sexta-feira, 22 de junho de 2012

A hipocrisia da pequena política

VÁRIAS CANDIDATURAS DISPUTARAM O APOIO DO PP. NENHUMA CRÍTICA FOI FEITA. MAS, QUANDO O PT CONSEGUE AMPLIAR A SUA ALIANÇA, TODO O RIGOR DA COERÊNCIA É TIRADO DAS GAVETAS E ARMÁRIOS

Edinho Silva - Brasil 247

Desde os primórdios do desenvolvimento do Estado, a política é tida como o instrumento para o avanço da sociedade. Muito sangue humano foi derramado para que a ação política substituísse a força do Estado (primitivo ou moderno) pela formação de consensos sociais.

É a capacidade de aglutinação da política, então, o grande instrumento para a construção da sociedade democrática no seu sentido mais amplo, inclusive econômico.

Outra reflexão: todos os grandes teóricos que pensaram os partidos políticos podem divergir nas concepções ideológicas e nas premissas teóricas, mas todos convergem em uma concepção: o partido não é um fim em si mesmo, ele é um instrumento de ação social.

Poderia também, aqui, resgatar o conceito de hegemonia em Gramsci. Contudo, penso que vale o registro e desnecessário o resgate. Em síntese: a parte não hegemoniza o todo, mas sim a força do consenso determina a amplitude da ação.

Esse breve resgate se torna útil para respaldar a seguinte afirmação: quanta hipocrisia nas reflexões sobre a aliança do PT com o PP na capital paulista.

Respeito a decisão de foro íntimo (firmada em uma leitura política, mas que expressa a sua visão pessoal da conjuntura e da correlação de forças na construção de um projeto de cidade, Estado e país) da deputada Luiza Erundina. Mas não posso me calar diante das opiniões provenientes do fato.

Várias candidaturas disputaram o apoio do PP. Nenhuma crítica histórica ou moral foi feita. Mas, quando o PT consegue ampliar a sua aliança, aumentando a sua capacidade de diálogo com o eleitorado, todo o rigor da coerência é tirado das gavetas e armários.

Por que a mesma crítica não foi feita antes? O PT não é o único partido que tem lideranças que lutaram pela democratização do Brasil. Vale aqui relembrar que quando houve a aproximação do PSD à pré-candidatura de Haddad presenciamos o mesmo fenômeno. A quem interessa a limitação política do PT?

Ninguém viu pela imprensa o Partido do Trabalhadores "abrindo mão" de suas concepções programáticas para ampliar a política de alianças. Estamos, sim, buscando a construção de uma coalizão partidária.

Queremos apresentar ao complexo eleitorado paulistano propostas concretas para fazer de São Paulo não só uma cidade rica, mas também socialmente justa e sustentável. A mesma coalizão que sustentou o governo Lula e sustenta o governo Dilma, que criou as condições políticas para a maior transformação econômica e social da nossa história, tem de ser perseguida na cidade de São Paulo.

O PT é um partido que amadureceu e sabe do seu papel histórico, sabe das suas responsabilidades. Queremos ser o partido em São Paulo que tenha a capacidade de ajudar a constituir coalizões, de formar consensos, de transformar sentimentos e desejos da sociedade em ideias hegemônicas.

Sabemos da complexidade da sociedade paulistana e paulista, mas também sabemos que é possível oferecer, agora em 2012, à população da cidade de São Paulo o mesmo projeto que transforma o Brasil.

Em tempo e sem hipocrisia, vamos debater também a imoralidade das enchentes que humilham as famílias paulistanas, o inaceitável trânsito e transporte público, a caótica saúde, a desorganizada educação, a conservadora política de segurança pública. Vamos debater o que move a candidatura de Haddad e a necessária coalizão política.

Resgatando a concepção pedagógica de Paulo Freire quando trata do dialogo e conflito, em uma frase bastante utilizada pelo presidente Lula: "Vamos juntar os diferentes para vencermos os antagônicos".

EDINHO SILVA, 47, sociólogo, é presidente do PT do Estado de São Paulo e deputado estadual

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