“Lugares, pessoas, instituições e situações recebem estigmas, quase sempre difíceis de serem desfeitos e que causam efeitos devastadores para seus protagonistas. A Tríplice Fronteira - Brasil, Paraguai e Argentina - vive essa realidade. Apesar de as imagens sobre a região replicadas em inúmeras reportagens serem verdadeiras quando tratam de tráfico, contrabando e conflitos de terra, o reforço de estereótipos pejorativos incomoda as pessoas que vivem na região. Sobretudo, os jornalistas, que, além de lidar com os desafios locais da cobertura, precisam esclarecer e desfazer os prejuízos do resultado de "um jornalismo mal apurado dos colegas" e reconquistar as fontes arredias.
IMPRENSA esteve nas três cidades - Foz do Iguaçu, Cidade do Leste e Porto Iguaçu - com o objetivo de ouvir de jornalistas dos três países suas condições de trabalho. A reportagem constatou que eles se incomodam com o resumo feito por equipes de jornalismo que vão, fazem uma "apuração apressada" e contribuem para "proliferar clichês" sobre a região. Os jornalistas ouvidos por IMPRENSA não omitem que a região lida com desafios básicos e complexos, mas são unânimes em ressaltar que, desde que atuam na Tríplice Fronteira, jamais conseguiram detectar focos de terrorismo. Uma revista brasileira, uma equipe de televisão argentina e agências internacionais fizeram, em poucos dias, matérias do tipo, com métodos, segundo ele, de apuração "questionáveis e nada eficientes".
O caso mais extremado e que causa furor às fontes locais, principalmente às de origem árabe - a região concentra a segunda maior colônia árabe do Brasil - são matérias apontando que existem células terroristas na região. Para a correspondente do jornal Paraguaio La Nación na Cidade do Leste, Mariana Ladaga, "eles [as fontes de origem árabe] se fecharam para falar com os jornalistas, principalmente depois que alguns veículos publicaram que existe terrorismo na fronteira. Isso é um absurdo! Trabalho aqui há anos... Você acha que profissionalmente não seria um belo furo? Não afirmo que não exista, mas nunca vi indícios. Este tema tem nos incomodado, e principalmente a eles [fontes], que estão cansados", reclama. Mariana destaca que hoje, para falar com essas fontes, precisa ter cuidado na abordagem e convencê-las do teor da matéria.
A revista Veja não é "bem-vinda" entre os árabes e descendentes na região. Sua matéria de capa, "A Rede do Terror no Brasil", publicada na edição 2211, de 6 de abril, que fala sobre células de terrorismo no país repercutiu não somente do lado brasileiro, mas também no Paraguai e na Argentina. Edgardo Barchuk, repórter da Rádio Cataratas e do jornal Primeira Edición, que trabalha na cidade argentina de Porto Iguaçu, também reclamou da reportagem da Veja e de uma equipe de um canal de Buenos Aires, que foi para a região, fez uma "rápida apuração" e polemizou o tema. "Isso não pode ser dessa maneira. Em ambos os casos [da revista Veja e do canal argentino], são jornalistas que não conhecem o contexto, não vivem aqui, não estão próximos da situação. Como podem vender esse tipo de coisa, sendo que nós não conseguimos enxergar isso?", rebate.”
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