Escrevo tardiamente sobre o Ato Público Contra a Corrupção da Mídia que o Movimento dos Sem Mídia levou à rua no último sábado. Essa, como todos sabem agora, foi a primeira manifestação que o MSM promoveu da qual não pude participar e com a qual não pude colaborar arregimentando apoios e incentivando adesões até de outros movimentos simplesmente porque estava participando de uma convenção em um país que tem duas horas a menos do que o nosso de fuso horário, o que me obrigou a militar na internet por ela só nas primeiras horas da manhã e nas madrugadas.
Na volta ao Brasil, tive uma viagem conturbada. A companhia aérea me fez de gato e sapato. Nem gastarei o tempo do leitor com isso, mas só quero informar que fiquei cerca de 30 horas sem dormir e, assim, escrevi aquele post rápido, ontem, sem nem saber o resultado real da manifestação, da qual não participei porque fiquei em lista de espera da companhia aérea e esta não me conseguiu uma passagem de volta que me permitisse chegar a tempo ao Brasil.
Escrevi e fui dormir e só despertei por umas duas horas no fim da noite de domingo, quando encontrei um movimento impressionante de agressões de militantes tucanos e demos no Twitter desqualificando a manifestação, cometendo seguidos crimes de calúnia, injúria e difamação pessoais a este blogueiro e difundindo versões distorcidas sobre o ato. Naquele momento, como o ataque foi feito publicamente, uma pessoa com experiência em crimes na internet passou-me informações sobre envolvimento de alguns dos agressores em possíveis crimes que já estão sendo apurados, além daqueles cometidos não só contra mim, mas contra o Movimento dos Sem Mídia e todos os que se manifestaram no sábado no Masp.
Diante de tudo isso, a pessoa que me contatou orientou-me a documentar todos os crimes de calúnia e difamação cometidos, o que me gastou tempo para copiar ataques de umas duas dezenas de pessoas e uma meia dúzia de blogs de extrema-direita, alguns deles envolvidos na criação da ficha falsa de Dilma Roussef que o jornal Folha de São Paulo publicou em sua primeira página após tê-la recebido por e-mail de dois desses blogs. Aliás, vale dizer que são blogs anônimos, sediados no exterior na pretensão de não poderem ser facilmente identificados.
A parte não criminal dessas ações da extrema-direita foi a divulgação de versões distorcidas sobre o ato, que, devo reconhecer, valeram-se da necessidade que tive de divulgar a manifestação pelas redes sociais e por este blog. Ao fazer isso, evidentemente que tinha que me pautar pelo que dizia a convocação do ato pelo Facebook. Para quem não conhece, a rede social permite que você crie um evento ao qual as pessoas podem aderir. Você pode perguntar se irão comparecer e elas podem optar por responder se irão, se não irão ou se talvez poderão ir.
Como cerca de 1.400 pessoas disseram que compareceriam e, segundo avaliação da polícia militar, o comparecimento foi de cerca de 100 pessoas, evidentemente que os militantes de extrema-direita se aproveitaram do fato para carimbá-lo como “um fracasso”. É óbvio, porém, que este blogueiro não poderia incentivar um ato público dizendo que, apesar de mais de mil pessoas prometerem presença, o provável é que não se chegaria a esse número. Mas a experiência mostra que todos os atos convocados pelo Facebook, nos últimos tempos, prometem uma presença mais massiva que acaba resultando no comparecimento de uma pequena fração dos que se comprometeram.
No Churrascão da Gente Diferenciada, que ocorreu em maio deste ano diante do Shopping Higienópolis, em São Paulo, para protestar contra moradores do bairro que queriam impedir ali a construção de uma estação de metro para não atrair para lá “gente diferenciada”, a avaliação da Polícia Militar foi a de que compareceram 600 pessoas apesar de mais de 50 mil terem dito que compareceriam. E aquele ato foi repercutido intensamente por toda mídia durante dias e dias antes de acontecer.
Como se sabe, essas avaliações sobre presença feitas pela Polícia Militar são sempre bastante conservadoras, mas, justiça seja feita, mesmo na manifestação que ocorreu no mesmo Masp em que os sem-mídia nos manifestamos no sábado, só que no dia 7 de setembro, e que fez parte dos movimentos “contra a corrupção” que a grande mídia vem divulgando com todo seu peso, a avaliação do jornal O Estado de São Paulo foi a de que tal ato, apesar de no Facebook ter recebido a adesão de mais de 10 mil pessoas, só reuniu 500 pessoas. Desta maneira, vamos nos pautar, sempre, pelas avaliações da Polícia.
Ora, parece-me ponto pacífico a premissa de que a mídia vem dando suporte publicitário aos atos “contra a corrupção” que estão sendo feitos em diversas capitais e que, com exceção do ato de 7 de setembro em Brasília, constituíram-se em ataques político-partidários contra o PT, contra o governo do ex-presidente Lula e contra o governo Dilma Rousseff. Os jornais Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo e as revistas Veja e Época, a rádio CBN e a tevê à cabo Globo News são apenas alguns dos muitos veículos da grande imprensa que se transformaram em veiculadores desse “movimento espontâneo” que conta com tanta generosidade da mídia.
Detalhe: quem quiser saber quem está por trás desse movimento midiático, pode obter detalhes sobre ele no excelente site Curso Básico de Jornalismo Manipulativo, que pode ser acessado clicando aqui. A matéria deixa muito claro o envolvimento de políticos do PSDB e do DEM e de meios de comunicação como os supra mencionados na organização, na divulgação e, segundo informações preliminares, talvez até no financiamento desses movimentos.
Em contrapartida, o Ato de sábado passado, convocado pelo Movimento dos Sem Mídia e pelos companheiros Marcia Brasil e Adolfo Fernandez, da entidade “Mavi”, foi divulgado exclusivamente através deste blog e recebeu divulgação de outros blogs e sites de expressão só dois ou três dias antes de acontecer. O site Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, o Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, o portal Vermelho, o blog do Altamiro Borges, a Rede Brasil Atual e blogs independentes ajudaram bastante, mas os mais importantes chegaram tarde, até por culpa minha…
Na opinião deste blogueiro, quem deveria estar preocupado não é o Movimento dos Sem Mídia, portanto, mas a grande mídia, que, em São Paulo – e só se pode comparar um ato no Masp e em São Paulo com outro ato no mesmo local, como o que ocorreu no 7 de setembro – só conseguiu pôr na rua cinco vezes mais pessoas que um bloguinho de esquerda editado por um representante comercial .
Repito: o ato do MSM no sábado reuniu 100 pessoas e o de 7 de setembro “contra a corrupção”, convocado pela mídia, reuniu 500. Parece-me que o último ato foi muito bem, então.
Até porque, o principal objetivo foi atingido. Após os blogs e sites supra mencionados terem noticiado tardiamente até por falha deste blogueiro, que não os comunicou por estar envolvido com a própria viagem ao exterior, posteriormente a divulgação ocorreu na grande mídia e ultrapassou a expectativa. O ato foi noticiado pela Agência Brasil e a matéria foi repercutida pela Folha.com, pelo portal Terra, pela revista Carta Capital e por várias tevês, rádios e sites menores, mas de boa audiência. Abaixo, reproduzo as matérias desses veículos sobre o ato do MSM. Para ler, clique no link acima de cada imagem.
Agência Brasil – PARA LER A MATÉRIA, CLIQUE AQUI
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Carta CapitaL – PARA LER A MATÉRIA, CLIQUE AQUI
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Folha.com – PARA LER A MATÉRIA, CLIQUE AQUI
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Terra – PARA LER A MATÉRIA, CLIQUE AQUI
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O fato é que o ato do MSM, convocado de verdade apenas por este blog, colocou o debate na rua. Durante a manifestação, mais de dez mil panfletos foram distribuídos na avenida mais movimentada do Brasil, a avenida Paulista. A questão da democratização da comunicação entrou na agenda, saiu da blogosfera, onde estava confinada. Porque era preciso pôr esse assunto em pauta.
Após o ato, há entidades que já vinham fazendo fóruns e discussões sobre o assunto, como o excelente Intervozes, entre outras, com as quais o Movimento dos Sem Mídia, já na manhã desta segunda-feira, iniciou diálogos no sentido de produzirmos ações conjuntas para novos atos que atraiam maior público e que consigam visibilidade ainda maior.
O Movimento dos Sem Mídia já promoveu vários atos públicos. Em 2007, diante da Folha de São Paulo e diante da sede da Globo em São Paulo; em 2008, no Masp, pedindo o impeachment do ministro do STF Gilmar Mendes; em 2009, diante da mesma Folha, o ato da Ditabrabranda (de longe o melhor de todos, pois reuniu 500 pessoas e mais de vinte entidades); novamente diante da Folha ainda em 2009, para protestar contra matéria do jornal que acusou Lula de ser um maníaco sexual; e, por fim, o de sábado passado no Masp.
O ato de 2007 que gerou a criação do MSM e o ato contra a Ditabranda foram os melhores, foram um sucesso. Os outros, nem tanto, ou bem pouco. Mas todos foram válidos. O de sábado passado, imagino que foi o melhor de todos.
Abaixo, reproduzo vídeos do ato. Em seguida, as conclusões sobre o que já se constitui no primeiro movimento concreto da sociedade em prol do Marco Regulatório da Comunicação no Brasil.
Vídeo 1/3
Vídeo 2/3
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Como se vê, foi um ato politizado, com razões, argumentos e propostas. E quem pôs o tema para fora da internet foi o Movimento dos Sem Mídia em um momento em que os setores da sociedade que militam pelo Marco Regulatório das comunicações no Brasil vinham se resumindo a reclamar na internet, o que é pouco para pressionar o governo a enviar ao Congresso o projeto de lei que até já existe, mas que sem pressão da sociedade jamais será enviado.
Sendo assim, na qualidade de presidente do Movimento dos Sem Mídia comunico que estamos construindo, junto com outras entidades, novos atos públicos e uma intensa campanha com os fins supracitados, que, não duvidem nossos adversários, chegou à discussão pública – e às ruas – para ficar. Com efeito, meus caros leitores, o ato de sábado foi apenas um aperitivo do que está por vir.
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