Outro fim de semana e outra onda de matérias na grande imprensa
acusando Lula com base em uma estratégia extremamente esperta: setores
partidarizados do MP abrem investigação contra o ex-presidente – o que
qualquer procurador pode fazer devido à liberdade que a Constituição dá à
instituição – e a mídia antipetista faz disso um “escândalo.
Recentemente, o MP de Brasília pediu ao Procurador Geral da República
que pedisse ao STF permissão para inquirir Lula. Acuado pelas acusações
da mídia e da oposição de ser “petista”, o PGR, Rodrigo Janot, temeu
recusar, apesar da absoluta falta de uma única evidência concreta contra
o ex-presidente, e pediu ao Supremo que autorizasse a oitiva do
ex-presidente.
Mais uma vez, a intimidação da mídia funciona e o ministro do STF
encarregado de deliberar sobre o tema, Teori Zavascki, preocupado com a
pecha de ser “petista”, autoriza que Lula seja ouvido. Porém, não como
testemunha ou acusado, mas como “informante”. Foi uma saída para não
recusar a ordem da direita midiática e, ao mesmo tempo, não acusar um
inocente – até prova em contrário.
No mesmo fim de semana, uma das revistas semanais antipetistas acusa
Lula de ter tido pago pela empreiteira OAS as obras de um apartamento
“tríplex” de “sua propriedade”, apesar de o apartamento não ser
propriedade dele coisa alguma (Lula tem, apenas, opção de compra do
imóvel) e de as obras no imóvel terem sido feitas pela empreiteira
porque foi ela que construiu o prédio e, assim, é ela que tem que fazer
as obras, pois o apartamento é seu.
A despeito disso, nas redes sociais, nas ruas, já se comenta que Lula
será “interrogado pela polícia”, já que, hoje, não é necessário o
amparo de fatos para acusar petistas ou o governo Dilma.
Vale, neste ponto, fazer uma digressão para relatar um fato ocorrido
em um grupo de discussão na rede social Wats App do qual este blogueiro
participa. O fato revela bem a insensatez do momento político.
Esse grupo de discussão é composto por pessoas de esquerda. Abriga
juristas, políticos, jornalistas, blogueiros… O grupo discutia a questão
do regime de exploração do pré-sal e eis que um jurista põe em pauta
“informação” que disse ter recebido de “um professor” que afirmou que
seria melhor que o pré-sal fosse explorado em regime de concessão porque
a Petrobrás não terá capacidade de explorar essas reservas
petrolíferas.
Como exemplo dessa “incapacidade” da Petrobrás de explorar o pré-sal,
o tal professor afirmou que o campo de Libra (a maior reserva
petrolífera do país) teria sido concedida à iniciativa privada por valor
inferior ao apurado na concessão do aeroporto do Galeão, no Rio de
Janeiro.
Veja bem o absurdo, leitor: o maior campo petrolífero do país – que
ao ser concedido já estava começando a produzir e que, assim, não
representa risco algum a quem o explorar – teria sido concedido por
valor inferior ao de um imóvel com pistas de pouso, ou seja, um
aeroporto – grande, mas, ainda assim, um aeroporto.
Segundo essa versão maluca, o Galeão teria sido concedido à
iniciativa privada por R$ 19 bilhões e o campo de Libra, por US$ 15
bilhões.
Que loucura! Os R$ 15 bilhões pagos pelo consórcio vencedor do campo
de Libra foram a título de bônus de assinatura do contrato. É óbvio que
não representam o valor total da concessão, o qual reside no percentual
de repasse à União do petróleo extraído, que é de 41,65%.
Esse percentual é líquido. O consórcio vencedor da concessão do campo
de Libra – que inclui a Shell e petroleiras chinesas – terá que
entregar à União centenas de bilhões de dólares em petróleo que vier a
extrair, arcando sozinho com os custos de extração.
Ou seja: as pessoas dizem o que querem, hoje, pois ninguém vai checar
nada em um momento em que a mídia, valendo-se dos problemas
conjunturais da economia, conseguiu colocar a população contra o
governo, contra o PT e, em bem menor parcela, contra o próprio Lula.
A artilharia contra o ex-presidente, porém, baseia-se no medo que a
mídia tem, pois até a última sondagem cerca de um terço do eleitorado se
dizia disposto a votar nele caso volte a se candidatar ao cargo que
exerceu entre 2003 e 2010.
O pior é que para setores da esquerda pouco importa essas artimanhas
contra Lula. Esses setores são os que fazem oposição ao governo Dilma,
ao PT e até ao próprio Lula.
O único partido de oposição de esquerda com representação parlamentar
é o PSOL, mas há vários outros partidos sem representação, como o PSTU.
Esses grupos políticos querem mais é que Lula, Dilma e o PT se danem.
Na verdade, gostariam de vê-lo desmoralizado e, se possível, até preso.
Esse é o erro mais fatal que a esquerda brasileira está cometendo.
Desse erro, pode advir uma desmoralização dela inteirinha – PT, PSOL,
PSTU e todos os movimentos sociais do entorno.
Se forem perguntar a um militante médio de partidos como PSOL (há
exceções, nesse partido, como o lúcido Jean Wyllys) se Lula é de
esquerda, tal militante dirá que não – ao mesmo passo que a mídia e a
oposição de direita o consideram “comunista”. Porém, o fato é que Lula
sempre foi e ainda é o grande símbolo da esquerda e do trabalhismo
brasileiros.
Os grupos de ultradireita que perseguem Dilma, Lula e o PT não poupam
os partidos de oposição de esquerda. Luciana Genro, por exemplo, a
liderança mais radicalmente antipetista do PSOL e ex-candidata a
presidente, é colocada pela ultradireita midiática no mesmo saco que os
petistas.
O grosso do eleitorado brasileiro não faz essa separação entre esquerda governista e esquerda oposicionista. É tudo esquerda.
E é o conceito, o ideário, a imagem dessa ideologia política o grande
alvo da oposição e da mídia conservadoras, bem como dos setores
partidarizados e ideologizados do MP e da Polícia Federal que trabalham
diuturnamente para destruir a esquerda brasileira.
Lula, porém, ainda é muito forte. Por ter sido ex-presidente, dezenas
de milhões de brasileiros têm memória dos benefícios que colheram sob
seu governo. Por isso essa campanha massacrante contra ele, com
denúncias semanais mesmo quando não há fato novo algum.
Não sou a pessoa indicada para fazer apelos à oposição de esquerda,
pois a venho criticando há anos. Este post, portanto, é um apelo aos
setores da esquerda que mantém interlocução com o PT e que são contra o
golpismo e o linchamento do partido, de Lula e de Dilma.
Esses setores têm que acordar o resto da esquerda, pois a caça a Lula
não terá fim até 2018 e a direita não vai sossegar até arranjar um meio
de produzir a imagem que tanto almeja: de Lula algemado ou preso.
Pode até não conseguir – não será tão fácil quanto pensam os
fascistas –, mas ficarão dando um jeito para arrastarem o ex-presidente
para circos como o que será montado em seu depoimento sobre a Lava Jato,
o qual será cercado de uma cobertura de imprensa digno de um lançamento
de nave espacial ou grande hecatombe.
Apelo, pois, à esquerda como um todo, seja “governista” ou
oposicionista: acorde! O alvo não é Lula, é a imagem da esquerda
brasileira. A direita quer associá-la à corrupção e à crise provocada,
sobretudo, pela sabotagem midiático-oposicionista. Uma Luciana Genro da
vida será igualada a Lula e um PSOL, ao PT. Que não haja a menor dúvida
disso.
Do Blog da Cidadania.
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