Uma coisa não se pode deixar de reconhecer em José Serra. Ele é muito produtivo. Produz uma asneira monumental por dia. Hoje, em entrevista à Rádio Globo, no Rio, acusou o governo boliviano de ser cúmplice do tráfico de cocaína para o Brasil. Fosse Serra presidente, as relações com o país vizinho estariam abaladas, desperdiçando todo um esforço de integração desenvolvido nos últimos anos. A Bolívia é um país democrático, cujo presidente – Evo Morales – foi eleito há poucos meses, em eleições livres, com nada menos de 64% dos votos. Merece, no mínimo, respeito de um candidato à presidẽncia brasileira que tenha um mínimo de seriedade.
Em tempos de protagonismo da diplomacia brasileira no mundo, que se destaca cada vez mais pela solidariedade e capacidade de mediar conflitos, seria interessante imaginar como seriam as relações exteriores de um governo José Serra, a julgar pelo que anda dizendo na sua campanha.
O tucano começou atacando o Mercosul, chamando o bloco que pela primeira vez conseguiu unir os países sul-americanos de farsa. Em atitude oposta a do Brasil atual, que leva em conta o seu peso no continente, Serra disse que não fazia sentido “ficar carregando” esse Mercosul, uma declaração que provocou reações negativas da chancelaria argentina.
Pouco depois, exibiu mais uma vez sua estreiteza política ao dizer que o ingresso da Venezuela no Mercosul era uma “insensatez”. Dá para imaginar que o Mercosul de Serra seria o bloco do eu sozinho, algo como a idéia de São Paulo sem o Brasil.
Não satisfeito, Serra passou a dirigir palavras pouco lisongeiras, para dizer o mínimo, a países com os quais o Brasil mantém estreita ligação. No encontro dos presidenciáveis, na CNI, disse que quando ministro da Saúde recebeu camisinhas da China que cheiravam a “pena de galinha fervida” e emendou com um comentário de mau gosto: “O chinês deve gostar no momento apropriado do cheiro de galinha.”
Durante o último governo tucano, nossa diplomacia foi caracterizada pela subserviência. No caso de Serra, a linha é a da arrogância e desprezo pelos parceiros. Deve ser por isso que se identifica tanto com os Estados Unidos.
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