O comportamento de nossas oposições é, às vezes, francamente infantil.
Parecem-se com as crianças pequenas que gostam de atazanar os
coleguinhas maiores com chutes, beliscões e xingamentos. E que choram
quando os grandes reagem e lhes dão um chega pra lá.
Acabamos de presenciar uma dessas situações. Desde a semana passada, o
que mais se ouve são as queixas oposicionistas contra o protagonismo que
Dilma adotou em seu pronunciamento a respeito das questões energéticas e
da redução das tarifas de eletricidade.
As oposições não gostaram do discurso. Seja na nota oficial do PSDB, nos
editoriais da imprensa oposicionista ou nas “análises” dos entendidos
recrutados por ela, disseram-se indignados com o conteúdo e a forma da
manifestação.
O mínimo que afirmaram é que, ao convocar cadeia nacional de rádio e
televisão para anunciar as posições do governo, a presidenta havia se
aproveitado das prerrogativas do cargo e feito campanha em favor da
reeleição.
Supor que Dilma tenha resolvido se pronunciar buscando dividendos
eleitorais é ignorar quem ela é. Os que a conhecem sabem que, em
condições semelhantes, ela diria exatamente o mesmo, ainda que não
cogitasse em se candidatar a nada.
Sabem, também, que seria improvável que ela permanecesse indefinidamente calada, ouvindo o que andou ouvindo.
Quando o grande plano das oposições para voltar ao Planalto fez água,
elas passaram a se dedicar a outra estratégia. A espetacularização do
julgamento do “mensalão” não causou os danos que esperavam na imagem do
PT, como ficou evidente à luz de seu desempenho na última eleição e
perante o favoritismo dela e de Lula nas pesquisas sobre a sucessão em
2014.
O antipetismo teve que mudar o alvo.
As oposições parlamentares e extraparlamentares dirigiram suas baterias
contra Dilma, querendo desmoralizar o governo. Tudo se tornou pretexto
para acusá-lo.
A elas, a rigor, nunca importou a razão de cada crítica, se o avaliavam
mal por considerá-lo ignorante, incompetente, corrupto ou qualquer outra
coisa. O que buscavam era sempre ter uma denúncia para incomodá-lo.
Bateram no governo sem parar. Os articulistas e comentaristas da “grande
imprensa” fizeram a festa, espicaçando-o pelo que fazia, pelo que
deixava de fazer e pelo que nem estava em seus planos.
O retardo das chuvas de verão veio a calhar. Sentiram o gosto da vitória
que poderiam ter sobre a presidenta, que se orgulha de conhecer o setor
elétrico.
E acreditaram que se desforrariam: após o vexame do apagão tucano, o PT amargaria o seu.
A presidenta cumpriu com seu dever falando diretamente ao País. Depois
de três meses de bombardeio negativo, em que os esclarecimentos dos
responsáveis mereceram espaço minúsculo na imprensa, cabia a ela
apresentar a versão do governo.
O pronunciamento foi em tom político, coisa que não é comum para Dilma, que prefere falar de maneira técnica.
Dá-se o caso que o tema já estava politizado e que seria difícil
tratá-lo de outra maneira. Para esclarecer o que pensava, ela tinha que
dizer porque discordava da oposição.
Não deixam de ser curiosas as expectativas que alguns setores da
sociedade têm em relação ao PT e suas lideranças. O que consideram
normal nos políticos da oposição torna-se pecado quando vem de um
petista.
Os pesos e as medidas são completamente diferentes para os dois lados.
Receber e não declarar recursos para fazer campanha? Nomear
correligionários para cargos públicos? Indicar aliados para funções na
administração? Tudo isso é regra no sistema politico brasileiro. Mas
estaria proibido ao PT, que deveria amarrar as mãos e assistir aos
adversários fazer o que apenas a ele é vetado.
Dar a outra face quando atacado? Nenhum faz isso, a começar por alguns
dos mais ilustres representantes do oposicionismo, que são incensados
quando se mostram duros e até vingativos (ou alguém se esqueceu de quem é
e como atua José Serra?). Mas Dilma teria a obrigação de apanhar
calada.
O fato é que ela não é assim. E é bom que deixe isso claro desde o
início do ano, que deve ser parecido a janeiro no denuncismo. Com sua
grande popularidade e o apoio quase unânime do País, é bem provável que
tenha que voltar aos meios de comunicação. Quando a provocarem além do
normal. E não vai adiantar ficar fazendo beicinho.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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