domingo, 16 de maio de 2010

Os lobos, em off, mostram as garras

Passou meio despercebida matéria da Reuters no final de abril que ouviu dois integrantes da equipe de campanha de José Serra. O Globo republicou a nota, discretamente e atenção maior só teve mesmo na coluna de Emiliano José, na Carta Capital. Na matéria, em off, que revelaram a primeira medida do tucano caso fosse eleito: um profundo ajuste fiscal.

Para bom entendedor, ajuste fiscal significa cortes. Podem ser em despesas, em salários, em aposentadorias, em serviços e nos investimentos públicos. Os capas-preta de Serra falam em renegociação de contratos e corte de despesas da máquina pública, mas se apressam em dizer que ele preservaria os programas sociais. Trata-se do velho choque de gestão que tanto apregoam e cujas conseqüências já vimos quando detiveram o poder.

O discurso é estreito e de direita, apesar de travestido de termos de “esquerda”. Parte do pressuposto de que o governo gasta muito. Ignora que o mundo viveu a maior crise econômica da história depois de 1929, e que o Brasil conseguiu se livrar rápido dela aumentando seus investimentos e ampliando os créditos.Eles têm pavor do que em economia se chama de políticas anti-cíclicas, isto é, a ação do Estado para reverter os ciclos – cada vez mais frequentes – da expansão do investimento capitalista.

A preocupação primordial dos tucanos é com o superávit primário para pagar as despesas com juros e não com as pessoas.

Os economistas de Serra dizem que ele será o ministro da Fazenda e presidente do Banco Central de seu próprio governo. Os bancos públicos, protagonistas na concessão de crédito que ajudou a segurar o país na crise, seriam obrigados a recuar, já que no entender tucano contribuem para aumentar a pressão inflacionária ao aquecer demasiadamente a atividade econômica. É o único tema que têm, controle da inflação. Falam isso desde 1994, embora a questão esteja totalmente resolvida.

Segundo os economistas ouvidos pela Reuters, banco estatal é para cobrir nichos que o mercado não entra ou para moderar o próprio mercado. É a volta do que vimos nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Preponderância do mercado e redução da atuação dos agentes públicos aos locais deficitários. Assim, terão prejuízo e depois podem ser facilmente privatizados.

A equipe econômica de Serra também considera que as desonerações que o governo Lula deu a vários setores para segurar os preços e garantir que o consumo se mantivesse aquecido foram exagerados. “Não precisava dar para toda a linha branca e depois para móveis. No caso dos automóveis poderia ter parado quando estabilizou”, afirmaram os dois economistas tucanos. Mais uma vez, a preocupação é com arrecadação e não com o aquecimento da economia e manutenção do nível de emprego.

Essa entrevista ficou meio disfarçada no noticiário por tudo que revelou. Apesar do neolulismo de Serra, os tucanos continuam os mesmos, com discurso de superávit, controle da inflação, crescer primeiro para depois dividir o bolo. Sempre colocam a economia à frente da política, os números antes das pessoas. Não enganam ninguém. Como disse muito bem Dilma, que descarta ajuste fiscal, são lobos em pele de cordeiro.

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