjunto das oposições, ela só gera impaciência
Quando os historiadores do futuro forem analisar as eleições presidenciais de 2010, um dos capítulos mais interessantes será o que trata do sentido de tempo do governador José Serra. Até lá, é possível que alguém já o tenha decifrado. Para quem vive o presente, no entanto, é um mistério.
Os simpatizantes mais entusiasmados de sua candidatura dizem que o compreendem. Mas são só eles. Mesmo muitos de seus correligionários têm dificuldade de entender seu comportamento na altura em que estamos.
Para quem, como ele, liderava as pesquisas desde 2007, o certo era agir do modo que agia. Embora fosse óbvio que pretendia se candidatar, não havia razão para assumi-lo tão prematuramente. Se o fizesse, tudo que dissesse, qualquer coisa que acontecesse no seu governo cresceria de tamanho, sempre de maneira negativa. E o pior é que, em troca, a visibilidade não lhe traria qualquer benefício, por já ser bem conhecido da opinião pública nacional. Nem sequer a velha “falem bem ou mal, mas falem de mim” o atraía, por conseguinte.
Quando Aécio resolveu questionar a inexorabilidade da candidatura, mais ainda se justificava uma postura de cautela. Se havia dois nomes em disputa, ambos em condições de representar o PSDB na eleição, nenhum podia posar de candidato oficial. Aliás, nenhum o era.
Isso foi bom para Serra, pois permitiu que mantivesse a candidatura quieta em seu canto, protegida dos riscos da exposição antecipada. Era tão bom que muita gente chegou a pensar que estava mancomunado com Aécio, que fingia ser candidato apenas para servir de biombo para seu companheiro.
De dezembro para cá, as coisas mudaram. Quando tomou a decisão de retirar seu nome da disputa pela indicação tucana, Aécio mostrou que a candidatura não era um simples jogo de cena, uma manobra articulada com Serra. Mas ele foi além ao anunciá-la, deixando claro que aceitava a decisão de seu partido de não escolher entre as duas opções que estavam postas. Assim fazendo, de ficar com Serra.
No cenário que vivemos desde o início do ano, é difícil entender os motivos que levam o governador de São Paulo a insistir na cautela. Dentro do PSDB, ninguém mais discute quem vai ser o candidato. No conjunto das oposições, ela só gera impaciência. Quanto ao governo, tanta prudência em nada inibe as movimentações (se não provoca o oposto) e deixa o terreno livre para o crescimento de Dilma.
Do que será que Serra imagina que se poupa ao retardar o que qualquer outro político já estaria fazendo? Apenas por hipótese, se, por exemplo, tivesse acontecido o inverso no PSDB, ele deixando a vaga para Aécio, não teríamos hoje o governador de Minas em plena campanha? Ou alguém imagina que Aécio estaria recolhido em cuidadoso silêncio? Quem tem responsabilidade de governo não pode se dedicar em tempo integral à política, mas muito se pode fazer sem ultrapassar os limites que se devem respeitar nesses casos.
Seja na discussão de um programa alternativo à proposta de continuidade que caracteriza a candidatura Dilma, seja na procura de entendimentos políticos e com a sociedade civil, junto a movimentos sociais, segmentos organizados, grupos de interesse, há muito a fazer na construção de uma candidatura das oposições. Nada se ganha deixando tudo para depois, para uma “hora certa” que ninguém sabe qual é.
Daqui a algumas semanas, Serra terá que renunciar a seu cargo. Ou seja, vai passar os próximos seis meses enfrentando a dura tarefa de ser candidato, sem nenhum anteparo. Será que ganhou alguma coisa não o sendo desde dezembro? Será que vai ganhar algo esperando que março termine?
Por enquanto, sua cautela só tem uma consequência: manter uma dúvida sempre no ar, sobre se vai mesmo ser candidato ou não. Uma incerteza que, a crer na imprensa de São Paulo, contagia seu partido. Não foi em um dos principais jornais do estado que lemos, outro dia, que o PSDB faz “tentativa para tornar irreversível a candidatura de Serra”? Contra quem é preciso fazer essa “tentativa”? Se não é contra o PSDB e os partidos de oposição, nem contra o PT e o governo (que nada têm a ver com isso), contra quem seria? O próprio Serra?
Quando os historiadores do futuro forem analisar as eleições presidenciais de 2010, um dos capítulos mais interessantes será o que trata do sentido de tempo do governador José Serra. Até lá, é possível que alguém já o tenha decifrado. Para quem vive o presente, no entanto, é um mistério.
Os simpatizantes mais entusiasmados de sua candidatura dizem que o compreendem. Mas são só eles. Mesmo muitos de seus correligionários têm dificuldade de entender seu comportamento na altura em que estamos.
Para quem, como ele, liderava as pesquisas desde 2007, o certo era agir do modo que agia. Embora fosse óbvio que pretendia se candidatar, não havia razão para assumi-lo tão prematuramente. Se o fizesse, tudo que dissesse, qualquer coisa que acontecesse no seu governo cresceria de tamanho, sempre de maneira negativa. E o pior é que, em troca, a visibilidade não lhe traria qualquer benefício, por já ser bem conhecido da opinião pública nacional. Nem sequer a velha “falem bem ou mal, mas falem de mim” o atraía, por conseguinte.
Quando Aécio resolveu questionar a inexorabilidade da candidatura, mais ainda se justificava uma postura de cautela. Se havia dois nomes em disputa, ambos em condições de representar o PSDB na eleição, nenhum podia posar de candidato oficial. Aliás, nenhum o era.
Isso foi bom para Serra, pois permitiu que mantivesse a candidatura quieta em seu canto, protegida dos riscos da exposição antecipada. Era tão bom que muita gente chegou a pensar que estava mancomunado com Aécio, que fingia ser candidato apenas para servir de biombo para seu companheiro.
De dezembro para cá, as coisas mudaram. Quando tomou a decisão de retirar seu nome da disputa pela indicação tucana, Aécio mostrou que a candidatura não era um simples jogo de cena, uma manobra articulada com Serra. Mas ele foi além ao anunciá-la, deixando claro que aceitava a decisão de seu partido de não escolher entre as duas opções que estavam postas. Assim fazendo, de ficar com Serra.
No cenário que vivemos desde o início do ano, é difícil entender os motivos que levam o governador de São Paulo a insistir na cautela. Dentro do PSDB, ninguém mais discute quem vai ser o candidato. No conjunto das oposições, ela só gera impaciência. Quanto ao governo, tanta prudência em nada inibe as movimentações (se não provoca o oposto) e deixa o terreno livre para o crescimento de Dilma.
Do que será que Serra imagina que se poupa ao retardar o que qualquer outro político já estaria fazendo? Apenas por hipótese, se, por exemplo, tivesse acontecido o inverso no PSDB, ele deixando a vaga para Aécio, não teríamos hoje o governador de Minas em plena campanha? Ou alguém imagina que Aécio estaria recolhido em cuidadoso silêncio? Quem tem responsabilidade de governo não pode se dedicar em tempo integral à política, mas muito se pode fazer sem ultrapassar os limites que se devem respeitar nesses casos.
Seja na discussão de um programa alternativo à proposta de continuidade que caracteriza a candidatura Dilma, seja na procura de entendimentos políticos e com a sociedade civil, junto a movimentos sociais, segmentos organizados, grupos de interesse, há muito a fazer na construção de uma candidatura das oposições. Nada se ganha deixando tudo para depois, para uma “hora certa” que ninguém sabe qual é.
Daqui a algumas semanas, Serra terá que renunciar a seu cargo. Ou seja, vai passar os próximos seis meses enfrentando a dura tarefa de ser candidato, sem nenhum anteparo. Será que ganhou alguma coisa não o sendo desde dezembro? Será que vai ganhar algo esperando que março termine?
Por enquanto, sua cautela só tem uma consequência: manter uma dúvida sempre no ar, sobre se vai mesmo ser candidato ou não. Uma incerteza que, a crer na imprensa de São Paulo, contagia seu partido. Não foi em um dos principais jornais do estado que lemos, outro dia, que o PSDB faz “tentativa para tornar irreversível a candidatura de Serra”? Contra quem é preciso fazer essa “tentativa”? Se não é contra o PSDB e os partidos de oposição, nem contra o PT e o governo (que nada têm a ver com isso), contra quem seria? O próprio Serra?
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
Nenhum comentário:
Postar um comentário