sábado, 23 de fevereiro de 2013

Lobby gay no Vaticano pode ter levado Papa a abdicar


No momento de sua iminente despedida, voltam à tona os escândalos que marcaram o pontificado de Bento XVI. De acordo com o diário italiano de centro-esquerda La Repubblica, no dia 17 de dezembro de 2012, quando deitou os olhos sobre o dossiê elaborado por três cardeais octogenários incumbidos de investigar o chamado caso Vatileaks – o escrutínio de documentos papais –, Bento XVI tomou a decisão de que renunciaria.
Foto: Stefano Rellandini/ Reuters/ LatinStock
Foto: Stefano Rellandini/ Reuters/ LatinStock
Em miúdos, o relatório de 300 páginas se baseia no não cumprimento de dois mandamentos, o sexto e o sétimo. O sexto mandamento proíbe o adultério, mas, como esse ato não é realizável no mundo dos prelados, fala-se em proibição da pederastia.
Por sua vez, o sétimo mandamento refere-se a casos de corrupção, também identificados pelos cardeais liderados pelo espanhol Julián Herranz. Os outros dois cardeais, responsáveis pela investigação realizada entre abril e dezembro do ano passado, são o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Jozef Tomko.
Segundo o inquérito, baseado em entrevistas com dezenas de bispos, cardeais e laicos, uma série de sacerdotes da Santa Sé teriam pecado, e, até prova em contrário, esses graves pecados poderão se transformar em delitos.
O quadro piora quando o La Repubblica revela o seguinte: oficiais do Vaticano teriam, por conta de suas atividades mundanas, sofrido “influências externas” de laicos.
Tradução: os oficiais do Vaticano estão sendo chantageados.
O escândalo, contudo, não pode ser visto como um complô de um diário de centro-esquerda, visto que o Corriere della Sera, prestigiado diário de centro-direita, também reportou sobre a gravidade do dossiê em 11 de fevereiro, data em que Bento XVI anunciou sua renúncia.
Difícil mesmo é saber se esse último escândalo foi, de fato, a gota d’água para o atual Papa.
Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, revelou que não haverá “nem desmentidos, nem comentários” sobre as “informações e opiniões” feitas pela imprensa às vésperas da resignação de Bento XVI.
O La Repubblica, é verdade, pode deixar o leitor por vezes perplexo. Por exemplo, diz que esta foi a primeira vez que a palavra “homossexualidade” foi pronunciada nos aposentos de Bento XVI.
O diário revela que os cardeais identificaram villas, saunas, e residências usados por um arcebispo italiano com seus amantes.
No entanto, casos gays não são novidades no Vaticano – e é difícil acreditar que a palavra “homossexualidade” nunca tenha sido citada pelo atual Papa. Angelo Balducci, um dos Cavalheiros de Sua Santidade, não foi afastado do cargo em 2010 porque tinha várias relações com homens, inclusive com o nigeriano Chinedu Thomas Ethiem, cantor de capela da basílica de São Pedro?
Bento XVI, diga-se, não permite gays ativos a estudar para o sacerdócio. Seria, portanto, interessante saber os termos utilizados pelo Papa ao tratar o caso Balducci.
A corrupção no relatório dos cardeais também parece endêmica, inclusive no Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Ettore Gotti Tedeschi, ex-presidente do IOR, foi despedido em maio de 2011. Seu crime: tentava, há mais de dois anos, limpar as finanças da Igreja. Tedeschi, que após sua demissão temia ser assassinado, escreveu um documento oficial para que sua luta fosse  continuada pelo seu sucessor. O cargo deixado por Tedeschi só foi preenchido nove meses mais tarde…
E, é claro, são numerosos os casos de pedofilia não resolvidos – e vítimas, por tabela, não conseguem processar padres culpados.
Devido “à idade avançada”, Bento XVI renunciará dia 28 de fevereiro. Até a Páscoa um novo Papa deverá ser escolhido. Ele terá de lidar com o dossiê de 300 páginas sobre os podres da Igreja que talvez tenham levado Bento XVI a abdicar.
Gianni Carta
No CartaCapital

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