Os conflitos internos no PV e criação do PSD são expressão de um mesmo fenômeno, comum aos partidos brasileiros: o personalismo.
Criam-se e trocam-se partidos no Brasil com a mesma rapidez e facilidade com que se troca de roupa. Não é preciso sequer esperar que fiquem “sujos”, basta que fiquem “amarrotados” ou “amarfanhados” ou, no máximo, um pouco “justos”, impedindo movimentos mais largos ou bruscos de algumas de suas lideranças.
Foi assim com a criação do PSD, criado na medida dos interesses de Gilberto Kassab, em São Paulo. Havia sido assim, aliás, com a criação do PSDB, motivada pela mesma “saia justa” em São Paulo,quando o domínio de Orestes Quércia sobre o PMDB estadual limitava os interesses de Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e outros, que haviam conquistado expressão nacional, mas não conseguiam influência equivalente no controle da máquina partidária em seu próprio estado.
Também o processo de criação do PPS expressa ação personalista. Roberto Freire, que detinha o domínio nacional do antigo PCB, decretou, em congresso da sigla, sua transformação, seguindo tendência mundial naquele momento de pós-queda do império soviético e do muro de Berlim, em Partido Popular Socialista. Uma “transformação” que ignorou a vontade de uma parcela de filiados que depois ganhou na justiça o direito de manter a sigla e a existência do PCB.
Também o PSTU e, mais recentemente, o PSOL desmembraram-se do PT, alegando o abandono, pela sigla original, dos princípios que a constituíram.
À exceção do PSDB, que conquistou governos estaduais importantes como os de São Paulo, Minas Gerais e, por contingência momentânea, do Rio Grande do Sul, a tendência desses “novos” partidos é tornarem-se espécies de guetos voluntários. Abrigam minorias que, por opção própria, insistem em manterem-se como minorias e insistem em manter acirradas as disputas intestinas que corroem suas entranhas, os consomem e os impedem de crescer.
Faltam bases sociais às novas siglas fundadas, mas falta, sobretudo, disposição aos seus líderes de disputar internamente aos partidos que os abrigavam a direção política dos mesmos. Acham mais fácil juntar seus poucos adeptos e fundar nova agremiação, na convicção de que o séquito que os acompanha na nova empreitada lhes prestará fidelidade incontinente. Ledo engano.
Sem bases sociais expressivas, as lideranças das novas siglas empenham-se em disputar princípios teóricos, deixando de lado a política prática e de massas, quando não se dedicam, pura e simplesmente, a manter o controle sobre as estruturas e as burocracias partidárias.
Foi o que ocorreu anteriormente com o PSOL e é o que ocorre atualmente com o PV. Tanto Heloisa Helena, pelo PSOL, quanto Marina Silva, pelo PV, conquistaram votações expressivas como candidatas à presidenta da República, mas não conquistaram o controle político de seus partidos. Sem bases sociais militantes expressivas, seus partidos mantêm-se dominados por lideranças de gabinete, que resistem em ceder espaço aos que detêm prestígio externo, mas não detêm clientela interna suficiente para lhes garantir o controle da máquina burocrático-partidária.
As disputas internas fazem parte da vida e das características de todos os partidos políticos em todo o mundo. Elas são inerentes à disputa pelo poder, razão da existência dos próprios partidos. É preciso, no entanto, que as disputas internas possam ser resolvidas no âmbito de cada legenda, sem que a cada confronto maior ou a cada conveniência eleitoral de um pequeno grupo sejam fundados novos partidos. Sem dúvida, muito se terá que aprender ainda no Brasil até que os partidos políticos se consolidem efetivamente e suas lideranças tornem-se capazes de superar os personalismos que as caracterizam.Editorial Sul21
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