domingo, 2 maio, 2010 às 10:38
Ninguém duvida de que o jornalista Elio Gaspari seja um dos melhores textos da imprensa brasileira. Muito menos que seja dos mais influentes. Mas hoje, ao arvorar-se no papel de juiz de política e de marqueting eleitoral, dando o título de “Dilma está sob o efeito da Lei de Murphy” ao principal texto de sua coluna ele se expõe , também, a ser analisado, como qualquer um que emite publicamente uma opinião.
É da democracia, e eu espero que o Sr. Gaspari reconheça aos outros o direito que ele próprio tem de analisar.
Acho que quem está sob o efeito da Lei de Murphy é o ilustre jornalista. Na quarta-feira, publicou um artigo sob o título “Lula e o risco do pitoresco ao ridículo”, onde dizia que:
“A distância do improvável ao pitoresco é pequena e quase sempre benigna. Do pitoresco ao ridículo é imperceptível, porém maligna. O operário pobre que chega à presidência de um país de 190 milhões de habitantes é uma história de sucesso em qualquer lugar do mundo.
Não se pode dizer o mesmo do monoglota que tem o seu nome oferecido para a secretaria-geral da ONU, ou do latino-americano que sai pelo Oriente Médio oferecendo uma mediação desconexa, risivelmente ingênua, na opinião pouco protocolar atribuída à secretária de Estado Hillary Clinton.”
Como dizemos aqui no Rio, o artigo foi um “mico” : no dia seguinte, aquele “monoglota” é escolhido pela Time para o topo de sua lista de líderes mais influentes do mundo. A mídia fez o que pode para desqualificar a notícia e, talvez sem perceber, acabou por fazer com que o delírio serrista a desqualificasse. Talvez pelos maus hábitos adquridos com a imprensa brasileira, o líder do DEM, Paulo Bornhausen, um dos convocados a dar sua palavra contra a escolha da revista americana, disse que isso poderia ser o resultado de algum “patrocínio estatal” à publicação.
Com mais sofisticação, Gaspari trabalha para desqualificar a diplomacia brasileira – a mesma que levou Lula àquela lista da Time. Uma hora é a visita a Cuba, outra a defesa de que o Irã possa desenvolver energia nuclear para fins pacíficos ou a disposição do país atuar como mediador na crise do Oriente Médio.
Para desqualificar a oferta de Lula, por sinal muito bem recebida pelo presidente de Israel, Shimon Peres, Gaspari a tachou de “desconexa”, e, para reforçar seu argumento, socorreu-se da secretária de Estado norte-americano Hillary Clinton, que a teria considerado “risivelmente ingênua”.
Não posso afirmar, porque não sou adivinho, como Gaspari, mas desconfio que foi para ele que Lula dedicou um trechinho de seu discurso no Dia do Trabalhador:
“A elite (brasileira) dizia que eu não falava inglês, mas meu coração pensa brasileiro, meu coração pensa o povo brasileiro”.
Gaspari diz , na abertura de seu artigo, na chama publicada pela Folha, que ” O que pode dar errado errado(para Dilma) dá, enquanto Serra é aplaudido até quando promete vento”. Aplaudido por quem? Que Serra seja aplaudido e Dilma criticada nos jornais onde o sr. Gaspari escreve, sabe ele, não é notícia. Qual é o teste de rua a que Serra se submeteu?
A Lei de Murphy a que ele se refere não vale para Serra? O sr. Gaspari poderia escrever assim:
“Tudo dá errado para Serra: apenas cinco dias depois de apresentar-se como um sucesso em matéria de combate à violência, José Serra viu-se atropelado pelos cruéis 23% de aumento no número de homicídios na capital paulista”.
Faço a ressalva, porém, de que ele talvez não tenha lido a notícia, se não está em São Paulo, uma vez que a Folha sonegou aos leitores de outros estados não apenas sua manchete de ontem, mas a própria notícia.
Assim, a coluna de Gaspari, tão respeitada que é, acaba virando pitoresca. E do pitoresco ao ridículo, como ele mesmo escreveu, a distância é imperceptível.
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