segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mídia não usa noticiário político para manipular o "povão"

MIRIAM LEITÃO - As classes D e E até sabem quem é ela,
mas acham que ela fala difícil e não se preocupam com ela

O que devemos analisar bem é que o carro-chefe da manipulação exercida pela velha grande mídia não poderia ser o noticiário político que é amplamente criticado pelos analistas de esquerda. Essa crítica é pertinente, correta e coerente, mas o noticiário político é apenas um recurso menor que a mídia grande utiliza para manipular a opinião pública.
Afinal, pergunte para um camelô, uma empregada doméstica, um trabalhador rural quem são Miriam Leitão, Merval Pereira, Reinaldo Azevedo e Eliane Catanhede. Ou eles conhecerão de forma vaga ou genérica - a não ser quando os proletários são politizados o bastante para observar as entranhas da velha mídia - , ou simplesmente os desconhecerão.
Esses "calunistas" e "urubólogos" não falam para o grande público. E nem poderiam falar. Seu discurso tem um quê de rebuscado, mal-humorado e claramente elitista. Seria muita ingenuidade que achemos que o povão consiga entender, apavorado, as declarações "trevosas" desses comentaristas da velha imprensa.
Quem os identifica é a intelectualidade realmente de esquerda, não aquela que se rende ao espetáculo brega-popularesco, mas os esquerdistas sérios, que não têm ilusões quanto aos mecanismos da ditadura midiática.
A intelectualidade classe média de esquerda é que a critica, porque os "calunistas" e "urubólogos" despejam seu reacionarismo explícito, mas de um tom elitista que os fazem incapazes de falarem com o grande público. "Calunistas" e "urubólogos" falam para eles mesmos e para seu "seleto" público altamente conservador e febrilmente reacionário.
O que manipula o "povão" é o brega-popularesco. É a "cultura popular" sem qualidade, feita para o mero consumismo momentâneo, e que vemos que não produz conhecimento nem valores sociais (quando muito, os nivela para baixo), e seu valor artístico é muito duvidoso.
Isso nem de longe é preconceito, afinal está a olhos vistos que seus cantores e músicos, seus jornalistas e celebridades, comprometidos com a hegemonia do "mau gosto", exibem uma mediocridade e uma vulgaridade gritantes, para a qual todo relativismo sucumbe quase sempre à condescendência acrítica e subserviente.
No brega-popularesco, a identidade cultural regional é enfraquecida, mas mesmo os elementos culturais estrangeiros assimilados são sempre de cima para baixo, pelo poder da televisão aberta e do rádio FM controlados por oligarquias. Se isso atrai o grande público, não é por isso que deva atribuir a ele a responsabilidade por essa "cultura", articulada até de forma evidente por executivos, latifundiários, políticos, publicitários e burocratas.
Vê-se que o povo pobre é tratado com um estereótipo pior do aqueles exibidos em programas humorísticos. Mas como esse estereótipo é trabalhado de forma "positiva" e "alegre", ainda que deixe latente uma espécie de bullying midiático contra as classes populares, ninguém desconfia. Não há questionamentos, muito pelo contrário.
A intelectualidade chega mesmo a defender esses estereótipos como se fosse "o verdadeiro povo", e ainda é aplaudida por seus pares, num discurso que nada tem de objetivo, mas de persuasivo. E ainda cria argumentos confusos, mas que tocam na emoção mais frágil. Intelectuais assim viram "deuses", e, por mais que sejam preconceituosos, eles gozam da visibilidade e do prestígio que pensadores muito mais coerentes não conseguem ter.
Afinal, o Brasil, país novo, ainda desconhece muitas coisas complexas que pensadores europeus e norte-americanos já conhecem. Lá, a pseudo-cultura "popular" já teve seu esquema jabazeiro desvendado, as "louras burras" de lá - equivalentes intelectuais das "popozudas" brasileiras, só que muito mais atraentes e charmosas que estas - foram fartamente contestadas, e nem o gangsta rap que há muito deturpou o hip hop consegue convencer com seu arremedo de "cultura das ruas".
Mas aqui, ainda se pensa que são os comentaristas políticos que manobram o povo pobre. Quanta ingenuidade. Seria o mesmo que dizer que Muammar Kadafi era uma ameaça à população do sertão nordestino. É preciso que se coloquem os pingos nos "ís", porque existem vários modos de manipulação e controle social.
Alexandre Figueiredo
No Mingau de Aço

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