quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A desumana burrice paulista

Copiado do Blog CIDADANIA.COM, do Eduardo Guimarães, que está em Minhas Notícias.
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Saraiva

Crônica

A desumana burrice paulista

Foto sugerida pelo leitor Afonso, de São Paulo

Depois que José Serra assumiu a prefeitura de São Paulo, em 2005, a cada vez que a cidade alaga a mídia põe a culpa em S. Pedro. Desde aquele ano, o que se apressam em divulgar quando o caos pluvial se instala é quão atípica foi a chuva, como se só tivesse acontecido a desgraça por um capricho da natureza.

Cobrança do prefeito? Zero. Cobrança do governador? Zero vezes zero.

Até 2004 era diferente. Em 7 dezembro daquele ano, a poucas semanas da posse do então prefeito eleito da capital paulista, choveu muito mais em São Paulo, mas, à diferença do que todos estão vendo nos meios de comunicação, eles culparam a então prefeita Marta Suplicy pela tragédia.

A ex-prefeita estava em Milão, naquele momento. A mídia aproveitou que ela participou de cerimônia de reinauguração de um teatro e divulgou fotos suas no evento, dando detalhes das roupas que vestia, do preço do hotel em que estava hospedada, praticamente atribuindo as chuvas à sua ausência da cidade.

E, só parar irritar mais o leitor, lembro do escarcéu que fizeram há pouco porque faltou luz de madrugada enquanto uma tragédia como a que aconteceu numa São Paulo submersa é relativizada.

É inacreditável o que está acontecendo. Os paulistanos não questionam nem o prefeito nem o governador por falta de providências quanto ao metrô colapsado, quanto à explosão de violência e criminalidade que se agrava a cada minuto, quanto às enchentes que torturam a cidade sem parar a cada vez que cai uma chuvinha.

Eu voltava do centro da cidade de metrô no começo da noite desta terça-feira e as pessoas, espremidas como sardinhas em lata dentro do vagão, reclamavam do caos num tom resignado, como se não houvesse alternativa, além de proferirem besteiras ininterruptamente.

Num dado momento, meti-me no meio da conversa de duas senhoras e um senhor:

-- Desculpem-me a intromissão, mas será que nenhuma autoridade tem culpa por tudo isso de que o senhor e as senhoras estão reclamando?

-- A culpa é desse “sem-dedo”, desse “baiano” desgraçado, claro. Mas não adianta nada reclamar, o povo é burro. O senhor assistiu o jornal ontem?

-- O Jornal Nacional?

-- Sim, a pesquisa... Não viu?

-- Vi, sim. O que tem ela?

-- Nossa, o senhor precisa se informar... Por isso as coisas não melhoram. O povo burro acha o Lula ótimo.

-- Perdoe-me, mas o que o presidente tem que ver com as chuvas?

-- Como assim, moço?! A obrigação de fazer alguma coisa é dele.

Adiantaria explicar? Talvez... Eu ia começar a explicação, mas a outra senhora entrou na conversa.

-- Ah, não adianta reclamar. Isto aqui não vai melhorar nunca. Eu já desisti há muito tempo.

-- A senhora desistiu do quê?

-- De votar, lógico. Não adianta. E muito menos reclamar. O jeito é a gente se virar como pode.

Finalmente, o senhor que as acompanhava abriu a boca.

-- Olha, não adianta culpar o “sem-dedo” desta vez. Quem cuida da cidade é o governador, o Serra, mas ele não tem culpa. Eu li na internet, antes de sair do escritório, que hoje foi a maior chuva da história.

Pensei em falar alguma coisa, mas não sabia por onde começar. E, além disso, o trem estava chegando à “minha” estação (Estação Paraíso) e ainda teria que tentar chegar à porta do vagão a tempo de desembarcar daquela lata de sardinhas.

Escrito por Eduardo Guimarães às 23h32
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