22/06/2010 - 07:28h
Chuva destrói 11.400 casas em Alagoas
Cenário lembra destruição causada por tsunamis; moradores acampam na rua para evitar saques a seus bens
“A água veio rápido, derrubando casa por casa”, diz desabrigado; famílias dividem pouco espaço em abrigos
FÁBIO GUIBU ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL) – FOLHA SP
Centenas de casas, lojas e prédios públicos que ficavam ao longo de uma faixa de 60 km às margens do rio Mundaú, no interior de Alagoas, foram destruídos com as cheias que atingiram a região durante o fim de semana. Em todo o Estado, 11.400 casas vieram abaixo.
Nas cidades de União dos Palmares e Branquinha (69 km de Maceió), o cenário é de terra arrasada. O nível do rio subiu pelo menos cinco metros e devastou tudo o que havia nas margens.
A lama cobriu as ruas e o asfalto soltou-se em placas. Árvores e postes foram arrancados do chão.
Bombeiros comparam o estrago nas cidades a um causado por um tsunami.
Desde sexta-feira, várias cidades estão sem água e energia elétrica. Trinta e oito pessoas morreram em Alagoas e Pernambuco.
“Perdi tudo de uma hora para outra”, disse o servente de pedreiro Nelito Ribeiro de Sousa, 32, morador de União dos Palmares (62 mil habitantes, 80 km de Alagoas). “A água veio rápido, derrubando casa por casa.”
CORPOS NO RIO
Ontem, com o rio de volta ao seu nível normal, desabrigados carregavam sacos nas costas e empurravam carrinhos de mão.
Procuravam localizar indícios de suas casas para recolher algum objeto de algum valor que não tivesse sido levado, de eletrodomésticos a botijões de gás.
Alguns montaram acampamentos nas ruas para evitar saques. Muitos aproveitaram-se da situação para recolher, principalmente, portões e fios de cobre que encontravam nos destroços.
Em União dos Palmares, nas escolas transformadas em abrigos para flagelados, famílias dividem pequenos espaços delimitados por sucata e carteiras escolares.
Sobre colchões úmidos e sujos de lama, crianças e cachorros dormem lado a lado.
Segundo a médica Angela Auto, crianças apresentam diarreia, e a gripe começa a se disseminar entre elas. Ela teme também que as águas espalhem lepstospirose.
O governo federal deve definir na próxima terça-feira o valor que será repassado emergencialmente para ajudar os Estados de Alagoas e Pernambuco no enfrentamento das enchentes.
PERNAMBUCO
A situação também era precária no sul de Pernambuco, principalmente em Palmares (a 129 km de Recife), onde o rio Una transbordou. A correnteza derrubou duas pontes, provocando a interdição da BR-101.
A pensionista Anamara da Silva, 65, relata o caos: “Tá uma fome que só Deus sabe”.
Ela conta que mesmo quem tem dinheiro não consegue comprar comida. Nos poucos lugares em que ainda há mantimentos, os preços subiram: galões de água mineral, antes vendidos por R$ 3,50, agora custam R$ 20.
“Agora, a maior necessidade é de água, comida e roupas para a população”, disse ontem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Colaboraram LUIZA BANDEIRA, de São Paulo, e LARISSA GUIMARÃES, de Brasília
FOLHA SP
Balanço divulgado na noite desta segunda-feira pela Defesa Civil de Alagoas mostra que subiu de 19 para 26 o número de mortes em decorrência das fortes chuvas no Estado. Com isso, as chuvas que atingem parte da região Nordeste já mataram 38 pessoas e deixaram 120 mil fora de casa nos Estados de Pernambuco e de Alagoas.
Alagoas é o Estado mais afetado, com o registro de mais de 80 mil pessoas fora de suas casas –26 mil desabrigadas (dependem de abrigos públicos) e cerca de 54 mil desalojadas (na casa de amigos e familiares). Ao todo, 21 cidades foram afetadas, sendo que 17 decretaram estado de emergência e 4 de calamidade pública. Além disso, 607 pessoas estão desaparecidas, sendo 500 só no município de União dos Palmares.
Os municípios que registram o maior número de desabrigados são: União dos Palmares (9.000), Murici (5.000), Rio Largo (2.000) e Viçosa (1.200). Outras cidades atingidas foram Jacuípe (250), Quebrangulo (800), Santana do Mundaú (500), Joaquim Gomes (350), São José da Lage (386), Branquinha (1.000), Atalaia (100), Cajueiro (192), Capela (300) e Satuba (200).
As chuvas em Alagoas também causaram danos ao sistema de abastecimento de água de diversas cidades. O governo aponta que os temporais também destruíram cerca de 70% das linhas férreas pertencentes à Transnordestina.
Em Pernambuco, a Defesa Civil aponta 12 mortes e mais de 40 mil pessoas fora de casa, sendo 24.331 desalojadas e 17.779 desabrigadas. Ao todo, 53 municípios foram atingidos, com destaque para as cidades de Palmares e Barreiros.
Ajuda
Hoje, o governo federal anunciou que vai liberar recursos para prestar socorro aos desabrigadas em Alagoas e Pernambuco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai liberar o saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para as vítimas das inundações. A Aeronáutica montará um hospital de campanha em Palmares (PE) para prestar atendimento às pessoas que precisam do hospital da cidade, que foi totalmente alagado.
Já o governador de Alagoas anunciou hospitais de campanha também nas cidades de Jacuípe e Santana do Mundaú. Os dois hospitais devem contar com médicos e equipes vindos do Rio de Janeiro.
Também estão sendo encaminhados para a região doações e mantimentos doados de Estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas e São Paulo. A Defesa Civil de Pernambuco informou que já distribuiu mais de 243 toneladas de donativos nas cidades atingidas.
Comentários Tags: Alagoas, catastrofes, chuvas, inundações, Pernambuco
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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