No momento de sua iminente despedida, voltam à tona os escândalos que
marcaram o pontificado de Bento XVI. De acordo com o diário italiano de
centro-esquerda La Repubblica, no dia 17 de dezembro de 2012,
quando deitou os olhos sobre o dossiê elaborado por três cardeais
octogenários incumbidos de investigar o chamado caso Vatileaks – o escrutínio de documentos papais –, Bento XVI tomou a decisão de que renunciaria.
Foto: Stefano Rellandini/ Reuters/ LatinStock |
Por sua vez, o sétimo mandamento refere-se a casos de corrupção, também
identificados pelos cardeais liderados pelo espanhol Julián Herranz.
Os outros dois cardeais, responsáveis pela investigação realizada entre
abril e dezembro do ano passado, são o italiano Salvatore De Giorgi e o
eslovaco Jozef Tomko.
Segundo o inquérito, baseado em entrevistas com dezenas de bispos,
cardeais e laicos, uma série de sacerdotes da Santa Sé teriam pecado, e,
até prova em contrário, esses graves pecados poderão se transformar em
delitos.
O quadro piora quando o La Repubblica revela o seguinte:
oficiais do Vaticano teriam, por conta de suas atividades mundanas,
sofrido “influências externas” de laicos.
Tradução: os oficiais do Vaticano estão sendo chantageados.
O escândalo, contudo, não pode ser visto como um complô de um diário de centro-esquerda, visto que o Corriere della Sera,
prestigiado diário de centro-direita, também reportou sobre a
gravidade do dossiê em 11 de fevereiro, data em que Bento XVI anunciou
sua renúncia.
Difícil mesmo é saber se esse último escândalo foi, de fato, a gota d’água para o atual Papa.
Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, revelou que não haverá “nem
desmentidos, nem comentários” sobre as “informações e opiniões” feitas
pela imprensa às vésperas da resignação de Bento XVI.
O La Repubblica, é verdade, pode deixar o leitor por vezes
perplexo. Por exemplo, diz que esta foi a primeira vez que a palavra
“homossexualidade” foi pronunciada nos aposentos de Bento XVI.
O diário revela que os cardeais identificaram villas, saunas, e residências usados por um arcebispo italiano com seus amantes.
No entanto, casos gays não são novidades no Vaticano – e é difícil
acreditar que a palavra “homossexualidade” nunca tenha sido citada pelo
atual Papa. Angelo Balducci, um dos Cavalheiros de Sua Santidade, não
foi afastado do cargo em 2010 porque tinha várias relações com homens,
inclusive com o nigeriano Chinedu Thomas Ethiem, cantor de capela da
basílica de São Pedro?
Bento XVI, diga-se, não permite gays ativos a estudar para o
sacerdócio. Seria, portanto, interessante saber os termos utilizados
pelo Papa ao tratar o caso Balducci.
A corrupção no relatório dos cardeais também parece endêmica, inclusive
no Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano.
Ettore Gotti Tedeschi, ex-presidente do IOR, foi despedido em maio de
2011. Seu crime: tentava, há mais de dois anos, limpar as finanças da
Igreja. Tedeschi, que após sua demissão temia ser assassinado, escreveu
um documento oficial para que sua luta fosse continuada pelo seu
sucessor. O cargo deixado por Tedeschi só foi preenchido nove meses
mais tarde…
E, é claro, são numerosos os casos de pedofilia não resolvidos – e vítimas, por tabela, não conseguem processar padres culpados.
Devido “à idade avançada”, Bento XVI renunciará dia 28 de fevereiro.
Até a Páscoa um novo Papa deverá ser escolhido. Ele terá de lidar com o
dossiê de 300 páginas sobre os podres da Igreja que talvez tenham
levado Bento XVI a abdicar.
Gianni CartaNo CartaCapital
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