quarta-feira, 23 de março de 2011

A água é o petróleo do século 21

Pouca gente deu maior importância a um trecho da entrevista da Presidenta Dilma, semana passada, ao jornal Valor Econômico em que ela define a água como uma “diferença substantiva entre nós e os outros países”

Vou transcrevê-lo:

- Não tenho ideia de qual vai ser a política de substituição de energia. Não sei como a Alemanha, por exemplo, vai fazer. Os Estados Unidos já declararam que não vão interromper o programa nuclear. Nós não temos a mesma dependência. Temos um elenco de alternativas que os outros países não têm. A Europa já usou todo o seu potencial hídrico. Energia é algo que define o ritmo de crescimento dos países e o Brasil tem na energia uma diferença estratégica e competitiva.

Ontem, Dia Mundial da Água, deveria ser ter sido um dia marcado por este debate. A preservação e o aproveitamento econômico desta riqueza precisa entrar na ordem do dia e deixar de ser um tema tratado de forma estanque em cada um de seus aspectos: energia, ambiente, abastecimento, agricultura e via de transporte.

Temos quase 15% das reservas mundiais. Se água fosse petróleo, estaríamos apenas abaixo da Arábia Saudita em matéria de reservas, e bem acima do Irã.

E é absurdo comparar, em matéria de relevância, água a petróleo?

Temos de cuidar bem, muito bem, da exploração de um e de outro.

Dilma está certíssima em dizer que, mesmo com a abundância que o pré-sal trará, nossa matriz energética, essencialmente hídrica, não se torne baseada em combustíveis fósseis.

Mas estamos diante de um desafio e de uma oportunidade. A partir de 2015, vencem os prazos de concessão das usinas hidrelétricas. Claro que, com os investimentos amortizados por décadas de funcionamento, é esperado que o preço da energia que produzem caia.

Mas não se pode deixar que isso seja regulado pelo “mercado”, até porque isso produziria um enorme desequilíbrio econômico entre os produtores de energia “velha” que desestimularia investimentos em energia “nova”.

Este excedente, além de controlar o preço do mercado de energia elétrica, tem de ser, por ação governamental, um indutor do bom aproveitamento desta riqueza.

Tem de financiar, em condições especiais, os investimentos pesados e de longa maturação – aqueles que só o bom e velho Estado faz, não é? – e tem, ainda, de ser aplicado na recuperação e preservação destes patrimônios hídricos (e econômicos) que são nossas bacias hídricas, inclusive não apenas no aspecto ambiental, mas no humano, através do fornecimento de água aos aglomerados de população, inclusive com ações que, pela redução do custo do fornecimento evitem os níveis absurdos de perdas em projetos de irrigação que não visem apenas os grandes produtores e ao agronegócio.

A redução das disponibilidades de água leva, também, à necessidade – de exploração – e conservação – de nossos grandes aquíferos – além do já conhecido Guarani, no sul do país, o Alter do Chão, na região Amazônica – que são os maiores do mundo e não podem ser explorados sem controle.

Dilma tem o conhecimento e a experiência, por sua trajetória na área de energia – o que, no Brasil, coloca a água em primeiro plano – para entender e comandar este processo de valorização desta imensa riqueza.

Ela não pode ser encarada de forma mercantil e predatória, nem de uma maneira idílica, desligada da realidade econômico-social. Água é um mineral, nem tão finito como os outros, mas ainda assim um valor cada vez mais tangível.

A riqueza mineral, a história ensina e prova, desperta cobiça e desejo de dominação. Com a água não é e será cada vez menos diferente.

Usá-la e cuidá-la e defende-la como propriedade do povo brasileiro é um desafio que, cada dia com mais intensidade, teremos de enfrentar.











Postado por Brizola Neto

Do Blog TIJOLAÇO.COM

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