domingo, 16 de maio de 2010

Xeque-mate?

16/05/2010

Entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2006, Datafolha,

Ibope e Sensus também se estranharam - Sensus venceu.

Conforme previ ao engendrar a representação à Justiça Eleitoral pedindo investigação das pesquisas, elas voltam à cena para confirmar como era necessário tomar uma atitude para impedir – ou para tentar impedir – que continuassem sendo usadas livremente para influir na vontade do eleitor e no ânimo de aliados políticos e financiadores de campanhas. Como já disse outras vezes, tal medida poderá mudar o rumo desta eleição, pois há uma fartura de estudos que mostram o poder dessas pesquisas de influir na vontade do eleitorado, pois há uma parcela da sociedade, distribuída por várias classes sociais e regiões do país, que prefere votar em quem parece que vai vencer.

Quando o Datafolha soltou a segunda pesquisa, em poucos dias (entre o fim de março e meados de abril), apresentando forte divergência das outras – inclusive da pesquisa Ibope, que, como a Vox Populi e a Sensus, mostrava a “boca do jacaré” se fechando –, concomitantemente com uma ampla campanha na grande imprensa do PSDB visando desqualificar a pesquisa Sensus (início de abril), a qual já indicava a ascensão de Dilma Rousseff, percebi que, até próximo às eleições, aquela prática se tornaria recorrente, convertendo-se numa poderosa arma da campanha tucana para manter o ânimo da militância pró-Serra nas ruas e na mídia e para influenciar o eleitorado.

Funcionaria assim: a mídia desacreditaria os institutos técnicos em benefício dos institutos engajados politicamente, ou seja, do Datafolha – pertencente ao jornal que tem atuado para induzir a vontade dos agentes políticos valendo-se de acusações até à sexualidade do presidente da República e de falsificações como a da ficha policial falsa de Dilma, fabricada por meliantes a soldo do DEM de Santa Catarina com seus blogs apócrifos hospedados no exterior – e do Ibope – cujo presidente anunciou como certa vitória de José Serra, ainda que agora tenha recuado – e estes institutos criariam um clima de já ganhou na campanha tucana até onde fosse possível.

Meus leitores mais antigos sabem que venho denunciando manipulações de pesquisas desde bem antes de criar este blog, há quatro anos e tanto. Já no tempo em que escrevia no Observatório da Imprensa eu denunciava o uso fraudulento de pesquisas. E, neste blog mesmo, bradei no deserto durante anos sobre a manipulação de pesquisas – e quem tiver paciência para pesquisar nos seus arquivos verá quantas vezes escrevi sobre o assunto e quantas vezes colocaram em dúvida tais preocupações. O argumento recorrente era o de que os institutos de pesquisa vivem de credibilidade e, assim, não fariam isso.

A última grande manipulação de que me lembro ocorreu no o final de 2005. Era o auge do bombardeio da mídia no âmbito do escândalo do mensalão, quando os institutos de pesquisa ligados à mídia davam forte queda das intenções de voto de Lula em relação a Serra. Isso foi até dezembro, quando Datafolha e Ibope mostravam que Lula estaria em queda livre. O Datafolha, em pesquisa realizada entre 13 e 14 de dezembro de 2005, dava Serra com 36% e Lula, com 29%; e o Ibope, em pesquisa realizada entre os dias 3 e 7 daquele mês, dava Serra com 37% e Lula, com 31%. Em 14 de fevereiro, porém, o instituto Sensus provoca rebuliço no cenário ao, do nada, mostrar Lula dez pontos à frente de Serra (47,6% a 37,6%).

Em 16 de fevereiro de 2006, pouco depois da divergência abrupta entre a pesquisa Sensus e as de Ibope e Datafolha, publiquei o quarto post deste blog, que me rendeu um único comentário. O título era “Venezuelização a toda”. Vale a pena ler, pois a tática de desqualificar a pesquisa que favorecia Lula era a mesma. Impressionantemente a mesma. Como poderá constatar quem clicar no link acima, aquele post parece ter sido escrito hoje, com a diferença de que, então, eu tinha 18 leitores, enquanto que, atualmente, já caminho para a primeira dezena de milhar. Abaixo, um trecho daquele post:

“(...) diante da divergência gritante, escandalosa entre as pesquisas CNT-Sensus, Datafolha e Ibope, dizem que falsa é a pesquisa que mais favorece Lula. Por que aquelas que o favorecem menos não são falsas? Perguntas, perguntas...Sabem o que acho? Que todas essas pesquisas são falsas (...)”

Eu falava de “venezuelização” porque na Venezuela foi recorrente a tática de as pesquisas serem usadas pela mídia, em todas as eleições de Chávez desde 1999 até a antevéspera das eleições, para mostrar que ele não teria mais do que 30% do eleitorado. A imprensa venezuelana e brasileira bateram nesta tecla dos meros 30% desde 2002, quando o presidente da Venezuela sofreu tentativa de golpe de Estado, até cerca de dois meses antes do referendo revogatório de 2004, que Chávez venceu com cerca de 60% dos votos válidos, revelando, claramente, que as pesquisas tinham sido manipuladas por dois anos seguidos.

Demorou até que eu tomasse esta atitude de representar contra todos os institutos de pesquisa na Justiça Eleitoral porque nas outras vezes em que percebi manipulação de pesquisas pelo Ibope e pelo Datafolha, em minha opinião esses institutos, ligados umbilicalmente à imprensa golpista, faziam uma única tentativa e a abandonavam quando percebiam que não provocara a movimentação do eleitorado que desejavam. Contudo, desta vez percebi que iriam até o fim, até porque se julgavam no direito de fazê-lo, apesar de tal prática ser crime eleitoral. Chego a acreditar que não sabiam que era crime.

Claro que nada garante que os institutos de pesquisa ligados ao PSDB não desafiarão a lei e persistirão nessa estratégia criminosa de tentar influir na vontade do eleitorado por meio de falsificação da sondagem da vontade popular, mas não acredito que se arriscarão a tanto tendo hoje o país uma Polícia Federal que prende de banqueiro a governador de Estado e que está de olho neles. Será que o PIG está disposto a desafiar as leis dessa forma? Se os Frias, Marinhos, Civitas e Mesquitas quiserem um conselho, eu dou: não façam, pois podem terminar vendo o sol nascer quadrado, mesmo que seja por algumas semanas.

Quero crer, portanto, que o Movimento dos Sem Mídia, este instrumento que, em meados de 2007, propus aos leitores deste blog que criássemos já pensando, então, em usá-lo na próxima sucessão presidencial para combater táticas antidemocráticas como a fraude em pesquisas, entre outras, deu um xeque-mate naqueles que eu sabia que usariam cada tática desonesta que estão usando para retornarem ao poder a fim de recuperarem para as elites tudo o que perderam de 2003 para cá e que está sendo distribuído àqueles que sempre foram roubados por esse setor exíguo e poderoso da sociedade. Só não sei se vocês, leitores, concordam comigo.

Deixo-os, portanto, com esta questão: será que Datafolha e Ibope irão parar de manipular pesquisas, agora que a Justiça e a PF estão de olho?

Escrito por Eduardo Guimarães às 12h35

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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