Fernando Haddad
De uns tempos para cá, nossa cidade
ficou para trás, longe do ritmo geral da nação -a atual gestão não fez o
que era preciso contra a desigualdade
Se for eleito prefeito de São Paulo,
meu objetivo central será diminuir a distância que separa a cidade rica
da cidade pobre. Hoje, vivemos numa cidade desequilibrada. Sofremos com
a falta de planejamento urbanístico. Não temos grandes obras gerando
transformação e trabalho. Não temos soluções criativas.
Nos livros de urbanismo, São Paulo
só aparece como referência negativa. E a verdade é que merecemos mais
que isso. Quero recuperar a autoestima desta cidade cheia de energia e
de criatividade, com sua extraordinária capacidade de sonhar e de
realizar sonhos.
São Paulo como que carrega 31
cidades dentro de si. Cada subprefeitura tem mais de 300 mil habitantes.
Mas, de uns tempos para cá, estamos ficando para trás. Não estamos
acompanhando o ritmo geral da nação. Não estamos contribuindo como
poderíamos para o desenvolvimento do país. Não estamos exercendo nossa
liderança nem ativando nossas vocações de vanguarda.
Nossos indicadores sociais retratam
uma realidade perversamente desigual. Falam de uma cidade com pontos
altos no centro expandido, que vão declinando à medida que nos
aproximamos dos bairros mais distantes.
As regiões central, oeste e o início
das zonas sul e leste concentram os empregos, os melhores hospitais, as
melhores universidades, a renda, a infraestrutura urbana e as
oportunidades. Mas não são as mais populosas. As seis subprefeituras do
centro expandido contam com 64,1% dos empregos e 17,1% dos habitantes do
município. As demais têm 82,9% dos habitantes e só 35,9% dos empregos.
As regiões menos desenvolvidas são
também aquelas em que a desigualdade gera mais violência. Embora o Plano
Diretor Estratégico de Marta Suplicy já tivesse apontado essa realidade
e indicado ações e instrumentos para enfrentá-la, a atual administração
não fez o que era preciso em matéria de desenvolvimento regional.
Nosso modelo de desenvolvimento
continua concentrador e excludente. Se a cidade vem acompanhando o
crescimento econômico do país, o mesmo não se pode dizer da distribuição
da riqueza e de nossa situação socioterritorial.
A dimensão social não tem recebido a
atenção necessária. Com isso, as regiões ricas ficam mais ricas e as
pobres permanecem pobres.
Esse desequilíbrio explica por que
São Paulo enfrenta graves problemas de mobilidade, como ruas
congestionadas e trabalhadores gastando horas no trânsito. Se não
superarmos o desequilíbrio, a distância entre moradia e emprego, outros
problemas também não terão solução.
Sei que o que me espera, caso
eleito, é um tremendo desafio. E vamos enfrentá-lo. O prefeito de São
Paulo tem de ser o catalisador de todos aqueles que querem caminhos
novos e soluções. De todos os que estão dispostos a se engajar num
grande projeto de transformação social.
Se vejo a prefeitura como
instrumento dessa transformação, sei também que isso só será alcançado
com uma administração baseada no planejamento e na definição de metas de
resultados. Trago um plano de governo claro e viável, que nasceu de
conversas e discussões com a cidade. Milhares de pessoas participaram
dos seminários Conversando com São Paulo. Das caravanas e debates por
vários bairros e comunidades, num belo exemplo de compromisso cívico e
citadino.
A cidade mais humana que pretendemos
construir será boa para ricos e pobres. Não aceitamos mais uma São
Paulo partida, com baixa qualidade de vida e uma população amedrontada
pela violência. Queremos uma São Paulo unida e à altura de sua grandeza.
Fernando Haddad ,
49, é mestre em economia, doutor em filosofia e professor licenciado da
USP. Foi ministro da Educação (2005-2012, governos Lula e Dilma)
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