quinta-feira, 14 de abril de 2011

Com um evento público por dia, Paes antecipa 2012

Rio de Janeiro: Maior desafio do prefeito é reeditar a aliança de Cabral

Aline Massuca/Valor – 25/1/2011
Eduardo Paes: prefeito é aprovado por 35% da população, mas, se a eleição fosse hoje, teria 45% dos votos


Paola de Moura | VALOR

Desde o início do ano de 2011, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), esteve presente em 47 eventos públicos: entregou obras, iniciou outras ou ainda participou de programas ligados a comunidades carentes. Como neste período de 90 dias, 30 foram feriados ou fins de semana, o prefeito participou de um evento a cada 1,2 dia. A conta mostra como Paes iniciou o ano praticamente em campanha para a reeleição em 2012.

Devido à sua exposição e à falta de uma oposição mais presente, pesquisas pré-eleitorais a que o Valor teve acesso apontam que, hoje, Eduardo Paes estaria eleito com um percentual em torno de 45% dos votos já no primeiro turno. No entanto, o jogo político ainda não está na mesa e Paes deve enfrentar nas eleições de 2012 os sucessores do ex-prefeito César Maia (DEM) e do deputado federal Anthony Garotinho (PR), o ex-candidato a vice-presidência Índio da Costa (PSD), o deputado federal Otávio Leite (PSDB) e seu colega de Câmara Chico Alencar (PSOL).

Para enfrentar esta oposição e se manter na liderança até outubro de 2012, o prefeito tem o desafio de reunir nas próximas eleições a mesma base aliada conquistada pelo governador Sérgio Cabral quando foi reeleito em 2010. Ao todo, 23 partidos estiveram na campanha com Cabral. Por isso, Paes trabalha para aumentar a popularidade em áreas mais difíceis da cidade como a Zona Oeste e negocia com aliados o apoio. “Ele precisa convencer os partidos que é um candidato que vai vencer fácil”, afirma Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ. Dentre as 47 visitas feitas por Paes a escolas e hospitais nos três primeiros meses do ano, 19 foram na Zona Oeste, onde o prefeito tem a menor popularidade na cidade. “É a área mais difícil de conquistar, mais volátil,” afirma Ismael. “Para cargos majoritários, como o de prefeito, as pesquisas de popularidade são muito importantes, e ele deve estar percebendo onde deve atacar”, acredita Ismael.

Segundo o cientista político, a próxima eleição é muito diferente da anterior porque é agora que os partidos querem se posicionar para a eleição de 2014. “Na última, todos aliados tinham o objetivo de eleger a Dilma presidente. Agora, o PT pode não querer abrir mão de ter um candidato próprio. A eleição será importante para o Lindbergh (Farias, senador do PT). O PSB quer lançar o Temporão (José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde) como candidato”, conta. Ismael explica que a eleição será mais disputada que a do governador Cabral, que ganhou no primeiro turno com 66,08% dos votos. Isto porque o único candidato forte que o enfrentou foi o ex-deputado Fernando Gabeira (PV).

O diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Geraldo Tadeu Monteiro, diz que hoje Eduardo Paes está muito bem posicionado. “Ele é um prefeito presente, que aproveita muito bem as oportunidades na mídia. A Copa do Mundo e as Olimpíadas o favorecem, além da ligação que tem com o governador Cabral”, afirma Geraldo Tadeu. O diretor explica que não é comum num período tão distante da eleição um prefeito ter este resultado em pesquisas. “Ele se beneficia também da coalizão que o apoia e da finalização de programas de saúde e de obras públicas que trazem grande visibilidade”.

Geraldo acredita que problemas e atrasos em obras das Olimpíadas e da Copa não devem prejudicar a reeleição do prefeito. Isto porque ela se dará em 2012. A Copa será em 2014 e as Olimpíadas, em 2016. “A não ser que haja um grande escândalo ou uma fraude, grandes atrasos só serão percebidos mais próximos aos jogos”, afirma.

Mesmo assim, consultada pelo Valor, a prefeitura informou que não há atrasos nas obras que são de responsabilidade de município. Três importantes vias onde estarão os BRTs já foram iniciadas, as obras do Porto Maravilha também e há uma série de intervenções na cidade que estão sendo feitas para melhorar o trânsito e infraestrutura.

O cientista político Ricardo Ismael, discorda de Tadeu e acredita que a eleição vá ao segundo turno. “Os partidos querem se credenciar para a eleição de governador, mostrar nomes fortes e também não deixar o próprio Paes se fortalecer. Porque, se o prefeito vencer, pode ser o nome à sucessão de Cabral”, analisa.

Nas últimas pesquisas do Datafolha, o prefeito permanece estabilizado. Desde seus primeiro três meses de governo sua aprovação flutua perto dos 35%. Na última pesquisa feita pelo instituto, em dezembro de 2010, seu governo era considerado ótimo ou bom por 36% da população carioca, enquanto os que avaliam sua gestão como regular eram de 40%. E o índice de desaprovação era de 20%. A análise do instituto afirma que não houve variações significativas em relação à pesquisa anterior, de julho de 2010.

Segundo o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, que coordenou a campanha do prefeito em 2008 e foi um dos responsáveis pela eleição em cima do ex-deputado federal Fernando Gabeira (PV) na reta final, a constante ida de Paes à Zona Oeste é para cumprir as promessas de campanha. “Estamos aumentando a cobertura da saúde da família e inauguramos as 20 UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) prometidas. O prefeito faz um ótimo trabalho urbanístico”, elogia.

Mas o próprio Picciani admite que as costuras políticas para blindar Paes são importantes. “Temos uma aliança forte. Temos o PT, o PDT, o PSB, o PC do B, o PTB. Todos participam do governo”, conta. “E ainda estamos fechando alianças com o PSB e o PPS. No fim, a oposição ficará só por conta do PSOL, DEM e PSDB”, acredita.

Mesmo quando questionado sobre a possibilidade das alianças se quebrarem quando as eleições se aproximarem, Picciani explica que são hipóteses naturais do jogo político, mas não acredita que isto ocorra no Rio. “Acabamos de fechar uma aliança com o PDT, que ganhou duas secretarias no governo Cabral. Elas estão sendo construídas com o objetivo de manutenção”, afirma.

Enquanto isso, o prefeito continua seu périplo pela cidade. Nos primeiros três meses do ano, Paes entregou oito unidades hospitalares, de clínicas de família a reforma do centro cirúrgico do Hospital Souza Aguiar, no Centro da cidade, a inauguração e pavimentação de avenida e aula inaugural em escola pública. Em 14 de fevereiro, Paes esteve em cinco escolas públicas para participar de aulas inaugurais. Numa manhã, percorreu 130 quilômetros para estar nos colégios da Zona Norte e Oeste da cidade.

Só neste período, o prefeito inaugurou oito clínicas da família, entregou 15 obras públicas, como várias urbanizações de comunidades carentes, mas também esteve presente em 16 atos que marcaram início de obras. Na última sexta-feira, o prefeito Eduardo Paes entregou três escolas públicas, uma no Complexo da Maré, na Zona Norte, e duas na Zona Oeste, uma em Bangu e outra em Padre Miguel.

Oposição negocia alianças para enfrentar prefeito

Do Rio

Enquanto o prefeito está em plena campanha, a oposição ainda se articula para lançar seus candidatos. A diferença de tempo parece não ser problema para os virtuais candidatos, que dizem que é possível bater o prefeito, mesmo que este esteja em campanha desde o primeiro dia de governo.

É o que pensa o deputado federal Chico Alencar (PSOL). Em segundo lugar nas pesquisas, principalmente por conta de sua forte votação na última eleição, Alencar diz que primeiro é preciso montar a plataforma, discutir os problemas da cidade. Mesmo tendo sido o segundo deputado federal mais votado em 2010, com 168 mil votos, atrás apenas de Anthony Garotinho, com 174 mil, o deputado federal não se coloca como o candidato do PSOL. Ele lembra que o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) também tem uma importante participação na cidade e pode ser uma opção do partido. “O importante agora é discutirmos a cidade. Vamos fazer uma série de seminários, debater transporte, educação, violência, armamento. Queremos fazer política de forma diferente”, afirma Chico Alencar. Enquanto isto, o partido só decide o candidato em convenção no fim do ano.

Em negociações mais aceleradas estão o DEM e o PR. O deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) negociam a união em uma única chapa de seus sucessores. A ideia inicial era que o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) saísse candidato a prefeito, tendo como companheira de chapa a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR). As negociações continuam, mas já há boatos de que o ex-governador pretenderia propor que seja feita uma pesquisa de intenções de votos para saber quem deveria se candidatar a qual cargo. Isto porque nas últimas eleições Rodrigo Maia teve 65.179 votos na capital, enquanto Clarissa Garotinho, 69.217 votos.

Outro provável concorrente do prefeito Eduardo Paes é o ex-candidato a Vice-Presidência na chapa de José Serra (PSDB), Indio da Costa. Recém desligado do DEM, Indio agora se dedica a montar o novo partido no Rio, o PSD de Gilberto Kassab. Em princípio, Indio afirmava que, para fortalecer o partido era preciso ter um candidato a prefeito em cada município. Mas, nos últimos dias, o discurso se modificou um pouco e ele já admite a possibilidade de apoiar a reeleição de Paes: “Não penso em nada que não seja fortalecer o PSD nacional e regional. Se passar por candidatura própria, na capital, serei candidato; se passar por apoiar o atual prefeito do Rio, poderemos apoiar sua reeleição. O que importa, nesse momento de nascimento, é o crescimento e fortalecimento do PSD.”

Já o PSDB do Rio vive uma disputa interna. Recém-eleito presidente do partido no Rio, o deputado federal Otávio Leite se coloca como principal candidato do partido e afirma que para concorrer com o prefeito vai “acompanhar cada centavo da execução orçamentária da prefeitura”. Otávio Leite diz que a campanha só começa no ano que vem, mas promete já fiscalizar a prefeitura. “No campo social ele tem sido muito insensível”, afirma.

No entanto, dentro do PSDB, a vereadora Andrea Gouvêa Vieira também pretende se candidatar. “Eu tenho o apoio de vereadores e da juventude do partido. Temos que ter uma eleição democrática dentro do partido. Não vou aceitar decisões tomadas de cima para baixo”, afirma, já mostrando divergências.

Ainda no cenário carioca, o PSB planeja promover a candidatura do ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão. No entanto, o PSB também está na base do governo Sérgio Cabral e portanto faz parte da aliança para eleger Paes. Além disso, é possível que o senador Marcelo Crivella (PRB) saia novamente candidato, já que ele esteve presente em todas as últimas eleições para prefeito em 2004 e 2008, além de governador em 2006, só não esteve no ano passado porque concorreu novamente ao Senado. (PdeM)

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

Um comentário:

renata disse...

Maior desafio do prefeito é reeditar a aliança de Cabral, não é um desafio, ele consegue se fizer tão bem quanto Cabral.