Relatório aponta que uma das empresas do contraventor tinha contrato no valor de R$ 1,3 mi
BRASÍLIA - Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), do Ministério da Fazenda, mostra que uma das empresas do
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, recebia
dinheiro do governo de Goiás entre o primeiro e o segundo mandatos do
governador Marconi Perillo (PSDB), que administrou o Estado de 1999 a
2002, reelegendo-se para o período de 2003 a 2006.
Suspeita de existir como empresa de fachada para evasão de divisas e
lavagem de dinheiro, a BET Capital obteve R$ 1,3 milhão em depósitos da
Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop) entre 2002 e
2005. A CPI do Cachoeira pretende apurar se os recursos têm como origem
serviços efetivamente prestados ao governo goiano.
Dono de participação societária da BET por meio da Teclogic Tecnologia
Eletrônica, Cachoeira era o representante legal da empresa. As escutas
da Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal já no
terceiro mandato de Perillo (a partir de janeiro de 2011), mostram que o
contraventor tinha influência na Agetop. Num dos grampos, ele informa
ter feito empréstimo de R$ 600 mil ao presidente do órgão, Jayme Rincon,
que nega ter recebido dinheiro.
A BET incorporou em 2003 a Capital Construtora e Limpeza Ltda., cujos
sócios eram Lenine Araújo de Souza e Sebastião de Almeida Ramos Júnior,
irmão de Cachoeira. Os dois são acusados de participação no esquema do
contraventor.
De acordo com a Agetop, a Capital Construtora tocou duas obras para o
órgão. A primeira, de 1999 a 2003, para a pavimentação da rodovia
GO-338, ao custo de R$ 2,2 milhões. A segunda, entre 2001 e 2003, para a
construção de uma ponte na GO-347, por R$ 1 milhão. A agência sustenta
que os contratos foram firmados após concorrência e que os serviços
foram prestados e pagos em sua integralidade.
O relatório do Coaf diz que a BET realizou movimentações financeiras
incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade
financeira. Além disso, foram identificadas operações em paraíso fiscal
usado por empresas que querem lavar dinheiro. Entre 2002 e 2005, a
empresa recebeu R$ 5,3 milhões em transações do exterior. Sua sócia
majoritária, a BET CO., tem sede na Coreia do Norte.
Esquema
O Coaf registra também transferências frequentes a título de “doação”. A
CPI quer investigar se a quadrilha enviou dinheiro ao exterior
fazendo-o retornar às mãos dos donos por meio de empréstimos fictícios
feitos pela BET. A empresa “emprestou” a Cachoeira, por exemplo, cerca
de R$ 10 milhões, não declarados e não suportados pela sua
contabilidade. “Parece ser uma triangulação entre os mesmos”, diz o
senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrante da comissão.
A BET também fez repasse vultoso a André Teixeira Jorge, o Deca,
funcionário da Delta em Goiás, apontado pela PF como responsável por
pagamentos a agentes públicos. À Receita Federal, ele declarou um
incremento em seus bens e direitos, proveniente de um empréstimo de R$
300 mil, feito em 2008. No mesmo ano, adquiriu cotas de três empresas de
comunicação.
Deca trabalhou entre 2000 e 2006 no laboratório Vitapan, que seria de
Cachoeira. Em 2010, foi contratado pela Delta, mas, conforme a PF,
trabalharia para a organização criminosa.
No Estadão
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