quinta-feira, 13 de maio de 2010

Brasil, raízes

Francisco Solano de Lima - João Pessoa - PB


A História do Brasil sempre foi ensinada de forma fragmentada e superficial, onde fatos relevantes foram omitidos, distorcidos, maqueados. Foi o que aconteceu com a história da escravidão, que englobou os brasílicos e especialmente os negros.

A elite dominante sempre procurou ser diferente do povo brasileiro. Mas, essa minoria brasileira, branca, rica e esnobe descende dos portugueses e espanhóis, que já eram mestiços e traziam o sangue do mouro, do celta e ainda de outros povos. Na verdade o povo brasileiro tem como base a herança do capitão-mor, do brasílico, do negro, do mameluco, do mulato, do degredado. Eis a realidade irreversível.

O negro brasileiro, seja na condição de escravo, alforriado ou liberto, foi um agente ativo da história. Revoltou-se, rebelou-se, praticou a luta de guerrilha e fez a sua própria guerra em busca da liberdade perdida. Guerra que durou quase cem anos, sustentada heroicamente por homens e mulheres, entre os quais, a princesa Aqualtune, o rei Ganga Zumba e o rei Zumbi dos Palmares, nomes emblemáticos dessa luta.

O povo afro-brasileiro esteve atuante em todos os momentos da vida brasileira. Foi assim na fase colonial (com os portugueses, espanhóis, holandeses, luso-brasileiros), depois na fase imperial e republicana. Esteve em todas as guerras, ora como escravos carregadores dos apetrechos de guerra, ora como combatentes voluntários alforriados, ora como homens livres.

No Brasil, nenhum movimento liberal colocou no seu programa a abolição dos escravos, nem a Inconfidência Mineira. Faz excessão a regra apenas o movimentto da Inconfidência Baiana, que ocorreu dez anos depois, liderada por mestiços, negros escravos e alforriados, na qual quatro líderes foram enforcados e tiveram uma conduta heróica diante dos seus algozes.

No Nordeste, veio o movimento liberal de 1817, de 1824, de 1848, e nenhum deles apoiou a abolição, eram liberais sinceros mas escravistas, motivo pelo qual paravam neste ponto. Em 1850 somente três países ainda mantinham a escravidão: Estados Unidos, Cuba e o Brasil.

O Império do Brasil criou em 07 de janeiro de 1864, os Voluntários da Pátria, movimento para arregimentar combatentes para a Guerra do Paraguai. Nesta fase, muitos senhores alistavam escravos para irem lutar em seu lugar. Dos 160 mil brasileiros mortos nessa guerra, 90 mil eram negros, portanto mais da metade. Apesar de tudo, a guerra terminou e a escravidão continuou.

O Brasil foi o último país das Américas a extinguir a escravidão. Castro Alves, genial poeta baiano abolicionista e republicano, faleceu em 1871 com apenas 24 anos sem pode assistir o final da escravidão. Rui Barbosa, senador baiano e ministro do Império do Brasil, mandou queimar os arquivos oficiais dessa fase da história brasileira, talvez para evitar que fosse revelado os casos de alta vilania.

O Brasil tenta se redimir, atualmente é o primeiro e único país do mundo que criminalizou o racismo, agora punido, mesmo que seja uma agressão verbal, o agressor pode ser condenado a uma pena que varia de 1 a 3 anos, conforme a lei contra o racismo, a Lei Afonso Arinos. Além disto, programas sociais foram adotados, entre os quais, o das cotas nas universidades, que visam dimininuir a enorme dívida social brasileira com os afro-brasileiros.

Em 2005, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, em nome do Brasil, pediu oficialmente, perdão aos negros brasileiros. Em 2008, sancionou a lei de anistia póstuma ao chefe João Cândido Felisberto (1880-1969) e aos participantes. O presidente Lula esteve ainda na solenidade em homenagem ao Almirante Negro, cuja estátua foi inaugurada na Praça XV, na cidade do Rio de Janeiro.

Recentemente, o presidente Lula inaugurou o navio João Cândido, cujo nome homenagea o bravo marinheiro, líder máximo da Revolta da Chibata, que aconteceu em novembro de 1910, na Baía da Guanabara, Rio de Janeiro. Neste 13 de maio, digo, parodiando a letra da música de Aldir Blanc: "... O dragão do mar reapareceu...". Mas, a luta continua.

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