segunda-feira, 24 de maio de 2010

Espanhóis aprendem português de olho no Brasil

Oportunidade: Para turbinar o currículo e poder atuar no país, profissionais fazem crescer a demanda pelo idioma.


Gustavo Lourenção/Valor
Foto Destaque
O espanhol Álvaro de Torquemada mudou para o Brasil há cinco meses e hoje trabalha em uma consultoria


Por Stela Campos, de Madri – VALOR

O bom desempenho do Brasil no cenário global em contrapartida à crise que assola a economia da Espanha tem estimulado muitos profissionais espanhóis a aprender o português. O objetivo é turbinar o currículo e, com isso, abrir alguma possibilidade de emprego em terras brasileiras. Atualmente, mais de 1 milhão de espanhóis estão estudando o idioma, segundo pesquisa do Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS). Especialistas acreditam que esse número ainda deve crescer consideravelmente nos próximos anos.

Instituição fundada nos anos 1960, em Madri, pelo governo brasileiro como um colégio maior dedicado ao ensino da língua portuguesa e da cultura brasileira, a Casa do Brasil vem registrando desde outubro do ano passado um aumento em torno de 30% nas matrículas. “Estamos atualmente com mais de 300 alunos em 35 turmas. O número de estudantes vem subindo nos últimos anos e deve continuar crescendo”, afirma Mirian Lopes Moura, coordenadora do curso de português. “Existem muitos alunos buscando a certificação de olho nesse bom momento para o Brasil”. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que pertencente ao MEC, indicam que quase 3 mil estrangeiros tentaram conseguir o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) em 2009. A língua portuguesa é falada por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, a grande maioria- quase 200 milhões- no Brasil. A previsão é que esse número suba para 335 milhões até 2050.

“Aprender português hoje significa criar uma oportunidade econômica”, diz José Antonio Griñán, presidente da Junta de Andaluzia, região da Espanha onde vivem 7 milhões de pessoas e que terá o português como a segunda língua optativa no ensino médio oficial. Segundo ele, a adesão dos centros educacionais completa ao idioma acontecerá entre quatro e cinco anos. Isso porque atualmente não existe um número suficiente de professores treinados para atender a essa nova demanda.

José Luis Cortés Salinas, diretor do grupo espanhol SM, que edita livros para o mercado escolar, há dois anos anos se dedica ao estudo do português. Ele coordena equipes em nove países da América Latina, incluindo o Brasil. Para ele, o domínio do idioma pode ajudá-lo a entender melhor como funciona a comunicação entre os brasileiros. Na sua opinião, o país é uma das estrelas em ascensão no mercado global. “Isso se deve ao desenvolvimento econômico, que precisa de ajustes com uma melhor distribuição de renda, como também ao papel de líder da região latino- americana que o país deverá assumir em breve”, diz.

A diretora do centro de orientação de carreira do IE Business School, escola de negócios espanhola, Maria Fernanda Diaz Cascallar, notou um aumento no interesse dos alunos em buscar trabalho no Brasil. “Junto com a Índia, China e Rússia, ele está entre as poucas economias que estão crescendo e isso atrai os estudantes”, afirma.

O professor Riordan Roett, da Universidade Johns Hopkins nos Estados Unidos, que desde 1962 se especializou em estudar o Brasil, também vê uma maior disposição dos estudantes ibéricos e latino-americanos em relação ao país. Em suas classes, 20% dos estudantes são dessas regiões. “Vejo mais pessoas querendo estudar português. Entre os BRICs, ele é , sem dúvida, o que mais chama a atenção.”

Patrick Balit, 31 anos, é um exemplo. Economista canadense, fez carreira nos Estados Unidos atuando no mercado financeiro. Campeão de esqui desde os 15 anos, Balit sempre teve gosto pela aventura. Cansado do estresse em Wall Street, mudou-se para a Argentina para atuar no comércio de soja. Ficou por lá seis anos e nesse tempo teve seu primeiro contato com o Brasil. Há um ano, ele mora em Madri onde cursa um mestrado em relações internacionais. Fluente em inglês, francês e espanhol, há cinco meses está estudando português.

De acordo com ele, a inclusão da classe C no mercado de consumo interno criará grandes oportunidades no país. “Quero muito trabalhar no Brasil, atuar como trader ou em algum fundo de private equity. Vejo também a possibilidade de realizar negócios promissores na área de educação”, diz Balit. Ele conta que outros alunos espanhóis de sua classe no mestrado estão tendo aulas particulares de português junto com ele. “O Brasil é o lugar para se estar nos próximos 25 anos”.

Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.

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