06/08/2009 - 15:52 - Atualizado em 07/08/2009 - 18:17
No Época
O senador Álvaro Dias, um dos que mais cobram transparência, não declarou R$ 6 milhões à Justiça
OPACO Álvaro Dias, no Senado, e as casas que ele está construindo em Brasília com o dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral |
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) é um dos que mais usam o palanque para
exigir transparência do governo e de seus adversários. Mas, quando o
assunto são suas próprias contas, ele não demonstra ter os cuidados que
tanto cobra. Em 2006, Dias informou à Justiça Eleitoral que tinha um
patrimônio de R$ 1,9 milhão dividido em 15 imóveis: apartamentos,
fazendas e lotes em Brasília e no Paraná. O patrimônio de Dias, no
entanto, era pelo menos quatro vezes maior. Ele tinha outros R$ 6
milhões em aplicações financeiras.
O saldo das contas não declaradas de Álvaro Dias foi mostrado a ÉPOCA
pelo próprio senador, inadvertidamente, quando a revista perguntou sobre
quatro bens em nome da empresa ADTrade, de sua propriedade, que não
apareciam em sua declaração à Justiça Eleitoral. Para explicar, ele
abriu seu sigilo fiscal. Ali, constavam os valores das aplicações.
A omissão desses dados à Justiça Eleitoral é questionável, mas não pode
ser considerada ilegal. A lei determina apenas que o candidato declare
“bens”. Na interpretação conveniente, a lei não exige que o candidato
declare “direitos”, como contas bancárias e aplicações em fundos de
investimento.
No Congresso, vários parlamentares listam suas contas e aplicações aos
tribunais eleitorais, inclusive o irmão de Álvaro, o também senador
Osmar Dias (PDT-PR). Osmar declarou mais de R$ 500 mil em aplicações e
poupanças. Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) listou quase R$ 150 mil
depositados. Francisco Dornelles (PP-RJ) informou R$ 1,5 milhão em
fundos de investimento. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA),
atual alvo de uma série de denúncias, declarou quase R$ 3 milhões da
mesma forma. Há poucos dias, Sarney foi denunciado por não ter informado
à Justiça Eleitoral a respeito da casa que mora em Brasília.
Na interpretação de dois dos maiores especialistas de Direito eleitoral,
Fernando Neves e Eduardo Alckmin, o espírito da lei é de transparência:
“É conveniente que o político declare contas bancárias e aplicações
financeiras para que o eleitor possa comparar o patrimônio no início e
no fim do mandato”, diz Neves. “Não há irregularidade, mas é importante
para evitar confusões no caso de um acréscimo patrimonial durante o
mandato”, afirma Alckmin.
Álvaro Dias diz que o dinheiro não consta em sua declaração porque
queria se preservar. “Não houve má intenção”, afirma. Em conversas
reservadas, ele tem dito que o objetivo da omissão era manter a
segurança de familiares.
O dinheiro não declarado de Álvaro Dias, segundo ele, é fruto da venda
de uma fazenda de 36 hectares em Maringá, Paraná, por R$ 5,3 milhões. As
terras, presente de seu pai, foram vendidas em 2002. O dinheiro rendeu
em aplicações, até que, em 2007, Álvaro Dias comprou um terreno no Setor
de Mansões Dom Bosco, em Brasília, uma das áreas mais valorizadas da
capital. No local, estão sendo construídas cinco casas, cada uma
avaliada em cerca de R$ 3 milhões.
Quando as casas forem vendidas, o patrimônio de Álvaro Dias crescerá
ainda mais. Nada ilegal. Mas, a bem da transparência, não custa
declarar.
Matheus LeitãoNo Época
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