quarta-feira, 19 de maio de 2010

EUA: Um presidente com poder em declínio

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RICHARD COHEN – The Washington Post – O GLOBO

No início do mês, o presidente Barack Obama foi à Louisiana para verificar os estragos provocados pela explosão de uma plataforma de petróleo da British Petroleum, manter as equipes de limpeza na ponta dos cascos — nada de dizer “ei, vocês estão fazendo um trabalho dos diabos”, como o ex-presidente Bush — e mostrar aos estados na costa do Golfo e ao resto do país sua preocupação.

No dia 3 de maio, o site do “Washington Post” na internet colocou a notícia precisamente no lugar adequado — enterrada no meio da página. Com isto queria dizer que o presidente dos Estados Unidos, neste caso, não tinha muito a fazer.

Todo mundo sabia que Obama estava meramente mostrando que não é George W. Bush. Ele não iria ignorar uma calamidade, especialmente uma que afetasse Nova Orleans e a costa do Golfo. Por outro lado, todos sabíamos que ele não poderia reverter os ventos nem arrolhar o vazamento. Na verdade, ele podia fazer muito pouco, a não ser mostrar sua preocupação.

Foi um momento simbólico — a maré de óleo ameaçando a costa, movendose a seu bel-prazer, da mesma forma como parecem estar os fatos pelo mundo. Estamos acostumados a presidentes americanos serem supremamente importantes, quando menos pela razão de que comandam a força militar mais poderosa do mundo. Mas nós devemos avaliar também que a importância do presidente, em termos de ser capaz de influenciar os fatos, está declinando.

No Oriente Médio, nada que Obama tentou tem feito muita diferença.

Na Europa, o euro cambaleia. Crítica como é esta moeda, ela é muito menos importante que o conceito de integração europeia sobre a qual está baseada. Nós tendemos a esquecer que a Europa é a sede de guerras horrorosas — duas vezes no século passado nós estivemos envolvidos. E se você incluir a Rússia como parte da Europa, como alguns russos insistem em fazer, teríamos que contar a Guerra Fria também. Quanto à Rússia, ela se lixa para as queixas americanas e se move progressivamente para trás — não é uma democracia europeia, mas outra coisa.

Na periferia da Europa está a Turquia, lutando para restabelecer algo da influência que o Império Otomano teve um dia na região. Ela pode estar se tornando também um Estado mais islâmico, possivelmente após concluir que cem anos do secularismo de Mustafa Kemal Ataturk foram suficientes.

Qualquer que seja o caso, não há muito o que possamos fazer sobre a Turquia. Ela não precisa mais dos Estados Unidos como um aliado na Guerra Fria, e até mesmo bloqueou nosso acesso militar ao Iraque no início da guerra. A declinante influência americana do presente não pode mais conter a influência do passado otomano. Israel, cuidado.

A China também está fora de nosso alcance. Em alguns casos, precisamos mais dela do que ela de nós. Devemos dinheiro a Pequim. Compramos produtos da China. Respeitamos sua força crescente. Lamentamos nosso poder decrescente. Ocultamos nossa preocupação com os direitos humanos. Somos uma superpotência.

Mas contra o quê? Os conser vadores americanos olham as derrotas e os desapontamentos e fulminam Obama. Chamamno de fraco e inepto — e certamente, em algumas áreas, ele tem sido ambas as coisas. Mas estão errados em pensar que outra pessoa faria muita diferença. Os tempos mudaram. O poder dos Estados Unidos está reduzido — em termos relativos, mas em termos absolutos também. Como uma superpotência, os Estados Unidos invadiram o Iraque. Saddam é poeira. Mas esta guerra “rápida” está agora em seu oitavo ano.

Em 1987, Paul Kennedy publicou “Ascensão e queda das grandes potências”.

Isto criou uma zoeira porque, entre outras coisas, previu o declínio relativo e absoluto dos Estados Unidos. Kennedy atribuiu isto à sobrecarga dos militares e aos gastos do governo — problemas que desde então passaram de teóricos a agudos.

Fazemos mais guerras do que nosso dinheiro permite.

A necessidade de mencionar Kennedy magoa. Sugere inevitabilidade, como se os Estados Unidos fossem o Império Romano ou o Britânico, e como se o passado estivesse destinado a se repetir no futuro. Podemos gastar menos, aumentar impostos, renunciar a guerras que escolhemos fazer, reformar o Congresso e parar de confundir a fama que cerca a Presidência com poder real.

Obama presidindo o “impresidível”, tomando conta do incompreensível, toda a panóplia do poder sem sentido — Air Force One, Marine One, a limusine, a escolta de motociclistas, a maleta com os códigos nucleares —, tudo significando, no caso, um homem investindo contra o mar, uma lição sombria para todos nós. O vazamento de óleo continua.

A guerra continua. A dívida aumenta — e então, para muitos de nós, aumenta também a recusa.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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