Mal informado pelos jornais brasileiros
“Venho
de um país que é do tamanho do estado do Rio. Tem um pouco menos de
seis milhões de habitantes e a educação é totalmente diferente. Todos
têm educação de graça, está tudo pago, não tem buraco nas ruas. Aqui não
deixam crianças nas ruas porque não confiam. Na Dinamarca vemos
crianças com sete anos indo à escola de bicicleta. O sistema de educação
é totalmente diferente, lá é tudo de graça para estudar e aqui é o
contrário.”
A
comparação entre o Brasil e a Dinamarca feita pelo técnico dinamarquês
da seleção brasileira de handebol feminino, Morten Soubak, é
inspiradora. Ela está registrada no site da Federação Paulista de Handebol.
O
DCM se bate, intensamente, pela escandinavização do Brasi. A
dificuldade para chegar lá está ligada muito mais a uma questão de
mentalidade do que de tamanho: a cultura da elite dinamarquesa não é
predadora, ao contrário do que acontece no Brasil.
Mas é outra parte do depoimento que me chamou particularmente a atenção.
Nele, Moubak fala de um sentimento que o toma quando abre um jornal no Brasil.
“Aqui, todos os dias, ao abrir o jornal, vejo que alguma coisa está errada.” Ele estava falando, especificamente, de corrupção.
Moubak
tocou involuntariamente num ponto essencial para compreender o Brasil: a
ênfase cínica e calculada que a mídia dá à “corrupção”.
É
uma arma antiga empregada para desestabilizar governos populares:
Getúlio Vargas em 1954 estava submerso num “mar de lama”. João Goulart
também, uma década depois. Mais recentemente, as administrações
petistas, segundo a mídia, parecem ter levado ao estado da arte a
corrupção no Brasil.
Leitores como Soubak ficam com a impressão, completamente errada, de que o Brasil é um caso único de corrupção no mundo.
De
Londres, acompanho o noticiário mundial: corrupção existe em toda
parte. A maior diferença, no Brasil, é o destaque que a mídia dá ao
assunto -- quando lhe convém.
O Brasil pareceria bem menos corrupto para Soubak, e tanta gente, se ele vivesse aqui na época da ditadura militar, por exemplo.
Corrupção não era assunto, não porque não houvesse – havia e em extraordinária quantidade – mas por não ser noticiada.
Mesmo
na era FHC a corrupção parecia não existir para a mídia brasileira. A
possibilidade de reeleição de FHC foi comprada no Congresso, mas isto
não comoveu a mídia brasileira. Ninguém investigou a sério o assunto e
deu o tratamento que o caso merecia.
“Corrupção”
entra verdadeiramente na pauta quando o alvo são administrações
populares: isto é fato, e é absolutamente lastimável.
Ingênuos
como o dinamarquês Soubak – ele deve imaginar que a mídia brasileira é
tão honesta quanto a de seu país – são levados a crer em “mares de lama”
dramaticamente ampliados para fins de manipulação.
Mas não nos enganemos.
O
problema real do Brasil é um grupo que, ao longo dos tempos, tomou tudo
para si e promoveu uma das maiores desigualdades do mundo.
A “corrupção” é o instrumento predileto deste grupo para engabelar os chamados 99%.
Duas vezes funcionou, em 1954 e 1964. Agora, parece que os brasileiros acordaram para seu drama real – e isto é muito bom.
Talvez um dia Soubak entenda isso também.
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Um comentário:
Pois o que nos distingue da Dinamarca é o fato de que 100% daqueles quase seis milhões de habitantes são dinamarqueses... Por aqui, nestes tristes trópicos, a nossa turma do andar de cima é estrangeira, adoram MIAMI... Preferem ser "cucarachas" no tio sam a serem cidadãos onde nasceram!
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