Você não pode ler
livremente na Papuda
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É a reprodução, bovina e automática, de um texto do Estadão.
Bem, quais as regalias?
A resposta mostra, ao mesmo tempo, a estupidez do Estadão e o desapreço que existe no Brasil pelo hábito da leitura.
A grande regalia subtraída é, acredite, poder ler. Segundo o Estadão, os presos do PT agora só poderão ler duas horas por dia, e na biblioteca.
Isso quer dizer que os presos na Papuda – não estou falando de Dirceu e Delúbio – estão submetidos a um regime no qual lhes é proibido ler além de duas horas, e não na cela.
Não se incentiva a leitura. Ela é cerceada como uma coisa má.
Que idiota estabeleceu aquela regra? E por que os editores do Estadão – e todos os demais que replicaram a perda das “regalias” – não denunciaram esta violência do Estado?
É tão grande a preocupação do Estadão em construir uma imagem monstruosa de Dirceu que se agarra a uma desumanidade – pois que outra coisa é proibir ler? – como se fosse um ato de justiça exemplar.
Visitei, na Noruega, o presídio de Bastoy, em que os detentos são tratados como seres humanos. Moram em chalés decentes, recebem familiares todo final de semana, têm à sua disposição um campo impecável de futebol, andam a cavalo quando querem – e podem ler 24 horas, caso desejem.
Conversei em Bastoy com assassinos, traficantes, estupradores. Estão lá, confinados dignamente, para cumprir suas penas. A lógica em Bastoy, como em toda a Noruega, é recuperar as pessoas.
Um preso num dia de sol em Bastoy |
Isto se chama civilização.
Na Papuda os presos só podem ler duas horas? E a mídia não fala nada? E quando descobre, por acaso, não percebe a monstruosidade disso?
Pobre o país que um mídia tão ruim.
Outra regalia, ficamos sabendo, é possuir livros. Isso quer dizer que os “mensaleiros” são coagidos a doar seus livros para uma biblioteca cujo uso é estritamente limitado.
Vai demorar para sermos a Noruega, se é que um dia seremos. Mas não temos que ser o oposto. Não há razão para tratar os presos da Papuda – ou de qualquer outra prisão – como animais.
Daqui a pouco podem impor limites para as respiração, ou para o uso de banheiro.
Um dia, vamos olhar para trás – para a mídia e para as condições a que são submetidos os presos da Papuda, se é verdade o que o Estadão deu – e vamos nos perguntar: “Deus, como isso pode ter acontecido?”
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