A pressão para que o julgamento ocorra antes das eleições desenvolveu-se dentro do próprio STF
Ainda não chegamos às vésperas do julgamento do mensalão, mas o já
escrito e dito a respeito não deixa dúvida de que o Supremo Tribunal
Federal produziu o clima menos conveniente a uma decisão judicial: a
polêmica que ultrapassa os aspectos do caso e lança os seus
questionamentos sobre o próprio tribunal.
A pressão pelo julgamento antes das eleições desenvolveu-se dentro do
Supremo. No Congresso e fora dele, a oposição mal disse uma ou outra
palavra.
Primeiro foram referências um tanto insistentes, que não deveriam ser
públicas, feitas por ministros à espera do relatório de Joaquim Barbosa,
ministro-relator. Não era necessária muito atenção para perceber-se um
fio de cobrança mal encapado, naquelas referências.
Depois, e com maior constância, as citações voltaram-se para o ministro
Ricardo Lewandowski, incumbido do relatório de revisão. “Marcaremos
quando o ministro Lewandowski entregar o seu relatório” - frases assim
repetiram-se à vontade, por alguns ministros. A cobrança subjacente
estava sempre lá.
Não há razão alguma para supor-se objetivo político, seja por parte dos
ministros que falaram publicamente sobre o julgamento e sua ocasião,
seja dos que silenciaram.
Influência, a meu ver, para possíveis ansiedades e para marcar o início
do julgamento tão perto das eleições teve a chamada “expulsória” de dois
ministros.
Um deles, Cezar Peluso, completa em setembro os 70 anos para a
aposentadoria obrigatória. Presidia o Supremo até este ano. O seguinte
será Ayres Britto, atual presidente.
O desejo de que ambos estejam no julgamento histórico, até como um
grande final em homenagem às respectivas carreiras, teve o seu papel nas
pressões e na data de início.
E encontrou uma razão técnica para apresentar-se: os dois conhecem o
processo. Ao passo que iniciar o julgamento mais tarde seria fazê-lo com
dois novatos, provavelmente demandando tempo para estudar o processo de
50 mil páginas.
Mas nenhuma explicação detém a polêmica e as suspeitas. Situação que se
reforça com o lamento petista e a euforia oposicionista, por contar com o
julgamento em plena campanha eleitoral. E a essas fontes de
enfraquecimento do Supremo sobrepôs-se a contribuição do ministro Gilmar
Mendes.
Os insultos violentíssimos que Gilmar Mendes tem dirigido aos petistas
deveriam, a rigor, afastá-lo do julgamento. Mesmo porque, se os seus
votos forem de absolvição dos réus do partido, a hipótese que lhe
atribuem apenas terá mudado de sinal: será dito que foram votos para
mostrar que não os contaminou com seus conceitos insultuosos.
O mensalão é um julgamento tão extraordinário por seus aspectos judiciais quanto por outros e variados aspectos.
Janio de FreitasNo Falha
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