DEMOCRACIA
Por Laerte Braga(*)
Democracia começa na praça. Em minha cidade, Juiz de Fora, MG, tinha um prefeito que cuidava das praças com um carinho extremo. Ficou conhecido e marcado por isso. As praças hoje estão abandonadas, sujas e as pessoas reclamam da falta do prefeito que cuidava das praças.
Para Millôr Fernandes “a democracia sempre existiu. E de maneira perfeita em determinados momentos da História. Por exemplo: quando há guerras os pobres também são chamados a defender sua terra”.
Muitos escravos foram libertos na chacina que chamamos Guerra do Paraguai. Imposta ao Brasil pelos ingleses preocupados com a concorrência do mate guarani e dos tecidos de Solano Lopez. A Inglaterra era, então, o “império onde o sol não se põe”.
Não existe democracia sem praça, como a Ágora, qualquer que seja o tamanho do país, mesmo um país de dimensões continentais como o Brasil. É que a realidade imediata de cada um de nós, o local onde nascemos é a cidade. Onde crescemos, nos formamos, constituímos família, somos família, trabalhamos e onde morremos, é a cidade.
O sujeito acorda, abre a janela do quarto e vê um horror de prédios à sua volta se for em São Paulo, ou uma praça se for numa cidade como as sonhadas em tantos e tantos livros escritos por sonhadores.
Uma roseira, uma praça, o coreto, a matriz, até a zona boêmia, um pouco distante, mas parte indispensável de cada cidade democrática.
Numa certa sexta-feira da paixão um bispo reacionário proibiu as “mulheres decaídas” de participarem da procissão do enterro. Houve uma revolta geral e o bispo cedeu. Foram todas descalças, os cabarés ficaram fechados, centenas de velas acesas e nenhuma palavra de condenação. E nem tem como, a companheira de Cristo foi Madalena, extraordinária virtude por sinal.
A voz da praça, do burgo.
“Duzentos milhões de crianças no mundo dormem hoje nas ruas. Nenhuma é cubana. Duzentos e cinqüenta milhões de crianças no mundo com treze anos são obrigadas a trabalhar para viver. Nenhuma é cubana. Mais de um milhão de crianças são forçadas à prostituição infantil e dezenas delas foram vítimas do comércio de órgãos. Nenhuma delas é cubana. Vinte e cinco mil crianças morrem no mundo a cada dia de sarampo, caxumba, difteria, pneumonia e desnutrição. Nenhuma delas é cubana”.
A afirmação foi feita por Fidel Castro e confirmada pelo UNICEF, departamento das Nações Unidas, aquele mesmo que a GLOBO usa aqui para descontar doações alheias no imposto de renda, portanto, insuspeito.
Democracia é isso.
E QUEM TEM MEDO DA DEMOCRACIA?
Ora! Demóstenes Torres, para ficar nos escalões inferiores da corrupção. Pau mandado de Carlinhos Cachoeira.
Os “rambos” que pularam de pára-quedas numa praia da cidade do Rio de Janeiro para comemorar o golpe de 1964 e o fizeram com a bandeira do Brasil aberta, mostrando uma valentia que não têm quando se trata de abrir os baús da ditadura. Escondem-se atrás da saia da anistia, na covardia típica dos valentões das câmaras de tortura.
No duro mesmo somos incipientes nessa história de democracia. Não se faz democracia sem povo e o modelo político e econômico sob o qual vivemos é perverso. Não há democracia possível no capitalismo.
Um exemplo? Para que câmaras municipais? Conselhos de cidadãos, de categorias, regionais, resolveriam com muito mais eficiência, afastariam a corrupção e a representação popular seria mesmo que figurada na praça. Ou até nem tão figurada assim.
O deputado Eduardo Azeredo, um fac totum dos principais acionistas do Estado instituição, pensa que existe politicamente. Como? É eleito pelo dinheiro dos banqueiros, dos grandes empresários, dos latifundiários e além de pretender criar a censura na rede mundial de computadores, não quer que a urna eletrônica tenha um voto impresso como garantia para eventuais fraudes.
Ele e Nelson Jobim acham que a urna é perfeita. Tudo bem, desde que não falte luz, ou um grupo de hackers invada o sistema.
A revolução russa de 1917 foi um exemplo vivo de democracia. O povo nas ruas decidindo. A revolução cubana de 1959 seguiu o mesmo modelo. Trezentos guerrilheiros desbancaram a ditadura de Fulgêncio Batista.
Na Venezuela o golpe fracassado de 2002 levou as elites ao orgasmo no governo de horas do bandido Pedro Carmona. Um dos líderes golpistas ao anunciar as novas medidas afirmou que “está desfeito o conselho do povo”.
“Não têm pão? Pois que comam brioche!”
Maria Antonieta, quem diria, virou modelo e hoje faz propaganda de uma rede de canais de tevê via satélites. Luís XVI esquenta os brioches mesmo que o micro ondas não tenha ainda sido inventado.
Uma das últimas manifestações de democracia nos EUA foi a destituição – renunciou – de Richard Nixon. Produto de um trabalho de jornalistas quando a mídia ainda era livre e capaz de produzir feitos assim.
Hoje, a chamada mídia de mercado, é apenas um braço do modelo totalitário que se reveste de caráter democrático, mas não passa de um clube de amigos e inimigos cordiais.
A “sociedade do espetáculo”.
Tudo bem que a rede mundial de computadores esteja bagunçando esse coreto. Mas está viva e continua mais perversa que nunca a fábrica de zumbis. A mídia.
De pessoas que obedecem cegas e marcham pelas ruas sem noção de nada que não seja o olhar do grande irmão.
Ou as bordunas dos “trabalhadores” do Estado que desocuparam Pinheirinhos em São José dos Campos para atender aos despachos legais comprados por Nagi Nahas.
Democracia é povo. É o desafio das forças populares. De mobilizar, organizar, formar e sair às ruas. Ir às praças.
E tudo por uma razão simples. A sobrevivência da própria espécie. Estamos ameaçados por insanos que tanto invadem uma escola para matar uma secretária, como se entopem de sanduíches da rede McDonald’s, ou arrasam países como o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, tentam fazer o mesmo com a Síria e o Irã, montam o plano Grande Colômbia, em fúria animalesca que chamam de paz e ajuda humanitária.
E esses caras, todos eles, têm um baita medo de povo, de democracia. De um grande despertar.
E para terminar com o mesmo Millôr. “Uma democracia começa com três refeições diárias”.
*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.
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