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A sabatina épica de Rodrigo Janot, com mais de dez horas de duração,
produziu momentos cômicos — a maioria deles —, tensos e francamente
entediantes.
O velho Collor, cada vez mais descontrolado, fez questão de chegar mais
cedo e sentou-se com uma montanha de papeis à sua frente. Atacou o
procurador com um arsenal que incluía a acusação de que ele havia
homiziado (escondido) bandidos em sua casa em Angra dos Reis.
Um dos criminosos, Janot mesmo revelou, era seu irmão, morto há cinco
anos e que ele se recusava a “exumar”. Collor, inacreditável,
balbuciava palavrões enquanto ouvia as respostas.
No decorrer da tarde, fez troça do tal “acordão” com Dilma e Renan para
amenizar as investigações contra alguns dos suspeitos de envolvimento
na Lava Jato. É um factoide, apontou.
“A essa altura da minha vida eu não deixaria os trilhos da minha
atuação técnica no Ministério Público para entrar em um processo que eu
não domino, não conheço, que é o caminho da política”, disse.
No meio daquele circo em que sobrou bajulação — dez senadores
investigados integravam a comissão —, ainda apareceram as figuras
evangélicas de Marcelo Crivella e Magno Malta para reclamar da citação
da Assembleia de Deus no esquema de Eduardo Cunha. Malta queria saber o
que é “lavagem de dinheiro” e por que isso se aplicar à igreja (como se
não soubesse).
Mas o que marcou o dia de modo especial foi uma expressão muito cara a
Janot, que ele já havia repetido em outras ocasiões. Na abertura,
reforçando sua isonomia republicana, falou: “Pau que dá em Chico dá em
Francisco”.
Em seguida, numa espécie de advertência aos senadores, insistiu: “Todos
são iguais perante a lei. Pau que dá em Chico, dá em Francisco”. E
completou: “Não é assim que se fala em nossa terra, Aécio?”.
A menção a Aécio Neves foi feita não de maneira provocadora, mas
supostamente simpática. Os dois são mineiros. A câmera não focalizou
Aécio, mas foi possível imaginar seu sorriso alvar brilhando na direção
de Janot.
Serviu, no entanto, para lembrar que o tucano é um símbolo da
impropriedade daquele clichê. Um dia antes, o doleiro Youssef relembrou o
episódio de Furnas, que não deu em nada, assim como não deu em nada o
mensalão mineiro e uma longa lista de etc.
“Me processa. Eu entro no Poder judiciário e por não ser petista não
corro o risco de ser preso”, afirmou o deputado estadual Jorge Pozzobom,
do PSDB do RS.
Algumas almas enxergaram ironia pro parte de Rodrigo Janot, mas isso
não faz parte de seu repertório, como se viu no resto da maratona. Foi
um ato falho, afinal, revelador da vida nacional.
Kiko Nogueira
No DCM
Também do Blog CONTEXTO LIVRE.
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