sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O papel da militância e o livre-arbítrio do exercício da presidência

Por LEN*

A temperatura política vem aumentando nos últimos dias em relação às “cobranças” de parte da militância que elegeu Dilma. Luis Nassif levantou uma bola interessante: ele alega que certos setores se ressentem da falta de aceno do governo para com essa parcela da população que teve grande importância na vitória nas eleições do ano passado, e determinados artigos e comentários em blogs e redes sociais apontam a confirmação do que o jornalista sugeriu.

Esse texto não é uma defesa da ida de Dilma à festa de 90 anos da Folha de São Paulo, já existem textos - até demais! - sobre o assunto, e esse blogueiro já se manifestou o suficiente sobre o caso em outros canais. Esse texto pretende apenas abrir o debate sobre o papel de militância e até aonde vai o direito de um presidente da república de não se tornar refém de determinados grupos.

Não estou aqui negando o direito de ninguém de criticar as atitudes do governo e do presidente da república, infelizmente esse é o argumento mais usado pelos críticos quando contraditados, estou apenas tentando delimitar os direitos e deveres das partes.

Dilma deve alguma coisa à militância? Deve pautar as suas decisões em função da vontade de grupos ou do coletivo da população brasileira? O governo tem que entrar em confronto com a velha mídia que sempre agiu como seu algoz ou esse é o papel da militância? Convido a todos os amigos do blog a deixarem suas opiniões, a minha eu deixo nos próximos parágrafos.

Dilma deveria manter um canal de comunicação aberto constantemente com os movimentos sociais para ouvir o que eles têm a dizer, mas a palavra final só poderá ser sua. Ela que foi eleita para governar, ela que vai sofrer com o desgaste político do exercício da presidência da república.

Ela não deve nada à militância. Deve ao conjunto da população o papel de cumprir o que prometeu em campanha e, sobretudo, de continuar as transformações iniciadas por Lula. Algumas pessoas não entendem ou não querem entender o real significado do conceito de militância, que é um exercício de doação pessoal em prol de um objetivo comum.

Quem milita pensando em compensação ou satisfação de interesses mesquinhos, eu não considero militante, mas alguém que está investindo pensando em retorno no futuro. O retorno do verdadeiro militante é eleger alguém do seu projeto político e evitar que o país caia nas mãos de políticos que representam a oposição a quase tudo que acreditam. Conheço muita gente boa e inteligente que não tem nenhuma pretensão ou ilusão de receber afagos do governo.

As críticas são do jogo e absolutamente necessárias, no entanto eu questiono a eficiência de manifestações virulentas e agressivas, principalmente daquelas que são amplificadas pelo efeito manada, nas redes sociais. Entendo que existem canais onde determinadas críticas são validadas e levadas mais a sério, sem causar desgaste desnecessário ao governo e dar margem para os adversários aproveitarem a cizânia. Nesse caso, eu considero fogo amigo.

É preciso garantir à Presidenta Dilma o livre-arbítrio para exercer a presidência da república segundo seus valores, sem se tornar refém de grupos menores que tentam, a todo custo, impor a ela que se comporte segundo suas vontades, até porque ninguém fala em nome da militância, que é um movimento social de cabeças pensantes e independentes, cuja complexidade inviabiliza generalizações e porta-vozes.

O que deveria fazer a presidência nesses casos? Fazer o que parte da militância gostaria e rejeitar a opinião da outra parte? Ou o mais certo seria que a presidenta ouvisse o que têm a dizer os movimentos sociais, mas que aja de acordo com os seus princípios e estilo?

Também não vejo com bons olhos a tese de que o governo deveria entrar em confronto com a imprensa partidária, esse é um equívoco reiterado que apenas daria combustível para quem acusa a esquerda brasileira de ser intolerante e contra a liberdade de imprensa.

Combater as mentiras da velha mídia é função da blogosfera e das redes sociais, e essa é uma das funções que acho que cabe à militância. O governo tem apenas que tratar de dar continuidade à política de democratização dos setores de comunicações, desconcentrando verbas publicitárias e tocando o projeto da lei dos médios. Prefiro tirar esse peso das costas do governo, poupando o desgaste.

Fonte da Imagem: SinapsesLinks – Autor não informado

*LEN é editor-geral do Ponto & Contraponto e coeditor do Terra Brasilis.
2 comentários

Do Blog TERRA BRASILIS.

Um comentário:

Proibido virar à direita disse...

Concordo totalmente, não cabe à militância pautar o exercício da presidência, devemos cobrar, sim, que o projeto político iniciado por Lula seja mantido.