domingo, 24 de junho de 2012

Democracia é praça, é povo, é ter três refeições diárias. Quem tem medo?

Plantando a democracia na Praça Tahir (Cairo - Egito). Charge: Carlos Latuff.

DEMOCRACIA

Por Laerte Braga(*)

Este artigo faz parte de uma série** publicada em comemoração ao 1º ano de vida do QTMD?, completado em 08 de Abril de 2012.

Democracia começa na praça. Em minha cidade, Juiz de Fora, MG, tinha um prefeito que cuidava das praças com um carinho extremo. Ficou conhecido e marcado por isso. As praças hoje estão abandonadas, sujas e as pessoas reclamam da falta do prefeito que cuidava das praças.

Para Millôr Fernandes “a democracia sempre existiu. E de maneira perfeita em determinados momentos da História. Por exemplo: quando há guerras os pobres também são chamados a defender sua terra”.

Muitos escravos foram libertos na chacina que chamamos Guerra do Paraguai. Imposta ao Brasil pelos ingleses preocupados com a concorrência do mate guarani e dos tecidos de Solano Lopez. A Inglaterra era, então, o “império onde o sol não se põe”.

Não existe democracia sem praça, como a Ágora, qualquer que seja o tamanho do país, mesmo um país de dimensões continentais como o Brasil. É que a realidade imediata de cada um de nós, o local onde nascemos é a cidade. Onde crescemos, nos formamos, constituímos família, somos família, trabalhamos e onde morremos, é a cidade.

O sujeito acorda, abre a janela do quarto e vê um horror de prédios à sua volta se for em São Paulo, ou uma praça se for numa cidade como as sonhadas em tantos e tantos livros escritos por sonhadores.

Uma roseira, uma praça, o coreto, a matriz, até a zona boêmia, um pouco distante, mas parte indispensável de cada cidade democrática.

Numa certa sexta-feira da paixão um bispo reacionário proibiu as “mulheres decaídas” de participarem da procissão do enterro. Houve uma revolta geral e o bispo cedeu. Foram todas descalças, os cabarés ficaram fechados, centenas de velas acesas e nenhuma palavra de condenação. E nem tem como, a companheira de Cristo foi Madalena, extraordinária virtude por sinal.

A voz da praça, do burgo.

“Duzentos milhões de crianças no mundo dormem hoje nas ruas. Nenhuma é cubana. Duzentos e cinqüenta milhões de crianças no mundo com treze anos são obrigadas a trabalhar para viver. Nenhuma é cubana. Mais de um milhão de crianças são forçadas à prostituição infantil e dezenas delas foram vítimas do comércio de órgãos. Nenhuma delas é cubana. Vinte e cinco mil crianças morrem no mundo a cada dia de sarampo, caxumba, difteria, pneumonia e desnutrição. Nenhuma delas é cubana”.

A afirmação foi feita por Fidel Castro e confirmada pelo UNICEF, departamento das Nações Unidas, aquele mesmo que a GLOBO usa aqui para descontar doações alheias no imposto de renda, portanto, insuspeito.

Democracia é isso.

E QUEM TEM MEDO DA DEMOCRACIA?

Ora! Demóstenes Torres, para ficar nos escalões inferiores da corrupção. Pau mandado de Carlinhos Cachoeira.

Os “rambos” que pularam de pára-quedas numa praia da cidade do Rio de Janeiro para comemorar o golpe de 1964 e o fizeram com a bandeira do Brasil aberta, mostrando uma valentia que não têm quando se trata de abrir os baús da ditadura. Escondem-se atrás da saia da anistia, na covardia típica dos valentões das câmaras de tortura.

No duro mesmo somos incipientes nessa história de democracia. Não se faz democracia sem povo e o modelo político e econômico sob o qual vivemos é perverso. Não há democracia possível no capitalismo.

Um exemplo? Para que câmaras municipais? Conselhos de cidadãos, de categorias, regionais, resolveriam com muito mais eficiência, afastariam a corrupção e a representação popular seria mesmo que figurada na praça. Ou até nem tão figurada assim.

O deputado Eduardo Azeredo, um fac totum dos principais acionistas do Estado instituição, pensa que existe politicamente. Como? É eleito pelo dinheiro dos banqueiros, dos grandes empresários, dos latifundiários e além de pretender criar a censura na rede mundial de computadores, não quer que a urna eletrônica tenha um voto impresso como garantia para eventuais fraudes.

Ele e Nelson Jobim acham que a urna é perfeita. Tudo bem, desde que não falte luz, ou um grupo de hackers invada o sistema.

A revolução russa de 1917 foi um exemplo vivo de democracia. O povo nas ruas decidindo. A revolução cubana de 1959 seguiu o mesmo modelo. Trezentos guerrilheiros desbancaram a ditadura de Fulgêncio Batista.

Na Venezuela o golpe fracassado de 2002 levou as elites ao orgasmo no governo de horas do bandido Pedro Carmona. Um dos líderes golpistas ao anunciar as novas medidas afirmou que “está desfeito o conselho do povo”.

“Não têm pão? Pois que comam brioche!”

Maria Antonieta, quem diria, virou modelo e hoje faz propaganda de uma rede de canais de tevê via satélites. Luís XVI esquenta os brioches mesmo que o micro ondas não tenha ainda sido inventado.

Uma das últimas manifestações de democracia nos EUA foi a destituição – renunciou – de Richard Nixon. Produto de um trabalho de jornalistas quando a mídia ainda era livre e capaz de produzir feitos assim.

Hoje, a chamada mídia de mercado, é apenas um braço do modelo totalitário que se reveste de caráter democrático, mas não passa de um clube de amigos e inimigos cordiais.

A “sociedade do espetáculo”.

Tudo bem que a rede mundial de computadores esteja bagunçando esse coreto. Mas está viva e continua mais perversa que nunca a fábrica de zumbis. A mídia.

De pessoas que obedecem cegas e marcham pelas ruas sem noção de nada que não seja o olhar do grande irmão.

Ou as bordunas dos “trabalhadores” do Estado que desocuparam Pinheirinhos em São José dos Campos para atender aos despachos legais comprados por Nagi Nahas.

Democracia é povo. É o desafio das forças populares. De mobilizar, organizar, formar e sair às ruas. Ir às praças.

E tudo por uma razão simples. A sobrevivência da própria espécie. Estamos ameaçados por insanos que tanto invadem uma escola para matar uma secretária, como se entopem de sanduíches da rede McDonald’s, ou arrasam países como o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, tentam fazer o mesmo com a Síria e o Irã, montam o plano Grande Colômbia, em fúria animalesca que chamam de paz e ajuda humanitária.

E esses caras, todos eles, têm um baita medo de povo, de democracia. De um grande despertar.

E para terminar com o mesmo Millôr. “Uma democracia começa com três refeições diárias”.

*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.

**Confira a série completa de textos especiais do 1º aniversário do QTMD?, clicando aqui.

Do Site QTMD?

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