sábado, 2 de fevereiro de 2013

Jornal Nacional colhendo o que plantou


Deu na coluna Zapping do site de entretenimento F5 da Folha: O instituto IBOPE registrou que a média de audiência do telejornal JN, da Rede Globo de Televisão, ficou em 24,5 pontos no mês que terminou, sendo o pior janeiro de sua história.
O resultado é uma redução de quase 7 pontos em relação a janeiro de 2012, quando registrou média de 31,3 pontos, ou seja, uma queda de aproximadamente 22% em apenas um ano. Se aumentarmos o período de comparação e pegamos o ano de 2001, quando registrava o recorde para o mês de 40 pontos, a redução chega a 15,5 pontos, queda de impressionantes 39% de audiência, ou seja, de cada 10 telespectadores do JN há 12 anos, 4 o abandonaram.
Por óbvio e para não repetir a desonestidade intelectual do próprio jornal, não é possível desprezar o fato que uma parcela dos que deixaram de ver o JN apenas trocaram o meio, consequência natural partindo do princípio que mais pessoas descobrem que a busca pela informação na internet, além de garantir informação mais fidedigna pela possibilidade de ouvir o contraditório, produz resultados mais rápidos, ou seja, enquanto a revista é notícia da semana passada, o jornal é notícia de ontem e a TV notícia de horas atrás, a internet é “real time”.
No entanto, essa não é a única explicação para uma queda tão acentuada, visto que a audiência do jornalismo das concorrentes não declinou na mesma intensidade. O JN, reflexo de um tempo onde a grande imprensa tenta de todas as formas recuperar poder de influenciar politicamente e ter os demais poderes sob seu controle, vem escancarando na prática da manipulação dos fatos com objetivos políticos e perdeu o senso de limite e prudência, linha tênue entre a prestidigitação eficiente e o descrédito por seus telespectadores entenderem que estão tentando lhes fazer de idiota.
Não é novidade que o JN use meios de manipulação de massas desde que foi ao ar pela primeira vez em plena ditadura. Acostumados a serem amigos do rei, o JN só fez crítica ao executivo federal quando deixou de apoiar Sarney, depois quando deixou de apoiar Collor e de 2003 pra cá. Nos demais períodos foi uma eficiente segunda via do diário oficial da união.
Entretanto, no período em foi administrado por Roberto Marinho, o jornal que regulou a temperatura política no país durante décadas, foi mais precavido e quando se viu entre a luta política e a sobrevivência empresarial, o magnata optou pela empresa e fez recuos estratégicos. Só para citar como exemplo a notícia das passeatas pelas diretas, tardia, mas que aconteceu, e o reconhecimento, depois de alguns anos, da edição que manipulou o último debate entre Lula e Collor em 1989, que garantiu a vitória do atual senador no segundo turno das eleições presidenciais.
Sob o comando dos filhos de Roberto Marinho (segundo PHA, eles não têm nome próprio) o JN parece que perdeu o “timing” e algum tipo de controle que acendia uma luz vermelha quando as burradas e devaneios da direção de jornalismo afetava “trackings” de audiência. Hoje em dia, além de perder o controle, as burradas maiores vêm de cima para baixo, ou seja, por iniciativa dos atuais donos da emissora, ensandecidos por sucessivas derrotas de seus candidatos nas urnas.
O episódio que foi um marco nessa nova fase “porra louca” do JN aconteceu durante a cobertura das eleições presidenciais de 2010, onde patrocinou o episódio mais bizarro do jornalismo brasileiro, onde para não confirmar um farsa desmascarada de seu candidato, contratou perito de péssima reputação para “explicar” o inexplicável. O episódio teve forte reação inclusive dos funcionários do jornal, no Rio de Janeiro, que vaiaram dentro da redação a vergonhosa edição.
Fora esses episódios mais intensos, o JN pediu muito para perder telespectadores com as longas e maçantes edições da cobertura do mensalão, que jamais despertou na população o interesse que o jornal gostaria. A partir do momento que um jornal perde credibilidade e passa a ser visto como propaganda político partidária, o interesse diminui e as pessoas procuram naturalmente opções onde conseguir informação segura e imparcial.
O JN colhe hoje o que vem plantando. O destino ainda pode ser modificado, visto que os jornais na telinha ainda vão continuar sendo vistos por muito tempo ainda, visto que a migração para a internet e lenta e gradual, basta fazer jornalismo profissional como nunca fez. O monopólio acabou, só os profissionais e qualificados vão sobreviver. Se continuar desdenhando do senso crítico dos telespectadores a decadência só estará começando.

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