Mal informado pelos jornais brasileiros
A
comparação entre o Brasil e a Dinamarca feita pelo técnico dinamarquês
da seleção brasileira de handebol feminino, Morten Soubak, é
inspiradora. Ela está registrada no site da Federação Paulista de Handebol.
O
DCM se bate, intensamente, pela escandinavização do Brasi. A
dificuldade para chegar lá está ligada muito mais a uma questão de
mentalidade do que de tamanho: a cultura da elite dinamarquesa não é
predadora, ao contrário do que acontece no Brasil.
Mas é outra parte do depoimento que me chamou particularmente a atenção.
Nele, Moubak fala de um sentimento que o toma quando abre um jornal no Brasil.
“Aqui, todos os dias, ao abrir o jornal, vejo que alguma coisa está errada.” Ele estava falando, especificamente, de corrupção.
Moubak
tocou involuntariamente num ponto essencial para compreender o Brasil: a
ênfase cínica e calculada que a mídia dá à “corrupção”.
É
uma arma antiga empregada para desestabilizar governos populares:
Getúlio Vargas em 1954 estava submerso num “mar de lama”. João Goulart
também, uma década depois. Mais recentemente, as administrações
petistas, segundo a mídia, parecem ter levado ao estado da arte a
corrupção no Brasil.
Leitores como Soubak ficam com a impressão, completamente errada, de que o Brasil é um caso único de corrupção no mundo.
De
Londres, acompanho o noticiário mundial: corrupção existe em toda
parte. A maior diferença, no Brasil, é o destaque que a mídia dá ao
assunto -- quando lhe convém.
O Brasil pareceria bem menos corrupto para Soubak, e tanta gente, se ele vivesse aqui na época da ditadura militar, por exemplo.
Corrupção não era assunto, não porque não houvesse – havia e em extraordinária quantidade – mas por não ser noticiada.
Mesmo
na era FHC a corrupção parecia não existir para a mídia brasileira. A
possibilidade de reeleição de FHC foi comprada no Congresso, mas isto
não comoveu a mídia brasileira. Ninguém investigou a sério o assunto e
deu o tratamento que o caso merecia.
“Corrupção”
entra verdadeiramente na pauta quando o alvo são administrações
populares: isto é fato, e é absolutamente lastimável.
Ingênuos
como o dinamarquês Soubak – ele deve imaginar que a mídia brasileira é
tão honesta quanto a de seu país – são levados a crer em “mares de lama”
dramaticamente ampliados para fins de manipulação.
Mas não nos enganemos.
O
problema real do Brasil é um grupo que, ao longo dos tempos, tomou tudo
para si e promoveu uma das maiores desigualdades do mundo.
A “corrupção” é o instrumento predileto deste grupo para engabelar os chamados 99%.
Duas vezes funcionou, em 1954 e 1964. Agora, parece que os brasileiros acordaram para seu drama real – e isto é muito bom.
Talvez um dia Soubak entenda isso também.
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Um comentário:
Pois o que nos distingue da Dinamarca é o fato de que 100% daqueles quase seis milhões de habitantes são dinamarqueses... Por aqui, nestes tristes trópicos, a nossa turma do andar de cima é estrangeira, adoram MIAMI... Preferem ser "cucarachas" no tio sam a serem cidadãos onde nasceram!
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