As eleições de 2006 foram realizadas sob a égide do controle das contas
de campanha e dos seus gastos. No ano anterior, o escândalo do chamado
mensalão expôs as vísceras dos vícios e indícios de crimes de
financiamento de campanha em cena no país.
Era de se esperar que os partidos tomassem mais cuidado naquela eleição
com as práticas vedadas pela legislação eleitoral. No Rio Grande do
Norte (RN), o PFL, atualmente DEM, não teve esse cuidado. É o que se
depreende dos 42 áudios de interceptações telefônicas feitas pelo
Ministério Público Estadual a que o blog teve acesso e publicou entre a
segunda-feira (21) e o domingo (27).
No âmbito de uma investigação do Ministério Público estadual, o telefone
celular de Francisco Galbi Saldanha, atualmente secretário-adjunto da
Casa Civil do governo Rosalba Ciarlini (DEM), foi grampeado. E trouxe à
luz conversas muito elucidativas, principalmente entre Galbi e Carlos
Augusto Rosado, marido da atual governadora e então candidata ao Senado
Federal.
Rosalba foi eleita em 2006, mas os telefonemas mostram esquemas de
compra de apoio de políticos, compra de votos, fraude em prestação de
contas com uso de notas fiscais frias e uma complexa rede de Caixa 2.
Por envolver políticos com o conhecido foro especial (o senador José
Agripino, a então senadora Rosalba Ciarlini e o deputado federal Betinho
Rosado), a investigação foi encaminhada pelo Ministério Público
Estadual e também pelo Ministério Público eleitoral para a Procuradoria
Geral da República (PGR), em janeiro de 2009. A PGR não conseguiu
ainda esclarecer o que foi feito da investigação desde então.
Muitas conversas explicitam, por exemplo, o uso de dinheiro vivo para
pagamento de gastos de campanha – enquanto a lei exigia o uso de cheques
vinculados às contas.
Francisco Galbi Saldanha trabalha com Carlos Augusto Rosado desde os
tempos em que o atual primeiro-cavalheiro era presidente da Assembleia
Legislativa (1981-1983).
Até indícios do envolvimento com a máfia dos sanguessugas aparecem
nessas ligações. Albert Nobrega, atual secretário de administração do
estado, pede ajuda imediatamente a Galbi por causa de umas ambulâncias
compradas pela prefeitura de Mossoró à época da máfia dos sanguessugas.
Em 2006, Nobrega era presidente da Comissão de Licitação da prefeitura
de Mossoró e é ele que diz que, sem ajuda de Galbi, “vai lascar
Rosalba”, já senadora eleita.
Ouve-se também a voz de José Agripino Maia negociando com Galbi Saldanha
o repasse de uma verba de R$ 60 mil (em três parcelas de R$ 20 mil) ao
ex-vereador natalense Salatiel de Souza.
Carlos Augusto também orienta Galbi a repassar dinheiro para o
ex-vereador de Natal, Renato Dantas (R$ 50 mil) e para o atual
presidente da Câmara Municipal de Natal, Edivan Martins (R$ 25 mil).
Tudo em troca do apoio dos políticos à candidatura de Rosalba ao Senado e
Garibaldi Filho ao governo do estado.
Outro grave crime foi confessado nos áudios: Carlos Augusto Rosado
informou à tesoureira da campanha do irmão que iria cair R$ 100 mil na
conta de campanha de Betinho. Mas o dinheiro era de Rosalba. Depois,
Carlos e Galbi tentam articular uma forma de, com uso de notas frias,
justificar a retirada do dinheiro da conta de Betinho. Utilizam-se,
inclusive, de notas frias do posto de combustível Leste-Oeste, de
propriedade do irmão caçula de Carlos Augusto. O deputado federal
Betinho Rosado é irmão de Carlos Augusto Rosado e atualmente ocupa o
cargo de secretário de agricultura.
O pequeno relato não dá conta de tudo o que está nos áudios. Mas você pode ouvir os principais:
Essas são as mais significativas. Há várias demonstrando a fraude em
notas fiscais e recibos eleitorais para justificar gastos de campanha, como esta aqui.
Daniel DantasNo De olho no discurso
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