Dunga não é, de fato, pessoa das mais simpáticas. É folgado, provocador e não tem papas na língua, embora não se possa negar sua dedicação ao ofício de treinador da seleção nacional. Dunga está na berlinda nesta segunda-feira depois de sua explosão de maus modos com um repórter da Globo que falava ao telefone enquanto ele respondia perguntas de outros repórteres na coletiva de imprensa após o jogo com a Costa do Marfim.
Se Dunga não é persona grata da imprensa, por outro lado é verdade indiscutível que boa parte dos jornalistas brasileiros se acham (é plural mesmo) acima do bem e do mal, se julgam superiores ao comum e mortal ser humano, sobretudo a garotada mais nova. Se acham donos da verdade e os sabichões do momento. Falam o que querem de pessoas ou instituições que não dispõem de um espaço na mídia para se defender.
Esse breve perfil do jornalista brasileiro ganha novos contornos quando falamos daqueles que trabalham na Globo. Esses chegaram ao Olimpo e o crachá que usam muitas vezes abre portas proibidas aos jornalistas de outras emissoras. É comum que tenham prioridade em entrevistas e eventos. Os demais ou são preteridos ou têm que esperar até que o colega global termine seu trabalho.
Não só a Globo, como as demais emissoras fazem vista grossa quando seus profissionais conseguem superar a concorrência mesmo que façam uso de expedientes aéticos.
Todo mundo se lembra do que a Globo fez com Leonel Brizola. Durante seu primeiro mandato no Estado do Rio de Janeiro, de 1982 a 1986, não havia um só dia em que o velho Cid Moreira, com sua grave e empostada voz, não abrisse o noticiário da cidade com a célebre frase: "A violência no Rio". E aí vinham as estatisticas das ocorrências policiais da cidade naquele dia.
Isso era feito diariamente, um verdadeiro massacre, que resultou na derrota de Brizola na eleição presidencial de 89, por um lado. Por outro, no esvaziamento econômico do Rio com a fuga de empresas para São Paulo. A campanha do JN foi tão perfeita que até hoje muita gente desinformada de SP, ou até mesmo do Rio, prefere simplicar: "ah, quem acabou com o Rio foi o Brizola".
Não sabemos exatamente o que aconteceu entre Dunga e o repórter da Globo, é preciso investigar se já havia alguma animosidade entre os dois em razão de incidente anterior, é regra do bom jornalismo ouvir as duas partes. De qualquer maneira, Dunga se meteu numa encrenca daquelas. E a Globo é implacável com seus adversários.
Desde já o emprego dele está ameaçado. Ganhando ou perdendo a Copa, dificilmente permanecerá no cargo. Ele ousou desafiar o império e o império não perdoa: persegue até destruir sua vítima. A turma da CBF vai ter que enfiar a viola no saco porque falta peito e independência financeira enfrentar o poder dos irmãos Marinho.
Nota do autor: A coluna acima foi escrita e publicada na segunda-feira. Nesta quarta-feira o episódio está esclarecido depois que a Globo divulgou nota confirmando a causa do desentendimento:
“Os jogadores não foram liberados para dar as entrevistas. Alex Escobar faria as entrevistas e a ausência dos jogadores era o que ele estava comunicando ao telefone, quando chegava à coletiva de Dunga”.
Praticamente, confirma também a mensagem de Alex Escobar a Tadeu Schmidt captadas pelo repórter do UOL, Mauricio Stycer: "
"Insuportável, bicho, insuportável. O Rodrigo (Paiva) foi revoltado lá falar comigo, cara. O Dunga não deixou. Ninguém. Caraca, nem o Luís Fabiano. Infelizmente. Valeu, Tadeuzão”.
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