quarta-feira, 2 de junho de 2010

Falta de mão de obra faz salário subir

Com escassez de trabalhadores qualificados, empresas pagam até 20% acima da média nacional, revela pesquisa

Fenômeno afeta mais os setores que fizeram grandes investimentos, como os de mineração, extração de óleo e gás


Rodrigo Paiva/Folhapress
montadora
Linha de montagem da Ford em São Bernardo (Grande SP); setor automobilístico é um dos que mais aumentaram a remuneração dos trabalhadores


CLAUDIA ROLLI – FOLHA SP

DE SÃO PAULO

A escassez de mão de obra qualificada já “inflaciona” os salários, principalmente nas empresas dos setores de mineração e petróleo.
Pesquisa feita com 175 mil profissionais que trabalham em áreas operacionais, gerenciais e no alto escalão de empresas de 20 ramos econômicos mostra que os setores de mineração, extração de óleo e gás pagam 20% acima da média nacional.
Em segundo lugar aparecem empatados os setores automobilístico, de autopeças, de fabricação de computadores e de eletricidade, pagando 13% acima da média.
“Com a crise, o setor industrial teve forte retração e engavetou projetos. Passado o susto, os investimentos que estão sendo anunciados superam os que vinham sendo feitos antes da crise. E isso tem forte impacto no mercado de trabalho”, diz Lucio Tezzotto, gerente de atendimento da Catho Online.
Só os planos de investimento da indústria e do setor de infraestrutura para o período de 2010 a 2013 somam R$ 859 bilhões, segundo levantamento do BNDES.
O principal destaque é o setor de petróleo e gás, que, devido ao pré-sal, pretende investir R$ 340 bilhões.

TENDÊNCIA DE ALTA
Com mais recursos sendo investidos e profissionais em número insuficiente para suprir as necessidades das empresas, a tendência é os salários continuarem em alta.
Marcelo Ferrari, diretor de negócios da consultoria Mercer, acredita que mesmo as empresas que investiram em formação e treinamento terão dificuldades para reter seus profissionais neste ano.
Ele diz que o país não formou, durante os anos 80 e 90, por exemplo, engenheiros de mineração -profissionais disputados hoje no mercado. “Sumiram do mercado de trabalho. E agora são necessários cinco anos para formar esses profissionais.”
Para compensar a escassez de mão de obra qualificada, empresas que faturam entre US$ 100 milhões e US$ 1 bilhão têm investido entre 0,2% e 0,5% do faturamento em qualificação.
Em 2009, a Petrobras investiu R$ 115,9 milhões em programas de desenvolvimento de funcionários de níveis técnico e superior, diz Lairton Correa, gerente de efetivo de RH da Petrobras.
“Sempre há disputa no mercado. Mas ter política de RH, com plano de cargos, salários e benefícios, ajuda a segurar o empregado.”
Na Petrobras, a taxa média de desligamento por ano é de 1,3%. O tempo médio na empresa é de 15 anos.
Fernanda Ramos, gerente de RH da Ford, diz que a empresa também tem investido em torno de R$ 3,2 milhões ao ano para preparar principalmente engenheiros de produção. No setor automobilístico, os salários pagos a esses profissionais estão entre R$ 4.000 e R$ 7.000.
“Temos feito convênios com universidades, principalmente na BA [onde está o centro de desenvolvimento de produtos], e desenvolvido cursos em parceria para suprir as necessidades locais.”


Saber idiomas eleva ganho em até 22%

DE SÃO PAULO

Gerentes, coordenadores e supervisores que falam mais de um idioma -inglês e espanhol- recebem remuneração entre 19% e 22% acima da paga no mercado.
De cada 10 gerentes, 5 não falam inglês. E 7 em cada 10 não falam espanhol, segundo levantamento da Catho Online.
Entre os profissionais que ocupam cargos de supervisão, chefia e coordenação, 64% não falam inglês, e 84%, espanhol.
O salário médio de um gerente que fala português é de R$ 7.500. A remuneração chega a R$ 9.000 se falar inglês e espanhol.
“Os profissionais investiam mais em formação acadêmica e na experiência profissional do que em línguas. Mas, ao ficar evidente a diferença que faz no salário, deve crescer o investimento em cursos de línguas”, diz Lucio Tezzotto, da Catho Online. (CR)

Executivos terão bônus até 30% maiores

DE SÃO PAULO

Com a retomada da economia e a disputa acirrada por profissionais, o pagamento de bônus a executivos também deve crescer entre 25% e 30%. Esses bônus serão pagos em 2011 e são referentes aos resultados deste ano.
A previsão é de especialistas que atuam em consultorias que atendem grandes companhias de todo o país.
A tendência é que os valores pagos neste ano sejam mais próximos dos pagos em anos pré-crise.
“Com perspectivas favoráveis, as empresas desengavetaram projetos e precisam de profissionais para comandar os investimentos. Se a empresa não tem esse executivo, terá de buscar no mercado. Nessa hora o pagamento de bônus ultra-agressivo é uma forma de atrai-lo”, diz Rodrigo Araújo, sócio-diretor da consultoria Korn Ferry.
Setores como mineração, petroquímico e infraestrutura, de uma forma geral, devem se destacar no pagamento de bônus, avalia o consultor.
“Mas o varejo, que teve movimentação intensa de fusão e aquisições, principalmente nos dois últimos anos, também tem potencial para pagar ganhos substanciais”, diz Araújo.
Para Marcelo Ferrari, da Mercer, os valores dos bônus pagos em 2011 serão maiores porque a maioria das empresas vai obter resultados financeiros melhores neste ano. “Os resultados devem ser acima das metas e de orçamentos previstos.”
Entre os setores que devem se destacar e pagar valores mais altos de remuneração variável, segundo o consultor, estão açúcar e álcool, mineração, construção civil e consumo.
No ano passado, os valores dos bônus pagos a presidentes e diretores foram de 7,4 e 6,1 salários-base, respectivamente -esses valores se referem aos resultados obtidos em 2008.
Não só os bônus devem ser maiores neste ano, mas o salário pago aos executivos também está crescendo, segundo levantamento da Hay Group de janeiro deste ano com 220 empresas.
O setor petroquímico e químico tem pago salários 8% acima da média nacional, e o elétrico, em torno de 5%, segundo Olavo Chiaradia, consultor do Hay Group.
“São setores que tradicionalmente remuneram bem, mas têm se destacado em razão de investimentos feitos”, afirma. (CR)

Postado por Luis Favre
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