“Do fiasco da direita local ao colapso do
capitalismo global: “Embora desfrutável, a ascensão e a decadência de Kassab
devem servir de alerta. Assim como fez de uma nulidade um case eleitoral
vitorioso, a mídia poderá regenerar vampiros de maior calibre, vendendo-os como
‘gestores capazes’ (capazes do quê mais? sobrou alguma coisa a ‘indigestar’?)
Márcia Denser, Congresso em Foco
Concordo com o editorial de quarta-feira
última da Carta Maior que avalia como um grande fiasco a gestão do prefeito
paulista, Gilberto Kassab, ora em seu último ano, bancada que foi, em 2008,
pela imprensa paulista, como uma espécie de revide à reeleição de Lula dois
anos antes. Foi a manipulação desse caldo de cultura que deu ao pupilo de Jorge
Bornhausen – a fina flor da ultradireita, sujeito medíocre e dissimulado, com
falsos ares de bonzinho & certinho – mais de 60% dos votos no 2º turno das
eleições.
A conta da fraude acaba de chegar e
representa, em si, uma denúncia do jornalismo que o enfiou goela abaixo do
eleitor, abstendo-se, naturalmente, de qualquer autocrítica. Em fim de
mandato, a tal administração patrocinada pelo anti-petismo midiático carrega um
atestado de fracasso em praticamente todas as áreas sensíveis à vida da
metrópole: transportes, educação, saúde, prevenção de enchentes. Seu único
ponto forte: a parada gay – não é sintomático? (pra dizer o mínimo).
Pesquisas dos mesmos veículos que o
elevaram aos píncaros da glória, com factóides como ‘A Cidade Limpa’, indicam
que um candidato apoiado por Kassab teria hoje rejeição de 49% dos eleitores. Outros
40% classificam a sua gestão como um desastre. O bombardeio pode ser uma
advertência à criatura que ensaia voo solo com seu PSD, num momento em que o
conservadorismo se ressente de nomes e requer unidade para renovar a sua
artilharia política anti-socialóide em outubro.
Embora desfrutável, a ascensão e a
decadência de Kassab devem servir de alerta. Assim como fez de uma nulidade um
case eleitoral vitorioso, a mídia poderá regenerar vampiros de maior
calibre, vendendo-os como “gestores capazes” (capazes do quê mais? sobrou
alguma coisa a “indigestar”?). A melhor denúncia do engodo é confrontá-lo desde
já com as respostas inovadoras e criativas, que surgiram sobretudo neste último
ano – com ênfase, pela visibilidade global, da Ocupação de Wall Street –
sintonizadas com as aspirações urbanas e atentas às lições oferecidas pela
crise mundial em outras metrópoles.
Na esfera geopolítica, 2011 foi um bom ano
para a esquerda mundial sob vários ângulos, segundo Immanuel Wallerstein. As
razões fundamentais devem-se naturalmente às condições econômicas negativas que
atingem a maior parte do planeta. O desemprego, que era alto, cresceu ainda
mais. A maioria dos governos, endividados e sem grana, novamente tenta impor a
velha receita neoliberal que, a longo prazo, não dá certo para ninguém:
medidas de austeridade contra a população e de proteção em favor dos bancos.”
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