A vinte meses das eleições presidenciais, começou a guerra da sucessão
de 2014, com tiro para tudo quanto é lado, como se já estivéssemos na
reta final da campanha.
Em seminário promovido pelo PSDB nesta segunda-feira em Belo Horizonte,
para "discutir os rumos do partido" e turbinar a candidatura do
senador Aécio Neves, quem roubou a cena e ganhou as manchetes foi o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A pretexto de responder às críticas feitas ao seu governo na festa dos
10 anos do PT no poder, FHC saiu de seus cuidados e despejou um
caminhão de melancias no partido, em Lula e Dilma, dando o tom da
campanha que nos espera.
"Eles tinham duas grandes metas, uma ligada ao socialismo e outra
ligada à ética. Do socialismo nunca mais ninguém falou. E de ética? Meu
Deus, não sou eu quem vai falar sobre o que está acontecendo", disparou
o ex-presidente.
Aos 81 anos, depois de ser esquecido pelas campanhas presidenciais de
José Serra e Geraldo Alckmin, FHC voltou com a corda toda. Chamou a
presidente Dilma Rousseff de "ingrata" por ter afirmado no evento do PT
que não herdou nada do governo tucano. "O que a gente pode fazer quando
a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu. Meu Deus!"
Duas referências a Deus no mesmo discurso, o que não é habitual, podem
dar uma pista sobre as dificuldades que o principal líder do PSDB está
encontrando para unir o seu partido e fazer desencalhar a campanha de
Aécio Neves, o ex-governador mineiro lançado por FHC ainda em 2012, e
que até agora reluta em se assumir candidato.
Por falta de alternativa, FHC resolveu jogar todas as suas fichas em
Aécio Neves - e vice-versa - transformando-se no principal cabo
eleitoral do senador mineiro. Ao final da sua fala em Belo Horizonte, o
ex-presidente procurou deixá-lo mais animado:
"Vamos percorrer o Brasil, senador. Vamos plantar a semente do PSDB, a semente da vitória. Nós vamos ganhar!".
Claro que se trata mais de entusiasmo de torcedor do que previsão de
cientista político, mas o fato é que o ex-presidente se empolgou tanto
que Aécio acabou sendo ofuscado e virou coadjuvante no evento em que
deveria se apresentar como a nova estrela dos tucanos.
Nova é modo de falar, já que o ex-presidente propôs como estratégia de
campanha para 2014 levantar a bandeira da ética, o que já não deu certo
em 2006 e 2010. Até o redator do discurso de Aécio Neves na semana
passada sobre "os 13 fracassos do PT" é o mesmo jornalista que escrevia
os textos para José Serra nas suas duas derrotas em campanhas
presidenciais.
O problema é que Aécio prometeu anunciar "um projeto para os próximos
20 anos no Brasil", mas não conseguiu até agora elaborar e apresentar
nenhuma proposta nova. Tanto Aécio quanto FHC se limitaram a atacar seus
tradicionais adversários petistas.
Do jeito que as coisas vão indo, o clima da campanha de 2014 poderá ser
uma repetição daquelas de 1994 e 1998, em que FHC e Lula se
enfrentaram diretamente, com vitórias do tucano no primeiro turno.
Nestes quase vinte anos, porém, foram grandes as mudanças no quadro
político nacional. Para começar, Lula deixou o governo com mais de 80%
de aprovação popular, enquanto FHC saiu do Palácio do Planalto com menos
de 20%.
Lula elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, agora franca favorita à
reeleição, a bordo de uma aliança de mais de 10 partidos, o que lhe
garante metade de todo o tempo na propaganda eleitoral na televisão.
FHC, por sua vez, que perdeu as últimas três eleições presidenciais em
que os candidatos tucanos o esconderam nas campanhas, quer resgatar o
legado do seu governo.
Por isso, agora transformados em grandes cabos eleitorais, os
ex-presidentes assumem a ofensiva em mais uma guerra entre petistas e
tucanos, o Fla-Flu de sempre.
A próxima batalha está marcada para quinta-feira, em Fortaleza, onde o
ex-presidente Lula dará início a um road-show pelo país para comemorar
os 10 anos do PT no poder e garantir a fidelidade da base aliada para a
reeleição de Dilma Rousseff.
Ricardo Kotscho
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