E esses safados ainda têm o desplante de falar em ética.
Fux, Fischer e Mello, especialistas em nepotismo. Fotos: Fellipe Sampaio
O esforço do Supremo Tribunal Federal para impor à Câmara dos Deputados a
decisão final sobre a cassação dos parlamentares condenados na Ação
470, o chamado “mensalão” petista, é a causa mais aguda e temerária
daquilo que os acadêmicos costumam chamar de “judicialização da
política”.
Se essa questão gerou uma crise institucional entre o Judiciário e o
Legislativo, contida e ainda não resolvida, ela promove também um avanço
da intromissão pessoal dos magistrados em causas menores em outras
instituições, em iniciativas controvertidas, para dizer o mínimo, como a
que é patrocinada agora por Luiz Fux.
O peso da toga de ministro do STF causou grande constrangimento na Ordem
dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro, para onde ele
telefonou e falou com os atuais e com os ex-dirigentes da entidade.
Pediu a inclusão do nome da filha dele, Marianna, uma jovem advogada de
31 anos, na lista a ser feita pela OAB para preencher vaga de
desembargador, no Tribunal de Justiça do Estado, pelo Quinto
Constitucional da advocacia.
A vaga será aberta em julho. O ministro, no entanto, trabalha
desde já. Parece repetir, em nome da filha, o padrão usado em benefício
próprio quando buscou a vaga no STF: a conquista a qualquer preço.
O ritual oficial é comum. A OAB faz uma lista sêxtupla que é encaminhada
ao Tribunal de Justiça. Os desembargadores cortam três nomes e enviam
lista tríplice para o governador do estado. Ele faz a escolha.
É preciso lembrar que Sérgio Cabral jogou forte na indicação de Fux ao
STF. Por coincidência, dessas que os cristãos costumam atribuir a
desígnios divinos, Fux favoreceu o Rio de Janeiro em liminar que
interferiu na pauta da Câmara. A decisão do ministro suspendeu a votação
sobre os vetos feitos por Dilma à Lei dos Royalties. Eles seriam
derrubados pelos deputados e isso prejudicaria o Rio.
Iniciativas em causa própria, como faz Fux, geram espanto e mancham a
toga. E, mais grave, denunciam uma prática utilizada nos tribunais
corriqueiramente.
Tarefa semelhante à de Fux tem, também, Felix Fischer, presidente
do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele batalha para incluir o
filho, Octávio, na lista do Quinto da OAB do Paraná. Para isso, também
pressiona os dirigentes daquela seccional da OAB.
Do STF ao STJ. Do STJ de volta ao STF.
A filha do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, foi incluída, no fim de
2012, na lista do Quinto, nesse caso elaborada pelo Conselho Federal da
OAB. Ela busca a vaga de desembargadora do Tribunal Regional Federal
(TRF) da 2ª Região, no Rio de Janeiro. A escolha será da presidenta
Dilma Rousseff.
Em 1998, Carlos Eduardo Moreira Alves, filho do ministro José Carlos
Moreira Alves, hoje aposentado, tomou posse como Juiz do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, pelo atalho de sempre, o Quinto
Constitucional. Foi indicado em lista sêxtupla pelo Ministério Público
Federal e, em lista quádrupla, pelo TRF – 1ª Região.
Vista de certo ângulo, a árvore que retrata a Justiça brasileira se
assemelha a uma árvore genealógica. A inadequada intromissão dos pais
togados citados aqui, seguramente, mostra a falência do sistema de
escolha. E isso, neste momento em que o Judiciário perdeu o freio de
contenção, revigora a observação do filósofo inglês Francis Bacon
(1561-1616), que, aqui, é oferecido à meditação do Congresso Nacional:
“Os juízes são leões, mas leões sob o trono em que se assenta o Poder
Político”.
Maurício Dias-CartaCapital
Maurício Dias-CartaCapital
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