Eurípedes (Veja), Bucci (Estadão), Sardenberg (TV Globo), Merval (O Globo), Villa (Globonews e outros) e Fiuza (Época) são alguns dos nomes conhecidos na imprensa que fazem parte do Instituto Millenium, centro de pensamento liberal que diz defender a liberdade e o estado de direito no país. Se dizem liberais, mas nenhum faz ressalvas à oligopolização da mídia. Dez entre dez artigos do instituto veem guerra ideológica em cada esquina brasileira. Nos últimos meses, eles estão ainda mais raivosos. O que esperar para 2013?
Heberth Xavier
O nome é pomposo, Millenium. O Instituto Millenium se diz um “centro de pensamento que trabalha para a promoção e o fortalecimento da democracia, da liberdade, do estado de direito e da economia de mercado”. Seus integrantes vêm das redações de jornais, revistas, internet, da academia, espalhados por diversas áreas. Tem gente de todo o tipo, mas todos com algo em comum: têm um medo apavorante do rumo seguido pelo Brasil nos últimos dez anos, que perigosamente estaria flertando com teorias e práticas contra a liberdade de imprensa e com o intervencionismo econômico - alguns, mais radicais, chegam a relembrar o comunismo…
O nome é pomposo, Millenium. O Instituto Millenium se diz um “centro de pensamento que trabalha para a promoção e o fortalecimento da democracia, da liberdade, do estado de direito e da economia de mercado”. Seus integrantes vêm das redações de jornais, revistas, internet, da academia, espalhados por diversas áreas. Tem gente de todo o tipo, mas todos com algo em comum: têm um medo apavorante do rumo seguido pelo Brasil nos últimos dez anos, que perigosamente estaria flertando com teorias e práticas contra a liberdade de imprensa e com o intervencionismo econômico - alguns, mais radicais, chegam a relembrar o comunismo…
Lá está o colunista de O Globo, Merval Pereira,
acompanhado por artigos em que o governo federal, dez em dez vezes, é
sempre vilão. Ou o historiador Marco Antonio Villa, cuja notoriedade
recente, alimentada sempre pela crítica ao governo federal, impressionou
o jornalista Paulo Nogueira, ex-editor de Veja e ex-diretor de redação de Exame
(“É um símbolo de como alguém pode chegar aos holofotes e virar
‘referência’ falando apenas o que interesses poderosos querem ouvir”,
disse Nogueira). Ou o global Arnaldo Jabor, cujo único mérito do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ter mantido, graças ao
temperamento conciliador, “os bolcheviques” fora do poder.
Nenhum deles, ou quase nenhum, vai admitir, mas é
inevitável a analogia entre o Millenium e Instituto de Pesquisas e
Estudos Sociais (Ipes), que reunia nos início dos anos 1960 “pensadores”
tão liberais e democratas quanto temerosos de uma ditadura comunista no
Brasil - claro, o Ipes e seu discurso contra João Goulart ajudaram a
dar um verniz “sofisticado” ao golpe de 1964.
O Ipes era bancado por grandes empresas brasileiras e
multinacionais. No caso do Millenium, o patrocínio vem do “prestígio”
dos grandes grupos de mídia: Roberto Civita, da Editora Abril; Otávio
Frias Filho, da Folha; e Roberto Irineu Marinho, da Globo, são os
grandes anfitriões dos encontros do instituto.
Vários dos expoentes do Millenium usava fraldas, ou nem
isso, naquele 1964. Mas repetem, basicamente, um discurso parecido com o
do Ipes. Onde estavam as críticas a Goulart, Juscelino, Fidel Castro e
Stalin há 50 anos, estão hoje o medo do bolivarianismo, de Hugo Chávez,
de Rafael Correa, ou o temor a Lula e ao controle da mídia.
O Millenium é liberal e tem orgulho disso. Mas não imagine
que defenda, explicitamente, teses caras ao liberalismo econômico, como
a crítica aos monopólios e oligopólios. O monopólio da Petrobras é
ainda criticado, mas ignora-se solenemente qualquer discussão acerca do
fim do oligopólio na mídia. Ignora-se, da mesma forma, limites à
propriedade cruzada nos meios de comunicação, a exemplo do que fizeram
vários países europeus. Liberalismo, sim, pero no mucho…
Nos últimos dias, os textos ficaram ainda mais
contundentes, estimulados pelo julgamento da Ação Penal 470, o chamado
mensalão. No último deles, o jornalista Eugênio Bucci, outrora
presidente da Radiobras no governo Lula e simpático ao PT, fala sobre a
“lógica desastrosa de Lula sobre a imprensa”. Em outro artigo desta
semana, o economista Mailson da Nóbrega, que deixou o Ministério da
Fazenda no governo Sarney com uma inflação na casa de 80% ao mês,
critica o que chama de “volta ao passado” do governo Dilma na economia.
Entre os articulistas, há gente de mente arejada e plural, como o
cientista político Murilo de Aragão, mas elas são exceções: ganha um
doce quem achar algo que vá além do medo assombrado contra a estatização
exagerada no Brasil e contra os ataques que estariam sendo feitos à
liberdade de imprensa (observação: não se conhece, entre os
articulistas, qualquer um que tenha sido censurado pelo governo atual).
O Millenium conta entre seus quadros com gente que adora a
polêmica. E gente que força a polêmica, ainda que gratuita. Marcelo
Madureira, que até há pouco era conhecido apenas por ser humorista e
membro do grupo Casseta e Planeta, decidiu-se pela política mais
explícita. E escolheu o Millenium para expor suas ideias. Em um dos
encontros, gritou: “Quero denunciar o seguinte: a sociedade brasileira é
vítima de ataques à democracia! São ataques à democracia, como o
mensalão é um ataque à democracia, a legislação eleitoral é um ataque à
democracia”. Não falou mais, ou explicou melhor esses ataques, ou mesmo
deu uma satisfação sobre quem estava fazendo esses ataques. Mas foi
muito aplaudido.
Reinaldo Azevedo, o polêmico blogueiro de Veja, é claro,
também é Millenium. E, como seu companheiro Madureira, também vê uma
guerra ideológica em cada esquina: “Existe uma guerra em curso. O lado
de cá, o lado de cá que eu digo é o lado da democracia…”
O jornalista José Nêumane Pinto, articulista do Estadão e
comentarista político no SBT, também é Millenium. Em seu livro mais
recente, “O que sei de Lula”, ele acusa o ex-presidente de ter delatado
colegas na época de sindicalismo em São Bernardo do Campo. Antes de
publicar o livro, na campanha eleitoral de 2010, chegou a convocar os
militares. Criticando as bases do Plano Nacional de Direitos Humanos,
Nêumane extrapolou e encerrou assim seu comentário. “O presidente assina
o que não lê, a oposição idem e os militares… bem, alguém sabe onde
andam os militares?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário