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Ministra vai à rádio explicar mudanças no Bolsa Família e acalmar os neomalthusianos que temem 'multiplicação de pobres'. Foto: lza Fiuza/Agência Brasil |
A ciência desmente alguns mitos, mas a estupidez (essa imune à razão), não. Ao conceder entrevista nesta quinta-feira 22, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, teve que explicar novamente que dois mais dois não são oito. Em outras palavras, que a ampliação de três para cinco crianças beneficiárias do Programa Bolsa Família não é estímulo para que os casais tenham mais filhos a partir de agora. “Não conheço nenhum especialista ou conhecedor do assunto que acredite que a ampliação de um benefício de 32 reais vá levar à ampliação da taxa de natalidade. Pelo contrário, há oito anos, o Bolsa Família tem repassado recursos com a parcela variável, atingindo crianças, e o que tivemos foi a redução da taxa de natalidade, inclusive na população pobre e extremamente pobre”, destacou. O benefício, vale lembrar, deve atingir 1,2 milhão novas crianças.
Segundo a ministra, “todo mundo que já teve filho sabe o quanto custa uma criança” e é “difícil alguém achar que 32 reais por mês possam estimular uma pessoa a ter filho”.
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O deputado Salim Curiati (PP), para quem Bolsa Família incentiva população pobres a colocar bandido no mundo |
Sergio Cabral, o governador fluminense que chamou a favela da Rocinha de “fábrica de produzir marginais”, não faria melhor.
Curiati, médico de 83 anos, talvez não tenha tido tempo na vida para conviver com muitas famílias “carentes” – aqueles seres que provavelmente só conhecera por ouvir falar e que povoavam as entradas de serviço de seu consultório, mansão ou gabinete na Assembleia Legislativa. Sociologia de botequim tem dessas lógicas.
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Acampamento onde vivem beneficiários do Bolsa Família no entorno de Brasília: para Curiati e seguidores, uma fábrica de produção de bebês. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil |
Parece convincente, e é possível pensar que uma professora da quinta série não fosse mais didática. Por via das dúvidas, é melhor aparecer de quando em quando na rádio para explicar aos doutos neomalthusianos o que é mito e o que é má fé. A outra solução (mais trabalhosa, e talvez mais eficiente) é tirar as mangas, o leite, o espelho, o barbeador e as famílias menos abastadas de perto do deputado Curiati e seguidores. Nunca se sabe o que a ignorância, quando afrontada ou intimidada, é capaz de produzir.
Matheus Pichonelli
Formado em jornalismo e ciências sociais, é subeditor do site de CartaCapital e colaborador da revista desde maio de 2011. Escreve sobre política nacional, cinema e sociedade. Foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal iG. Em 2005, publicou o livro de contos 'Diáspora'.
Formado em jornalismo e ciências sociais, é subeditor do site de CartaCapital e colaborador da revista desde maio de 2011. Escreve sobre política nacional, cinema e sociedade. Foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal iG. Em 2005, publicou o livro de contos 'Diáspora'.
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