O ministro Gilmar Mendes julgará o caso do “mensalão”, gravado, como
agora se revela, a mando do contraventor Carlinhos Cachoeira e
publicado, como se descortina, na revista Veja, cuja fonte é o próprio
Carlinhos Cachoeira.
O ministro Gilmar Mendes também serve de fonte à revista Veja. Ou, ao
menos, revela à revista, antes de fazê-lo a seus pares, sua indignação
frente à suposta tentativa de intimidação, negada pelos terceiros
envolvidos, por ocasião de uma reunião com o presidente Lula e o
ex-ministro do STF, Nelson Jobim.
E mais. Gilmar Mendes diz que há uma conspiração para interferir no
julgamento do mensalão, em que ele é juiz. Tudo isso, o tempo todo, por
meio da imprensa e um mês depois do suposto caso, justamente no momento
em que se revela que um “Gilmar” é citado nas gravações da Polícia
Federal.
Este blogueiro elabora então algumas perguntas, ao modo Gilmar Mendes.
1) Ministro Gilmar Mendes, o senhor não fica “perplexo com o
comportamento e as insinuações despropositadas” de um ministro do
supremo que chama um presidente “às falas”, dizendo-se vítima de um
grampo que nunca existiu e de um “estado policial” que ficou a ser
provado, ao preço de uma crise institucional?
2) Ministro Gilmar Mendes, “vamos dizer que o Demóstenes me
oferecesse uma carona num avião se ele tivesse. Teria algo de anormal”
em alguém questionar o meu grau de proximidade com o senador? E se isso
ocorresse com um ministro do Supremo Tribunal Federal e o senador em
questão fosse alvo de fartas acusações, haveria algo de anormal nestes
questionamentos? O senhor se sente intimidado com esta pergunta?
3) Ministro Gilmar Mendes, o senhor se diz vítima de
“gângsteres”, “chantagistas” e “bandidos” que estão a espalhar notícias
falsas para atrapalhar o julgamento do “mensalão”, processo que o senhor
julgará. O ministro Gilmar Mendes não estaria pré-julgando os réus do
processo? O ministro prevaricou ao não denunciar formalmente os senhores
Luiz Inácio da Silva e Nelson Jobim, bem como os “chantagistas” que o
senhor acusa? Ou o senhor não o fez porque simplesmente não há a mínima
prova do que diz, além da sua palavra? Se não o fez porque não há
provas, pode acaso um juiz acusar ou condenar sem provas?
4) O senhor demorou mais de um mês para denunciar a suposta
tentativa de chantagem. Quando o fez foi por meio da revista Veja, após a
revelação de que um “Gilmar” teria viajado em voo reservado pelo
esquema de Carlinhos Cachoeira, segundo informações colhidas pela
Polícia Federal. A indignação do ministro tem 30 dias de prazo para
entrar em vigor? O que o senhor tem a dizer sobre a tese de que isso não
passaria de uma cortina de fumaça para desviar a atenção sobre sua
suposta proximidade com o senador Demóstenes Torres, que, diga-se de
passagem, até recentemente empregava um parente seu?
5) Deve um ministro do STF submeter-se a uma superexposição na
imprensa, emitindo, a todo tempo, juízo de valor e opiniões sobre fatos
concernentes ao caso que o senhor julgará? O senhor acusa a quem,
especificamente, quando diz que há “bandidos” interessados no adiamento
do julgamento do “mensalão”? Às partes do processo? Se a resposta for
afirmativa, isto não deveria constar no processo e ser comunicado
formalmente aos seus pares? Se negativa, eu poderia “inferir” que o
senhor estaria influenciando a decisão de seus colegas e pré-julgando,
por meio da imprensa, ao levantar questões tão graves sem provar o
ocorrido, sugerindo a participação dos réus e testemunhas do processo na
trama protelatória?
6) Os demais ministros do Supremo Tribunal Federal deverão
acompanhar qual órgão de imprensa para que tenham conhecimento das suas
novas acusações, se elas ocorrerem?
7) Ministro Gilmar Mendes, ao ministro do STF é vedado qualquer
participação política-partidária. Diante de sua conduta no caso do
grampo que nunca existiu e, agora, no caso de suas relações com senador
Demóstenes Torres e da denúncia contra o ex-presidente Lula, prontamente
desmentida, eu poderia “entender, depreender e inferir” que o senhor
não está se comportando de acordo com a liturgia que o cargo exige?
8) “Na coluna do jornalista Bastos Moreno, no jornal O Globo,
está dito que Gilmar Mendes, ao sair do escritório de Jobim, foi,
enfurecido, a uma reunião com a cúpula dos Democratas”, lembra Wálter
Maierovitch. Isso é verdade? Se afirmativa a reposta, o senhor não acha
que seus colegas do Supremo Tribunal Federal deveriam ter a primazia,
diante dos fatos? Com quem e sobre o que o senhor conversou com o DEM? O
DEM sabe destes fatos há um mês, e também se calou?
9) Ministro Gilmar Mendes, segundo matéria da Folha de São Paulo
“o ex-ministro de Defesa, Nelson Jobim, teria recebido, há alguns dias,
um telefonema do ex-governador José Serra pedindo que falasse com a
revista Veja. Jobim atendeu o pedido e só então soube da reportagem
sobre o encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes”. O senhor também
recebeu algum telefonema de José Serra pedindo que o senhor falasse à
revista Veja? José Serra sabia então, antes da divulgação da revista,
sobre o teor da matéria? Quem contou foi o senhor? A revista veja?
10) O termo “liturgia do cargo” tem, na sua opinião, qual sentido?
Sem mais perguntas, agradeço a atenção de vossa excelência.
Charles CarmoNo O Recôncavo
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